UOL TecnologiaUOL Tecnologia
UOL BUSCA
Análises > The New York Times
20/12/2006 - 12h29
Windows Vista chega com Looks, Locks e Lacks

David Pogue

Após cinco anos de inícios, interrupções, mudanças de executivos, reavaliações de projeto e atrasos, o Windows Vista está finalmente pronto.
Ele já está disponível para corporações e, a partir de 30 de janeiro, esse será o programa que virá em todo PC novo. Os programadores responsáveis pelo Vista, que provavelmente ficaram sem ver suas famílias durante meses, terão um feliz Natal especial neste ano.

Então, após cinco anos, como é o Windows Vista? A descrição da Microsoft, que você estará vendo em breve em propagandas de milhões de dólares é "Clear, Confident, Connected" ("Claro, Confiante, Conectado"). Mas um lema mais condizente com a realidade seria "Looks, Locks, Lacks" ("Aparência, Cadeados e Faltas").

LOOKS
O Windows Vista é bonito. A Microsoft nunca levou a elegância tão a sério quanto desta vez.

Os atrativos discretos para os olhos são em parte responsáveis por isso. As janelas e menus projetam sombras sutis. Um novo conjunto de fontes confere uma sensação de novidade e modernidade ao programa. Animações delicadas tornam os procedimentos mais interessantes.

Se você acha que até o momento essa descrição faz com que o Vista soe bastante como o Macintosh, o que ocorre é isto mesmo. O consumidor tem a sensação de que os funcionários da Microsoft colocaram o Mac OS X em um cavalete e disseram aos seus programadores: "Copiem isso".

Eis aqui algumas das coisas que farão com que você se lembre de características similares no Mac: uma lista de localizações favoritas no PC aparece no lado esquerdo de todas as janelas do Explorer, que podem ser personalizadas ao se arrastar os arquivos para dentro ou para fora. Você agora expande ou contrai listas de arquivos clicando em pequenos triângulos.

Quando se arrastam os ícones para copiá-los, um cursor em forma de "emblema" aparece indicando quantos ícones estão sendo movidos. Os botões "Minimizar", "Maximizar" e "Fechar" brilham quando o cursor passa sobre eles. Agora existe um toque de teclas (Alt mais a seta que aponta para cima) para abrir a janela associada a um arquivo, aquela que o contém.

Alguns dos mais aguardados programas e características do Vista são também assustadoramente familiares. O maior é o "Instant Search" ("Busca Instantânea"), uma caixa de texto na parte de baixo do menu "Start" ("Iniciar"). Quando o usuário digita algo ali, o menu Start se transforma em uma lista de todos os arquivos, pastas, programas e mensagens de e-mail que contêm a frase procurada, independentemente de nomes ou de localizações de pastas. É uma ferramenta poderosa e que modifica a rotina, especialmente quando o usuário procura um programa que pode estar sepultado no interior de pilhas de pastas no menu "All Programs" ("Todos os Programas").

Uma caixa de "Search" ("Busca") similar aparece no topo de cada janela da área de trabalho (Explorer), para que se consiga retirar facilmente alguns documentos dessa pilha menor.

Os novos programas incluem o "Sidebar", uma camada flutuante de programas de objetivo único denominados "gadgets" ("dispositivos" ou "instrumentos"). A Apple os chama de "widgets" ("troços", "coisas"). Esses gadgets podem ser, por exemplo, um programa de previsão de tempo ou de acompanhamento do preço de ações, um convertedor de câmbio, e assim por diante. O Photo Gallery, um delicioso quadro para fotos digitais; o simples DVD Maker, para a criação de menus de seleção de cenas para vídeos em DVDs gravados em casa; e o Chess Titans, um tabuleiro foto-realista que gira em um espaço tridimensional.

O Flip 3-D, que apresenta todas as janelas abertas em todos os programas como cartas em uma mesa de jogos flutuante, parece ter sido modelado segundo o Expose do Mac OS X - não fornecendo, entretanto, a possibilidade de se ver todas as janelas simultaneamente. É necessário fazer uma busca em meio às "cartas" a fim de se encontrar a desejada.

Agora, antes que tenha início o tsunami de e-mails indignados, é importante observar que a própria Apple já pegou idéias emprestadas, até mesmo do Windows. Mas nunca de forma tão ampla, ousada ou rude. O vapor que deve estar saindo das orelhas dos enfurecidos executivos da Apple deve ser suficiente para alimentar uma sauna.

Mesmo assim, descarado desse jeito, esse assalto foi bem-sucedido. O Vista é infinitamente mais agradável de se usar do que os seus predecessores. Existe mais lógica na sua estrutura de pastas e esquema de denominações. É mais fácil encontrar o que se procura. São necessários menos passos para a execução de tarefas comuns, especialmente quando se trata de redes.

E, além disso, nem todas as boas novidades caíram da árvore da Apple.

As novas opções de agrupamento, empilhamento e filtragem proporcionam ao usuário novas e eficientes maneiras de analisar as massas de arquivos contidas em uma janela. Se o usuário contar com um flash drive USB adicional, o PC poderá usá-lo como uma memória principal extra para que isso confira um pouco mais de velocidade à máquina. O Windows Speech Recognition não é tão acurado como, digamos, o Dragon NaturallySpeaking, mas é muito bem elaborado e bem melhor do que as tentativas anteriores da Microsoft.

Os usuários de Laptops adorarão o novo e inteligente modo "Sleep" ("Dormir"). Ele aglutina o melhor do velho modo "Standby" (tudo permanece na memória, de forma que o computador está pronto para retomar o trabalho quando "abre os olhos") e o velho modo "Hibernate" (após 15 minutos, o Windows joga tudo isso no HD, de forma a poupar a bateria).

E, além disso, há o "Presentation Mode" ("Modo de Apresentação"), a resposta às milhões de preces de usuários de Power Point: ele evita que o seu laptop faça algo de embaraçoso durante uma apresentação. Ele não vai "dormir", exibir um protetor de tela, mostrar subitamente caixas de diálogo ou emitir ruídos inesperados. Esse recurso pode até mesmo modificar automaticamente o papel de parede da tela, mostrando algo que não gere controvérsias, de forma que os seus chefes não vejam inesperadamente algo como aquela foto picante do HotBikiniBabes.com que você geralmente usa.

LOCKS
As inovações visuais e os novos recursos são ótimos mas, para a Microsoft, a segurança foi um objetivo ainda mais importante. E com razão. As pragas da Internet, como vírus e spywares estavam tirando toda a diversão associada aos computadores movidos a Windows.

A lista de fortificações internas poderiam preencher uma pilha de papéis em branco (e enchem), e a linguagem técnica usada para isso fariam até mesmo o coelhinho das pilhas Energizer dormir de tédio. Entre os exemplos das novas medidas de segurança está o Service Hardening, que impede que programas background interfiram em arquivos essenciais de sistemas, e a escolha aleatória de espaço de endereços, que faz com que seja impossível que os vírus encontrem trechos importantes de software em locais previsíveis.

Outros componentes de segurança são mais visíveis. O Internet Explorer 7 (também disponível para o Windows XP) alerta o usuário quando este está visitando um desses sites falsos de bancos ou da eBay (os chamados phishing scams). O Windows Defender protege o seu PC de spywares. O Parental Controls permite que vocês, pais zelosos, determinem que websites os seus filhos podem visitar, as pessoas com as quais eles se correspondem online, e até mesmo quais os horários do dia nos quais eles podem usar a máquina.

Além disso há o User Account Control, uma caixa de diálogo invasiva que aparece todas as vezes que o usuário tenta instalar um programa ou ajustar uma configuração do PC, exigindo que a pessoa confirme a mudança por meio de uma senha. Isso vai soar para a maioria das pessoas como um incômodo sem sentido, e é um recurso que pode ser desativado. Mas na verdade esse é um dos mais importantes novos recursos de proteção do Vista. Quando chegar o dia em que um vírus, e não o usuário, estiver fazendo modificações no computador, você entenderá onde reside essa importância.

LACKS
Várias divisões da Microsoft dividiram as tarefas de redigir os 50 milhões de linhas do código Vista, e eles nem sempre compartilharam a mesma visão.

As áreas mais visíveis foram as que receberam mais atenção, mas muitos pontos mais obscuros e menos conhecidos não foram visitados pela "fada da remodelação" da Microsoft.

Como resultado disso, o Vista sofre de uma espécie de desordem de múltipla personalidade. Links para tarefas comuns às vezes aparecem do lado esquerdo da janela, às vezes à direita e algumas vezes bem no topo. Nos "wizards" (telas de assistentes passo a passo), o botão "Back" ("Retornar") fica às vezes no canto inferior esquerdo da caixa de diálogos, às vezes no superior esquerdo. A Microsoft ocultou a tradicional barra de menu em alguns programas (o usuário pode fazer com que ela apareça digitando a tecla Alt), mas não em outros.

Volta e meia o usuário também se depara com falhas de fazer cair o queixo. O novo Windows Calendar só é capaz de mostrar uma única tarefa agendada em cada dia no painel do mês, não importando que o monitor seja grande. O Photo Gallery é capaz de fazer apresentações de slides - mas se o usuário desejar também música, a Microsoft sugere alegremente que ele primeiro ative um outro programa e comece a reproduzir algum som a partir de lá.

O Windows finalmente vem com um programa de backup proeminente. Isso é ótimo, exceto pelo fato de o usuário só poder especificar as categorias de dados dos quais serão feitos backups (fotos, e-mails, e assim por diante), e não as pastas.

Além disso há a Sidebar, a camada flutuante de mini-programas. Se o usuário fechar um dos dispositivos, perderá os seus conteúdos para sempre: as suas notas no dispositivo Post-it Notes, a sua lista de ações no dispositivo Stocks, e assim por diante. Enfim, é impossível gravar esses dados mesmo que se queira. Isso é algo que não dá para entender.

Algumas características do XP foram simplesmente removidas. O NetMeeting, um programa para colaboração em rede, foi substituído por um programa exclusivo do Vista chamado Meeting Space - que não conta com os recursos de voz e vídeo do seu predecessor.

E o WordPad, o processador de palavras que acompanha o programa, não é mais capaz de abrir ou de criar arquivos de Microsoft Word. Isso, evidentemente, é uma tentativa descarada de obrigar o usuário a adquirir o Microsoft Office (esperamos que as massas descubram que existe uma alternativa gratuita no docs.google.com).

O QUE FAZER
Ao contrário do que o coro de críticos cáusticos da Web alega, o Windows Vista não é apenas uma versão requentada do Windows XP. Os seus dispositivos de segurança melhores, a navegação mais inteligente e as ferramentas mais poderosas de manipulação de arquivos proporcionam maior eficiência e menos preocupação desde o primeiro dia de uso.

Entretanto, isso não quer dizer que vale a pena ficar na fila para comprar o programa em 30 de janeiro. Migrar para o Vista significa sair em busca de drivers atualizados para a sua impressora, placa de áudio e assim por diante, e isso para não falar do problema com os programas incompatíveis. Tal migração também significa um reaprendizado, graças aos dispositivos que a Microsoft deslocou, removeu ou copiou.

A Microsoft não contribuiu para diminuir a confusão ao lançar o Vista em cinco versões, cada uma com características diferentes: Home Basic, Home Premium, Business, Enterprise e Ultimate. Por exemplo, as três últimas oferecem o Complete PC, um recurso que cobre todo o seu computador, incluindo os programas. O Home Premium e o Ultimate oferecem o Media Center, que reproduz músicas, vídeos e fotos na sua televisão. Você praticamente precisará de um outro sistema operacional apenas para escolher um sistema operacional.

Os preços variam de US$ 100 (para uma versão atualizada do Home Basic) a US$ 400 (para a versão integral do Ultimate). A maioria das pessoas acabará pagando US$ 160, o preço para fazer a atualização para a edição Home Premium a partir de uma versão anterior do Windows (evite o Home Basic, que é muito despojado para que a sua aquisição valha a pena).

É claro que isso não inclui o preço do novo PC do qual você precisamente necessitará para rodar o Vista. O Vista exige um PC bastante moderno, e a menos que você conte com uma poderosa placa gráfica, alguns dos mais úteis recursos novos não funcionarão. Dá para fazer o download do programa gratuito Vista Upgrade Advisor, da página da Microsoft, para determinar se o seu PC será capaz de rodar o Vista.

Segundo a pesquisa SoftChoice, na verdade, somente 6% dos atuais PCs utilizados em corporações têm potência suficiente para trabalhar com todos os recursos do Vista. Não é de se admirar que a Microsoft espere que apenas cerca de 5% dos usuários de PCs façam a atualização dos seus computadores atuais para o Vista.

No mundo Online, existe muita conversa a respeito do local ocupado pelo Vista no universo. Seria muito pouco, e muito tarde? Será que a fração do Mac no mercado ameaça o domínio do Windows? Os softwares baseados na Web tornam os sistemas operacionais obsoletos?

Nada disso. O Windows não vai a lugar algum, o cenário não sofrerá modificação tão cedo, e o mundo corporativo ainda comprará 500 cópias de cada vez.

Em outras palavras, não importa o que você (ou os críticos técnicos) achem do Windows Vista. Mais cedo ou mais tarde será isso que a maioria das pessoas terá nos seus PCs. Sendo assim, ainda bem que o Vista conta com um melhor visual, que seja melhor desenhado e que traga mais proteção contra os perigos da Internet. Na pior das hipóteses, ele é bem equipado para acompanhar a evolução dos PCs nos próximos cinco anos - ou até que apareça uma próxima versão do Windows.


ÚLTIMAS ANÁLISES
iMasters - Colunas
Cuidado para não comprar gato por lebre
Webinsider
O que é uma estratégia multiplataforma
Webinsider
Alta fidelidade
Webinsider
O gerente de projeto não faz milagre
iMasters - Colunas
Como o Twitter está ajudando o mercado de mobile marketing?
Webinsider
E o Brasil avança, segundo a revista Economist
Webinsider
Urna eletrônica blindada? O caveirão também era...
iMasters - Colunas
Pensando TI de forma estratégica