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07/08/2005 - 21h10
David Pogue: "Britney para alugar ou comprar"

David Pogue

A Internet tem sido descrita, por entusiastas, como uma conversa global, uma enciclopédia gigante ou um serviço de notícias 24 horas --e por detratores como o desperdiçador de tempo tecnologicamente mais avançado do mundo. E o que irrita os executivos da indústria fonográfica é quantas pessoas a vêem como uma loja de música gratuita.

Mas uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, no final de junho, poderá eventualmente colocar uma placa de "fechado" nesta loja. Na decisão MGM Studios contra Grokster, a corte determinou que os autores de software como o Grokster, que permite que os usuários de Internet localizem e copiem músicas uns dos outros, podem ser processados por seu papel no encorajamento da violação de direitos autorais. Os advogados das gravadoras agora têm luz verde para tentar fechar serviços de troca de arquivos.

Usar o Grokster, ou serviços semelhantes como o Kazaa, sempre traz um grau de risco, de infecção de vírus de computador e spyware. Ser processado --uma tática freqüente da indústria fonográfica-- também não é o ponto alto do dia de ninguém. E agora os tribunais estão sendo envolvidos. O que resta a um fã de download de música, pagar por ela?

Se chegar a isto, eles descobrirão que muita coisa mudou no ramo de música online desde que a Apple abriu sua extremamente bem-sucedida iTunes Music Store, de uma música por um dólar, em 2003. De lá para cá, o catálogo da Apple cresceu de 200 mil canções para quase 1,5 milhão. A Apple já vendeu meio bilhão de canções e foi seguida por lojas semelhantes dirigidas pela Microsoft, Yahoo, Sony, Real Networks, MusicMatch, Dell e até mesmo o Wal-Mart.

O essencial é o mesmo para todos: cada música custa cerca de US$ 1 (R$ 2,31), cada álbum US$ 10 (R$ 23,10). Cada música é encriptada de tal forma que você só pode copiá-la em cinco computadores, queimá-la em vários CDs e copiá-las para music players --mas não pode distribui-las pela Internet.



O insanamente popular iPod music player e a iTunes Music Store, para Mac e Windows, ainda só funcionam um com o outro. A maioria das músicas das outras lojas vem em formato Microsoft que funciona em music players menos populares. Você pode identificar estes anti-iPods pelo logotipo em suas caixas, evidentemente composto por um PC com uma barra de espaço quebrada, que diz "PlaysForSure" (garantia de tocar).

Mas o "dólar por música" não é mais o único esquema disponível. Em um esforço para explorar a popularidade dos downloads de música e ainda ganhar dinheiro, as lojas começaram a mudar a fórmula.

Uma alternativa interessante é um plano de assinatura que permite um número ilimitado de downloads, oferecido atualmente pelo Napster, Yahoo e Rhapsody. (Todos também mantém um serviço tradicional de US$ 1 por música.) Microsoft, Target, MTV e AOL também anunciaram planos para entrar neste modelo de assinatura, e até mesmo há rumores de que a Apple está interessada.

O conceito sedutor: em vez de comprar músicas uma de cada vez, pague uma taxa mensal pelos direitos de todo o acervo de um milhão de canções. No plano Napster to Go, por exemplo, você pode encher seu computador e seu music player portátil repetidas vezes, com quanta música quiser, por US$ 15 (R$ 34,65) por mês.

Infelizmente, há letras miúdas suficientes no contrato para encher uma lista telefônica. A maior nota de rodapé é que se você deixar de pagar a taxa, não restará nada além de lembranças; toda a música se autodestruirá. Você não está comprando as músicas de acordo com o plano --está apenas alugando. (Um famoso anúncio do Napster diz que encher um iPod, por US$ 1 a música, custaria US$ 10 mil (R$ 23,1 mil). Mas você também poderia dizer que, segundo o plano do Napster, escutar uma canção favorita por 20 anos lhe custaria US$ 3.600 (R$ 8.316).)

Relativamente poucos players portáteis podem tocar músicas no formato por aluguel. A esta altura, não há aviso na caixa que pode ajudá-lo; você precisa checar a lista de compatibilidade no site do serviço de música. O player deve ser conectado ao seu PC uma vez por mês para que ele possa perguntar à nave mãe se você ainda é um cliente pagador. Note também que tal taxa mensal não inclui o direito de copiar as músicas em um CD para tocar, por exemplo, no seu carro; isto custaria uma taxa adicional de 80 centavos (R$ 1,848) a US$ 1 por música.

Mesmo assim, estas opções de música por aluguel são altamente proveitosas para explorar e descobrir novas músicas. São ideais se seu gosto pende para o que um gaiato de Internet chama de gênero Contemporânea Descartável. "Tipo, se você gosta do novo trabalho da Britney e adora o novo CD do Usher neste mês, mas no mês seguinte eles já serão velhos e você não vai mais querer escutá-los. Você agora estará interessado no nova trabalho da Lohan e apaixonado por P.O.D."

Colocando de outra forma, a opção de aluguel parece mais atraente se você as considerar um serviço, como TV a cabo ou rádio por satélite, em vez de lojas. Como o rádio por satélite, você só recebe música enquanto for um assinante. Você paga US$ 3 adicionais por mês do que custa uma rádio por satélite, mas você escolhe as músicas. (Mas mesmo as lojas online com maior catálogo não incluem canções de Madonna, Beatles e outros grupos que se recusaram a disponibilizar seu catálogo, e algumas outras canções também são restritas.)

Independente de qual abordagem você escolha --a la carte ou rodízio-- você pode economizar bastante dinheiro pesquisando. O Yahoo, por exemplo, oferece os dois tipos de planos --compre a música ou aluguel ilimitado-- mas supera consideravelmente o preço de seus rivais. A taxa mensal para o plano de aluguel ilimitado é de US$ 7 (R$ 16,17) por mês, ou US$ 60 (R$ 138,60) por ano, pago antecipadamente. (Estes são preços iniciais, apesar do Yahoo dizer que quando anunciar o preço real, permanente, ele será "substancialmente" mais alto.) Se você quiser comprar uma canção ou queimá-la em um CD, você pagará 79 centavos (R$ 1,824) adicionais por cada.

Os analistas calculam que até mesmo a Apple, rainha do mercado de música online, fica com apenas poucos centavos de cada música vendida; o restante vai para as gravadoras. Como o Yahoo pode ganhar dinheiro vendendo as mesmas músicas por 79 centavos (R$ 1,824) cada, ou alugando seu catálogo por um terço da taxa do Napster e do Rhapsody?

O Yahoo não diz, mas seus rivais afirmam que a empresa está perdendo dinheiro em cada venda na esperança de atrair clientes e promover outros serviços. ("Não é preciso ser gênio para vender um dólar por 50 centavos", resmungou um porta-voz de uma concorrente.)

Além disso, o software de música do Yahoo é espertamente integrado ao programa de bate-papo Yahoo Messenger; quando você está passando mensagens instantâneas para seus amigos, você pode ver quais músicas do Yahoo Music eles estão escutando -e se ambos forem assinantes, eles podem mandar as músicas diretamente para você.

O Rhapsody.com oferece um programa que deve ser igualmente tentador para os sovinas: o Rhapsody 25. É um plano gratuito que permite que você escute 25 canções por mês, na íntegra.

Claramente, o objetivo é persuadir novos clientes a experimentarem o software de loja de música/jukebox do Rhapsody. Você só pode escutar estas canções no computador; não dá para queimá-las em um CD ou transferi-las para um player portátil. Mas mesmo 25 músicas por mês podem dar ao ouvinte casual uma boa idéia do que está acontecendo na música pop.

Os planos pagos do Rhapsody também valem a pena ser investigados por outro motivo. Como o de seus rivais, o software do Rhapsody permite que você escute estações de rádio de Internet no computador. Mas apenas o Rhapsody permite que você determine e que toca na sua estação de rádio pessoal.

A loja de música do Wal-Mart nunca teve muita participação de mercado, apesar de seu preço de 88 centavos (R$ 2,032) por música. Um dos motivos é que seu acervo de músicas é consideravelmente menor do que a de seus rivais: 600 mil músicas contra 1,2 milhão ou mais. Mas a empresa oferece uma opção inteligente para os preguiçosos e tecnologicamente tímidos: ela queimará um CD sob medida para você. Você escolhe as músicas, na ordem que você quiser, e o Wal-Mart o queimará e enviará para você, completo com rótulo e caixa. (Preço: US$ 4,62 (R$ 10,67)por três músicas, 88 centavos (R$ 2,032) por música adicional, US$ 2 (R$ 4,62)para envio.)

Será que algumas destas abordagens serão suficientes para saciar a sede musical de milhões que, no momento, conseguem suas músicas gratuitamente em serviços de troca de arquivos? A tendência está mudando, mas apenas infinitesimalmente. Apesar de todo o sucesso da Apple em vender música online, um recente estudo do NPD Group, uma empresa de pesquisa de mercado, disse que quase 10 vezes mais música online é trocada do que comprada.

Se a decisão Grokster não mudar a forma como as coisas andam, a indústria fonográfica terá que considerar soluções mais radicais, como inserir no arquivo de cada canção um número de série. Desta forma, os clientes poderão copiar livremente suas canções para uso pessoal, mas evitarão postá-las online por temer serem caçados. Ou talvez as gravadoras devam lançar arquivos de música de menor qualidade, gratuitos, na Internet. Os fãs de música poderão descobrir novas bandas e álbuns usando o Grokster, mas terão que pagar pelas versões de melhor qualidade dos seus favoritos.

Mas uma coisa já está clara: o negócio de música por download ainda está em sua infância. Poderá levar anos para que as lojas de música resolvam seus problemas remanescentes --complexidade do software, preços altos e buracos em seus catálogos de música-- antes que a indústria fonográfica possa pensar na Internet sem estremecimento.

Tradução: George El Khouri Andolfato


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