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13/07/2006 - 18h40
David Pogue: Duas câmeras que quebram algumas regras

David Pogue

A tecnologia muda tão rápido que é de grande alívio mental quando você encontra uma regra absoluta que nunca mudará.

Você sabe, como: "O que você comprar hoje parecerá caro demais e subdesenvolvido demais no próximo ano" ou "A próxima versão do Windows será maior que a anterior".

Duas dessas regras antigas acabaram de desmoronar no mundo das câmeras digitais baratas SLR (single lens reflex). As SLRs são maiores e mais pesadas que as câmeras de bolso que a maior parte das pessoas compra, mas são fotograficamente superiores em todos os aspectos. Elas ligam instantaneamente, tiram fotografias de qualidade impressionante, têm zero de atraso do obturador, podem tirar três fotografias por segundo, oferecem infinito controle manual (equilíbrio de branco, exposição e assim por diante), aceitam um catálogo de lentes e passam dias ou semanas sem precisar recarregar a bateria.

A primeira regra a cair: "A tela posterior da SLR é apenas para ver fotografias, não para compô-las. Para enquadrar uma foto, você tem que segurar a câmera nos olhos."

A nova Olympus de 7.5 megapixels Evolt 330 (US$ 960, ou R$ 2.100, com lente) é a primeira SLR digital cuja tela fica "viva" enquanto você compõe a foto, pelo tempo que você quiser.

A segunda regra a desmoronar: "Os quatro competidores no mercado de US$ 1.000 ou menos de câmeras digitais SLR são Canon, Nikon, Pentax e Olympus".
A Sony acaba de revelar um novo e poderoso modelo de 10 megapixels, chamado Alpha Dslr-A 100 (US$ 1.000, ou R$ 2.200,com lente). (A Sony comprou a linha de câmeras digitais da Konica Minolta, que saiu do ramo. A A100 é uma versão "sonyficada" da velha Minolta Maxxum 5D).

Se você for um veterano que tem uma caixa cheia de lentes, esses novos modelos talvez não sejam recomendáveis; ambos geralmente requerem novas lentes da marca. A Sony oferece 19 em sua nova linha Alpha, incluindo várias antigas lentes Maxxum. Você pode comprar a Sony com ou sem a lente inicial de 18-70 milímetros -o equivalente da 27-105 das câmeras de filme.

Similarmente, a Olympus Evolt requer lentes de uma nova linha chamada Four Thirds (four-thirds.org). Esta câmera também é vendida com ou sem a lente inicial - um modelo 14-45 (equivalente do 28-90). Você também pode comprar um adaptador de US$ 100 (cerca de R$ 220) para acomodar as lentes Olympus antigas, mas perderá a capacidade de foco automático.

De outra forma, porém, as duas câmeras ampliam várias capacidades de formas inteligentes e bem vindas.

A Sony, por exemplo, herda um estabilizador de imagem do modelo da Minolta.
Funciona brilhantemente. O estabilizador elimina tremores que de outra forma arruínam o trabalho, especialmente em situações de baixa luz sem flash, zoom total ou fotos tiradas em movimento -digamos, da janela de um carro.

Em termos fotográficos, o estabilizador significa que você pode fechar a abertura em 2 a 3,5 f-stops, ganhando profundidade de campo sem qualquer tremor adicional. Além disso, o estabilizador faz parte da câmera, não vem nas lentes como em outras SLRs digitais, o que diminui o custo da coleção de lentes. Mesmo com esse mecanismo, a Sony ainda é relativamente compacta, com
13,2 cm por 9,4 cm e 7,1 cm.

A Sony também herdou uma característica especial, que as pessoas amam ou odeiam, chamada EyeStart. O mecanismo liga o foco automático assim que você traz a câmera para os olhos, com um minúsculo sensor que detecta a proximidade de seu rosto. Como resultado, a câmera já está focada quando você aperta o botão do obturador. (Sou da categoria que ama o mecanismo. Os críticos não gostam quando a camisa ou a capa fazem a câmera acidentalmente mudar de foco entre usos.)

Em modo de apresentação, essa câmera tem os tempos mais curtos de foto a foto conhecidos para o homem: zero. Segurar o botão 'Next' faz as imagens voarem tão rapidamente que gera um vídeo. Maravilha.

As fotos da Sony são espetaculares; veja amostras das duas câmeras em nytimes.com/tech.

Então o que há para não gostar? Algumas queixas menores. Primeiro, a Sony faz grande alarde da capacidade da máquina de Otimização da Amplitude Dinâmica, que supostamente aumenta a amplitude dinâmica (o espectro entre detalhes de sombra e luz). Mas na prática, seu efeito é imprevisível ou invisível.

Segundo, o flash nem sempre sobe quando é necessário. Não há nem um botão para ligar o flash, como na Evolt; você tem que levantá-lo manualmente, usando a unha (não tem nem uma ranhura para ajudar). Nem a Sony nem a Olympus tem um visor de status na face superior; as regulagens só aparecem na tela posterior.

A principal característica da Olympus Evolt 330 é, evidentemente, poder enquadrar as fotos usando o visor de cristal líquido. Nenhuma outra SLR faz isso. É uma alegria de usar, porque você fica menos removido de seu ambiente do que estaria olhando pelo visor ótico. E como a tela também mexe para baixo ou para cima -outra inovação- você pode segurar a câmera acima da sua cabeça ou abaixo da cintura e ainda ver o que está mirando.

A luz em uma típica SLR entra pelas lentes, passa por uma montagem de espelhos e vai diretamente para o olho. Assim, é incrivelmente difícil possibilitar o uso do visor de cristal líquido para tirar fotos, o que ficou muito claro com as dificuldades da Evolt.

Por exemplo, a câmera oferece dois modos de uso do visor, ambos confusos. No Modo A, um segundo sensor de luz fornece uma imagem à tela. Um mecanismo elaborado de cinco espelhos divide a luz que entra entre os sensores -mas dilui a luminosidade no processo, deixando tanto o visor ótico quanto, em situação de pouca luz, a tela de cristal líquido mais fracos do que se gostaria. De fato, a Olympus sugere que você feche manualmente o visor ótico quando estiver usando a tela posterior -um trabalho administrativo que a maior parte dos fotógrafos com pressa prefeririam evitar.

No Modo B, a luz da lente vai direto ao sensor primário da câmera, dando a você uma imagem clara -mas que inativa o autofoco. (Como você pode aumentar a imagem em 10x, a Olympus recomenda esse modo primariamente para closes).
Um recente upgrade oferece uma solução: quando você aperta um botão, a câmera faz foco automaticamente uma vez, depois recupera a imagem focada.

Os dois modos dividem pela metade a vida da bateria, de mais ou menos 400 fotos. (A Sony tira 750). O Modo A também corta em dois a velocidade de três fotos por segundo, o que faz da máquina uma fraca escolha para tirar fotos esportivas. O Modo B introduz um atraso severo do obturador. E o manual oferece suficientes notas de roda-pé para se fazer uma dissertação:

"Quando usar o modo A, talvez não seja possível medição acurada, feche o visor ótico. Durante operação no modo A, o status não será apresentado na tela. Em modo B, se houver fonte de luz de alta intensidade dentro da tela, a imagem pode ser apresentada mais escura, mas será gravada normalmente.
Quando o modo B é usado por um longo período, a temperatura do mecanismo de captação de imagem aumenta, o que faz às imagens com alta sensibilidade ISO parecerem barulhentas, com coloridos irregulares" e assim por diante.

Essa complexidade é triste, porque a câmera de outra forma tem muita coisa boa. Os variados modos de cena -Fogos de Artifício, Neve, Retrato Noturno
etc.- são uma rara característica para uma SLR digital. A Evolt -e a Sony- também tiram a poeira de seus sensores cada vez que você liga a câmera, impedindo manchas nas fotos, inimigas dos proprietários de SLR.

As fotografias da Evolt também são maravilhosas, e é uma imensa alegria ver a imagem ao vivo na tela, especialmente para retratos e fotografias de cima e de baixo. Veteranos ficarão desapontados com a lentidão para iniciar a máquina, três segundos, e seus três pontos de foco, comparados com 5 a 10 de seus rivais; esperamos que a próxima versão venha com menos complexidades e notas de roda-pé.

Quanto à Sony, você pode tirar fotos igualmente incríveis com, por exemplo, a sólida Nikon D50 (hoje em torno de US$ 670, R$ 1.470, com a lente). Mas os outros US$ 330 compram três outras características -estabilizador interno, sistema de foco EyeStart e extrema velocidade do circuito- que melhorarão a razão de acertos sobre erros de qualquer fotógrafo.

Em suma, essas duas novas câmeras podem acabar com duas verdades antigas da tecnologia. Mas cada uma lembra de outra regra que não está em risco de
desaparecer: no caso da Olympus, "Não compre a versão 1.0 de nada" e, no caso da Sony, "Você recebe pelo que paga".

Tradução: Deborah Weinberg


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