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02/09/2005 - 14h11
David Pogue: "Um passo de bebê na direção de fotos Wi-Fi"

David Pogue

De vez em quando, alguém combina duas tecnologias em um único produto novo, e o resultado é uma triunfante nova categoria que muda a indústria. Relógio + rádio. Celular + câmera. Music player + disco rígido.

Nikon via The New York Times
Nikon via The New York Times
Câmera digital Nikon Coolpix P1; veja a imagem ampliada
Mas, de todas as combinações possíveis atualmente, poucas são mais gritantemente óbvias do que a Internet sem fio + câmera. Milhões de pessoas já tiram fotos com seus celulares e, então, alegremente as enviam por e-mail e as publicam em sites na Internet.

Mas por que você ficaria satisfeito as com fotos ordinárias, de baixa resolução e desbotadas dos celulares? Por que você não pode ter a mesma diversão com fotos realmente boas, com câmeras realmente boas?

Finalmente isso aconteceu. A Kodak anunciou sua câmera EasyShare-One com conexão Wi-Fi em janeiro, mas seu lançamento foi várias vezes adiado. E aquela que deveria ser a segunda câmera Wi-Fi a chegar ao mercado, agora passou a ser a primeira: a nova Nikon P1, que chegará às lojas em 15 de setembro (nos EUA).

Ela é uma câmera do tamanho de um iPod, de oito megapixels, envolta em metal escovado preto, com um preço de lista de US$ 550. (O outro modelo, o P2, é uma versão prateada, de 5,1 megapixels, com preço de lista de US$ 400. Os preços online serão bem mais baixos assim que as câmeras chegarem de fato às lojas.)

A P1 é tão pequena que você não imaginaria que ela contém um transmissor Wi-Fi para rede sem fio, também conhecido como AirPort ou 802.11; apenas uma pequena janela plástica em um lado (que permite a saída do sinal do corpo de metal) entrega o segredo. É claro, o Wi-Fi só é útil quando você está dentro do alcance de um hot spot como, por exemplo, um saguão de hotel, um café ou uma sala de espera de aeroporto. Uma câmera Wi-Fi não permite que você circule tão livremente quanto as câmeras de celulares.

Mas a adição de Wi-Fi a uma câmera digital oferece algumas possibilidades atraentes. Você pode tirar fotos sem a necessidade de ter um cartão de memória; a câmera pode enviá-las remotamente ao seu laptop que está esperando. Você pode postar as fotos em seu próprio site ou site de galeria de fotos, como o Flickr.com, enquanto ainda estão recém-saídas do sensor.

Fotojornalistas poderiam mandar por e-mail suas futuras fotos premiadas aos editores diretamente do campo de batalha (desde que, é claro, um café Starbuck com Wi-Fi esteja próximo do campo de batalha). Tudo isso e mais aguarda os consumidores que adotarem a primeira câmera digital plenamente Wi-Fi. Infelizmente, a Nikon P1 não é ela.

Incrivelmente, a P1 não consegue se conectar à Internet, mesmo quando seu indicador de sinal Wi-Fi exibe mais barras que um presídio federal. Você não pode mandar as fotos por e-mail ou postá-las em um site. Você não pode mandar fotos da câmera para um celular ou palmtop, e nem mesmo para outra P1.

Então para que serve?

A função sem fio da P1 só serve para um único truque: enviar fotos pelo ar para um Mac ou um computador com Windows que esteja a menos de 30 metros de distância e rodando um programa de gerenciamento de fotos da Nikon. (Essa mesma configuração permite que você envie fotos diretamente para a impressora. E se você comprar o adaptador de impressora sem fio da Nikon, por US$ 50, que deverá ser lançado no final de outubro, você poderá enviar as fotos diretamente para a impressora sem o envolvimento do computador.)

Bom, enviar uma foto sem fio para um computador do outro lado da sala é um truque legal. Mas honestamente -isto é um avanço significativo em comparação a plugar o cabo USB da câmera da forma tradicional?

Em uma situação, sim. A P1 oferece vários modos de transferência sem fio. Um transmite as fotos mais recentes, outro envia as fotos que você ainda não transferiu, e assim por diante. Mas um modo, chamado Shoot & Transfer (fotografar e transferir), faz algo realmente novo: quando você tira a foto, a câmera a envia pelo ar ao seu laptop, onde ela ficará guardada em segurança no seu disco rígido. Dependendo da qualidade e resolução da foto que você selecionou, esta transferência poderá levar de 15 segundos (fotos melhores e maiores) até cerca de um segundo (um megapixel ou menor).

O modo Shoot & Transfer pode ser útil de várias formas. Ele se evita totalmente o cartão de memória da câmera, de forma que funciona mesmo se você estiver sem o cartão ou se ele estiver cheio.

Na prática, seu laptop sem fio se torna o cartão de memória -sim, o maior e mais pesado do mundo, mas também o de maior capacidade. Com o laptop aberto em sua mochila, você pode caminhar pela selva --a Amazônia, urbana ou outra-- tirando fotos livremente, sem se preocupar em ficar sem capacidade ou danificar o frágil cartão de memória.

O Shoot & Transfer também funciona bem no modo de lapso de tempo do P1. Você não precisa se preocupar em perder a saída da borboleta do casulo porque o cartão de memória está cheio.

Mas a melhor característica do Shoot & Transfer é um verdadeiro truque de salão. Em uma festa, conferência ou qualquer outro encontro social, você pode iniciar um show de slides em seu Mac ou PC, completo com música. Então você pode caminhar pela sala, tirar fotos dos convidados ou participantes. Estas fotos podem entrar no show de slides já em andamento, automaticamente, em tempo real. Uma arte performática de câmera digital. A melhor parte é tirar fotos dos rostos surpresos das pessoas ao perceberem o que você está fazendo --com estas fotos passando a fazer parte do próprio show.

Como câmera compacta, a P1 está carregada; a Nikon corretamente presumiu que o tipo de geek que se interessaria por uma câmera Wi-Fi provavelmente também apreciaria controle manual do ISO (sensibilidade de luz), abertura e velocidade do obturador, exposição e outros controles fotográficos.

Mas a P1 também oferece muitas características amigáveis ao consumidor como presets de cena, filmes soberbos com som (30 quadros por segundo, o tamanho de uma tela de TV) e o celebrado modo macro da Nikon, que permite que você tire fotos a apenas 4 centímetros do tema da foto. A tela é clara, brilhante e imensa --2,5 polegadas-- que a Nikon espera que atenuará o impacto quando você perceber que não há visor óptico.

As fotos são muito boas. Você não as confundirá com fotos de revista, mas para uma câmera de consumo de bolso, elas são acima da média. (Você pode ver amostras na página nytimes.com/circuits.)

Mas a Nikon tem muito trabalho pela frente com o elemento Wi-Fi. A câmera não pode se conectar a um computador ou impressora até você instalar o software em seu computador, conectar a câmera pelo cabo USB, passar por uma série de telas de configuração e dar nome à sua conexão (ou, como a Nikon a chama, seu perfil; a câmera pode memorizar nove deles).

Este processo é bem mais técnico e recheado de jargões do que precisaria; na verdade, todo o ritual devia ser desnecessário. Por que a P1 não pode detectar automaticamente e se conectar automaticamente na rede sem fio da mesma forma que palmtops e laptops?

Este processo de configuração descarta até mesmo outra vantagem potencial do Wi-Fi: atender ao pedido de foto de alguém no sala de espera do aeroporto ou da reunião de negócios. Em vez de dizer: "Claro, estou mandando para você", você terá que dizer: "Claro, estou com o CD da Nikon aqui. Me deixe instalar este pacote de programas de 230 megabytes em seu disco rígido, conectar o cabo USB, criar um perfil e depois volte aqui!"

A P1 tem muito para recomendá-la como câmera digital. Ela é compacta, tem muitas funções e as fotos são boas. É claro, você poderia dizer o mesmo de muitos modelos quase idênticos da Nikon que carecem das funções Wi-Fi, mas custam cerca de US$ 150 ou menos.

Mas sem a capacidade de se conectar na Internet ou estabelecer conexões casuais, em trânsito, nas redes sem fio, a P1 é uma oportunidade perdida do tamanho da Nova Escócia. A P1 pode ser um avanço em engenharia, mas por ora, ela apenas vibra a terra em vez de sacudi-la.

Tradução: George El Khouri Andolfato


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