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Análises > The New York Times
13/04/2007 - 13h57
Apesar das promessas, novos equipamentos Wi-Fi 802.11n deixam a desejar

David Pogue
The New York Times

"Quando eu tinha a sua idade, a Internet sem fio só estava disponível em pontos isolados de recepção com alcance de 30 metros", diremos nós algum dia aos nossos estupefatos netos.

Isso se tudo sair como espera a indústria eletrônica. A cada dois anos ela anuncia novos equipamentos Wi-Fi mais velozes e melhores, que trazem nomes nada inspirados como 802.11b e 802.11g.

A edição deste ano é o 802.11n, que segundo a indústria deve proporcionar duas grandes vantagens em relação aos populares tipos "b" e "g": o quíntuplo da velocidade e um alcance 15 vezes maior.

Isso seria ótimo, se fosse verdade. Significaria, por exemplo, que o sinal de um único transmissor —um roteador Wi-Fi, ou "wireless router", para usar o termo técnico— seria capaz de preencher qualquer aposento da sua casa com gloriosas ondas repletas de dados.

Eu experimentei os roteadores "n" da Apple, Belkin, Kinksys e Netgear, assim como um velho modelo "g", a título de comparação. Para cada um dos testes, instalei o roteador no porão da minha casa, e a seguir medi a potência e o alcance do sinal em seis locais: dois no porão, dois no primeiro andar, um no segundo andar e um no sótão. No final, havia subido e descido 120 degraus. Alguém deseja me dar um prêmio pelo esforço?

O resultado foi que o "n" de fato proporcionou velocidade e alcance maiores —em nenhum momento 15 vezes superiores, mas geralmente pelo menos duas vezes mais eficientes. Entretanto, era de se esperar que um roteador "n" fosse suficiente para cobrir até mesmo uma super-mansão.

O último equipamento "n" também conta com interoperabilidade. Um cartão Belkin de laptop funciona com um roteador Apple, e assim por diante, embora não com velocidade integral. E, melhor ainda, os velhos laptops "b" e "g"ainda são capazes de se beneficiar do maior alcance dos roteadores "n", embora com velocidades "b" e "g".

E, agora, as más notícias.

Nota de rodapé um: para desfrutar integralmente da magnificência da rede "n", o usuário precisa de algo mais do que apenas um roteador "n". Cada computador também necessita de um receptor "n". E estes geralmente vêm no formato de cartões de PC ou laptop, ou de antenas USB externas para computadores desktop. E, infelizmente, o "n" é mais caro. Por exemplo, o roteador "n" da Netgear custa US$ 125. O antigo roteador "g" da empresa custa US$ 80.

Nota de rodapé dois: A aliança industrial que estabelece esses padrões técnicos ainda não concluiu as especificações para o "n". Os roteadores atuais são bem melhores do que as tentativas toscas presenciadas no ano passado, mas eles ainda se baseiam apenas em um rascunho não definitivo das especificações "n". A Apple, a Belkin e a Netgear (embora não a Linksys) prometem atualizadores de software que farão com que esse "rascunho n"
atinja os quesitos "n finais" neste verão.

Nota de rodapé três: Se você espera maiores velocidades de Internet, esqueça. Um modem a cabo típico proporciona acesso a Internet de 5 Mbps (megabits por segundo) nos Estados Unidos. Essas unidades hostis ao usuário podem ser traduzidas para os mais familiares megabytes, caso o consumidor deseje. Para isso, basta dividir por oito. Ou então pode-se simplesmente aceitar que mais Mbps é algo melhor. Até mesmo as redes Wi-Fi mais antigas transmitem dados bem mais rapidamente do que isso: de 20 a 30 Mbps, por exemplo. O gargalo é a sua conexão de Internet, e não a rede doméstica. Atualizar o seu equipamento para o padrão "n" não modificará nem um pouco a sua velocidade de Internet.

Você percebe a velocidade basicamente quando copia algo entre computadores —por exemplo, quando desloca grandes arquivos, ou envia vídeos de um PC para outro.

Portanto, qual a velocidade obtida? O trecho das propagandas que apregoa "até 300 Mbps" se constitui em um dos mais absurdos exageros já registrados no setor de equipamentos eletrônicos e de informática. No mundo real, o consumidor pode esperar algo entre 50 e 100 Mbps —o que ainda é bem melhor do que a velocidade proporcionada pelo "g".

Na verdade, os meus roteadores Linksys, Belkin e Netgear jamais alcançaram algo mais rápido do que 49 Mbps, mesmo após dias de experiências e consultas com os fabricantes das engenhocas de ponta. Acho que eu moro próximo a uma anomalia do espaço-tempo ou algo semelhante, já que os testes dos roteadores "n" feitos pelas revistas de computação anunciam rotineiramente velocidades na casa dos 90Mbps. Foi isso também o que obtive com um roteador Apple.

Nota de rodapé quatro: Qualquer fabricante que descreva o alcance do seu roteador como "até 430 metros" deve ter testado o aparelho na Lua. Aqui na Terra a intensidade do sinal é afetada por coisas incômodas como ar, mobília, paredes, assoalhos, fios, interferência telefônica e ângulo da antena.

A velocidade e a potência do sinal diminuem proporcionalmente à medida que o usuário se afasta do roteador. Somente os roteadores Apple e Netgear alcançaram todos os andares da casa a partir do porão —e conseguiram realizar tal façanha penosamente.

No entanto, os quatro roteadores inundaram facilmente todos os cômodos da casa com os seus sinais quando foram instalados no primeiro andar ou no segundo.

E, aliás, inundaram também as casas dos vizinhos. Essa é uma boa justificativa para utilizar a senha de proteção do seu roteador —a menos, é claro, que você goste tanto dos seus vizinhos a ponto de compartilhar com eles a sua Internet.

Eis aqui o que diferencia os roteadores individuais.

Apple AirPort Extreme. Este roteador conta com cinco superlativos: menor, mais bonito, mais rápido, maior potência de sinal e mais caro (US$ 180). Mas no final das contas os fãs da Apple economizam dinheiro. Desde o outono de 2006, a Apple instalou secretamente receptores "n" na maioria dos seus laptops e desktops Mac. Em outras palavras, você não precisa comprar cartões para os Macs —só necessita de um software "capacitador" que libere as funções "n". Esse software vem com o roteador Apple, ou o usuário pode comprá-lo por US$ 2 no site www.apple.com.

O programa de instalação, idêntico para Mac e Windows, está anos-luz à frente dos rivais em termos de acabamento e acessibilidade. O usuário pode conectar uma impressora ou um disco rígido à entrada USB do roteador, e pronto: ele passa a ser acessível a todos os computadores da rede. Muito legal.

A maioria dos roteadores "n" opera na mesma faixa de freqüência (em torno de 2,4 gigahertz) dos telefones sem fio, fornos de microondas, equipamentos Bluetooth e redes Wi-Fi mais antigas. O roteador da Apple, no entanto, é um dos primeiros a oferecer uma faixa de frequência alternativa na qual há muito menos ruído —a de 5 gigahertz— e que não arruína as suas ligações por telefone sem fio nem interfere nas redes dos vizinhos. A Linksys, a Belkin e a Netgear têm planos para o lançamento de cartões e roteadores similares de "banda dupla" no final deste ano.

Mas o maior desapontamento: todos os quatro roteadores possuem entrada Ethernet na parte posterior para utilização de Wi-Fi, mas, estranhamente, as da Apple são antigas e lentas entradas de 100 Mbps. Isso é esquisito ao se considerar que os próprios computadores da Apple vêm com entradas de gigabit (1.000 Mbps). As entradas dos roteadores Linksys e Netgear oferecem velocidade integral na casa de 1 gigabit.

Roteador Belkin N1 Wireless. Este é o equipamento "n" mais barato: US$ 110 pelo roteador, US$ 70 pelo cartão de laptop. E é preciso admitir que nunca uma companhia procurou tanto facilitar a utilização do sistema de rede sem fio. As entradas no roteador possuem códigos de cores. As peças e cabos trazem grandes adesivos numerados que correspondem às instruções.

E, quanto ao roteador em si, ícones rotulados para cada link de rede —Computador, Roteador, Modem, Internet— piscam em azul quando estão funcionando, e em uma tonalidade âmbar quando há algum problema. Esse mapinha brilhante é extremamente útil para determinar exatamente onde se encontra o problema.

Finalmente, o número de suporte técnico da Belkin aparece proeminentemente em todas as folhas de papel contidas na caixa. Incrível.

Linksys WRT350N. Esta caixa (US$ 155 pelo roteador, além de um caro cartão de US$ 100) é eriçada de antenas de vários formatos. O processo de instalação é um pesadelo, repleto de advertências terríveis como "Este produto não é compatível com o Windows 98SE" (quem perguntou?) e "Softwares sem assinatura podem danificar o seu computador e roubar informação" (que horror!). E o número de telefone só aparece na parte posterior do envelope do CD —em impressão do tipo "six-point": caracteres brancos sobre um fundo azul nebuloso.

O fator positivo é que é possível conectar o aparelho tanto a um disco rígido quanto a um flash drive em USB de forma a compartilhar a operação com toda a rede.

Netgear WNR854T. Assim como a Apple, a Netgear conseguiu fabricar uma caixa branca esguia isenta de antenas protuberantes. O roteador custa US$ 125; o cartão US$ 80. Mas, ao contrário da Apple, o aparelho da Netgear ainda atende mais às necessidades dos especialistas em redes. Para fazer com que o meu roteador funcionasse foram necessárias sete horas, sendo que a pior parte foi quando um auxiliar técnico na Índia me disse que a instalação exigiria o antigo Internet Explorer 6 (mais tarde um gerente de produtos me disse que tal informação era incorreta).

Se você tiver o Windows Vista, terá que baixar e gravar o seu próprio CD de instalação do Netgear. E o software de instalação da Internet emite a bizarra mensagem de erro: "Conexão de Internet não disponível".

Então, qual é o veredicto? O "n" está quase chegando lá. Se você está sondando o mercado à procura de equipamento sem fio e não pode esperar mais do que alguns meses pela promessa de que sejam concluídas as especificações da geração "n", compre o equipamento bem acabado e passível de ser atualizado da Apple ou da Belkin.

Eles sinalizam para as alegrias de um futuro mais distante, quando um único roteador 802.11z, estrategicamente instalado no Estado de Nebraska, proporcionará acesso à Internet sem fio de alta velocidade de uma costa a outra dos Estados Unidos.


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