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22/09/2005 - 20h42
David Pogue: "Vídeo direto para o computador"

David Pogue

De vez em quando, a humanidade acorda, olha-se no espelho e percebe que está desperdiçando muito esforço fazendo as coisas à moda antiga apenas por tradição. Do primeiro homem das cavernas que colocou um punhado de troncos sob algo pesado para rolá-lo ao gênio que carregou quatro vezes mais suco de laranja em um caminhão ao condensá-lo primeiro, a história está cheia de momentos "Ahá!" que promovem o avanço da sociedade.

JVC/The New York Times
The New York Times
Câmera JVC da série Everio G
A JVC acabou de ter um destes momentos quando olhou para a forma como as pessoas estavam usando suas câmeras de vídeo. "Vamos endireitar isto", disse a entidade corporativa (eu estou parafraseando aqui). "As pessoas compram fitas para colocar em suas câmeras. Elas enchem a fita, então a rebobinam e a passam para um computador -o que leva uma hora por fita- para que possam editá-la e queimá-la em um DVD. Ou talvez comprem uma daquelas câmeras que gravam diretamente em DVDs em miniatura, que são muito caros, gravam apenas 20 minutos de vídeo e não podem ser facilmente editados no computador."

O momento "Ahá!" ocorreu quando a JVC olhou para o iPod. Por quê,
a JVC se perguntou, nós ainda estamos gravando em fitas e discos se podemos gravar diretamente em um disco rígido minúsculo como os do iPod? A câmera poderia guardar horas e horas de vídeo, e você nunca teria que comprar outra fita ou DVD virgem especializado.

O resultado deste "brainstorm" foi a nova série Everio G: câmeras de vídeo minúsculas, leves e de preço razoável que contêm discos rígidos em miniatura como os do iPod. Há quatro modelos ao todo, variando da GZ-MG20 até a GZ-MG50. As diferenças estão nos preços (de US$ 750 a US$ 800, em lojas online só para os EUA), sensibilidade à luz, capacidade do disco rígido (20 ou 30 gigabytes), poder das lentes de zoom (15X ou 25X), resolução das fotos de baixa qualidade (0,3 ou 1,3 megapixel). Nenhuma delas usa fita ou DVD.

O disco rígido armazena de cinco a sete horas de vídeo de alta qualidade -o suficiente para uma viagem. A tela de 2,5 polegadas exibe cada tomada como uma imagem thumbnail (ou como uma entrada em uma lista cronológica), de forma que pode acessar diretamente qualquer coisa filmada sem ter que recuar ou avançar. Você também pode elaborar até 99 listas de execução de vídeo (cenas selecionadas que serão exibidas em uma certa ordem). E quem entre nós a certa altura, acidentalmente ou não, já gravou por cima de algo importante em uma fita de vídeo? (Oh, me desculpe -assunto delicado.) Na câmera com disco rígido isto é impossível.

Diferente das câmeras Everio MC200 da JVC, que possuem cartões de disco rígido removíveis, de baixa capacidade, o disco da Everio G é permanente e interno. (Ele é montado em um suporte de gel para maior resistência a
choques, e usa um sensor de movimento estilo laptop para proteger o disco de trancos repentinos.) Assim que está cheio, é o fim; a câmera deixa de operar até que algum espaço de disco rígido seja liberado.

Você pode fazer isto apagando algumas cenas, usando a tala de conteúdo. Você pode exibir os vídeos na TV (a câmera possui conexão tanto do tipo RCA quanto S-video) e gravá-los com um videocassete ou gravador de DVD, e então apagar os originais.

Mas você deveria transferir o vídeo diretamente para um computador,
editá-lo, e talvez queimá-lo em um DVD. Quando você chegar neste ponto, esta câmera não faz muito sentido para pessoas que não têm hábito de editar seus próprios vídeos em um computador.

Mas se você é uma daquelas pessoas que gostam de controlar meticulosamente todo o processo criativo, a Everio G oferece dois enormes benefícios sobre as transferências de vídeo para um computador a partir de uma câmera baseada em fita. O primeiro, a transferência é cerca de quatro vezes mais rápida, porque os arquivos de computador são copiados em vez de executados em tempo real. O segundo é que a câmera se conecta ao computador por um cabo USB 2; ela não exige um cartão FireWire, como a maioria das câmeras digitais. (Todos os Macs já vêm dotados de FireWire, mas é uma opção de custo adicional na maioria dos PCs.)

Mas é aqui onde a Everio G enfrenta problemas. Ela aparece no Mac ou PC como um ícone de disco externo. Assim que você o abre, você precisa encontrar os arquivos de vídeo e copiá-los manualmente para seu computador; boa sorte com isto. Em um mundo onde tanto o Mac OS X quanto o Windows XP permitem longos nomes de pasta como "Olhe AQUI dentro para achar os arquivos de filme que você gravou com sua nova câmera JVC Everio G baseada em disco rígido", por que raios a JVC nomeia os arquivos MOVOOA.MOD e os esconde dentro de uma pasta chamada PGM001 dentro de outra pasta chamada SD-MOV?

Se você conseguir encontrar os arquivos apropriados, você deve arrastá-los para o disco rígido de seu computador, usando uma técnica que o medíocre manual da JVC chama de "drug and drop" ("droga e solta", em em vez de "drag", "arrasta"). Infelizmente, os arquivos são em um formato MPEG-2, que visa ser executado, não editado; programas populares de edição de vídeo como iMovie e Premiere Elements não podem abri-los. (Este lance de gravar arquivos MPEG-2 é uma tendência infeliz entre as câmeras sem fita, incluindo as câmeras que gravam direto para DVD. Poderá levar algum tempo até que os programas de edição se atualizem.)

Para resolver este problema, a JVC inclui um software de edição na caixa. Para Windows, há um conjunto de três programas que oferecem tanto edição quanto a queima em DVD. Eles foram licenciados de uma empresa chamada CyberLink -de forma que não foram projetados especificamente para esta câmera- e a vida seria mais simples se fosse necessário apenas um programa em vez de três. Ainda assim, o programa funciona bem e com facilidade, e explora uma vantagem importante desta câmera: os filmes passam da câmera para um DVD editado sem a conversão de formato de arquivo, que diminui a qualidade. (O formato MPEG-2 da câmera é o formato padrão dos DVDs.)

Para Mac OS X, você tem uma monstruosidade chamada Capty MPEG Edit EX, que alega permitir a edição de arquivos de vídeo, mas exige um módulo de custo adicional para queima em DVD. Com suas telas de ajuda repletas de jargões e interface hostil ao usuário, o Capty está entre os piores programas já desenvolvidos para Macintosh. Realmente "Drug and drop".

A dor da situação da edição é que ela desfaz grande parte dos méritos da câmera em si. Em seu ajuste de maior qualidade, o vídeo é muito superior ao VHS, e o som é muito bom. Mas o vídeo não chega perto da clareza e fidelidade de cor das câmeras com fita MiniDV e, não tem, como alega a JVC, "qualidade de DVD". Ainda assim, muita gente ficará feliz com o peso leve desta câmera (312 gramas), tamanho compacto (6,6 X 10,9 X 7,1 cm) e sete horas de tempo de gravação.

A Everio G carece de entrada de microfone, entrada de fone de ouvido e -mais alarmante- um visor. Assistir pela tela dobrável é a única forma de ver o que você está filmando. (Felizmente, ela se mantém clara mesmo sob a luz do sol.) Por outro lado, esta câmera oferece duas características novas inexistentes nos modelos rivais. Por exemplo, a câmera pode ser ajustada para se desligar quando a tela é fechada, e ligar novamente quando é aberta -uma simplificação óbvia que economiza tempo. A câmera até mesmo oferece um led "luz de vídeo" na frente, apesar de seu alcance ser tão pequeno que só deve ser usada em tomadas próximas do nariz, ao estilo "Bruxa de Blair".

Para pessoas que gostam de editar seus próprios filmes e queimá-los em DVD no computador, a Everio G é um modelo de eficiência. Ela economiza dinheiro, porque seus custos operacionais são zero (nada de fitas ou discos). Economiza tempo, porque você pode transferir o vídeo para o Mac ou PC rapidamente. E economiza equipamento, porque se seu PC já tem um gravador de DVD, você não está pagando por uma segunda unidade inserida em sua câmera.

Mas como o processo de transferência e edição é tão confuso, a Everio G acaba sendo mais adequada para um público específico: pessoas com aversão suficiente a tecnologia que vão querer a câmera mais fácil de usar do mundo, mas interessadas o suficiente em tecnologia para superar seu desajeitado obstáculo de importação de vídeo. Poderá ser necessário mais um momento "Ahá!" para a JVC perceber e corrigir esta contradição.

Tradução: George El Khouri Andolfato


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