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Análises > The New York Times
30/04/2007 - 10h28
É hora de um Código de Conduta Online?

David Pogue

Após concluir a faculdade no final dos anos 80, eu prestava serviços de informática a domicílio em Nova York. Naqueles anos, eu aprendi um bocado sobre as pessoas e a dicotomia entre suas personalidades públicas e privadas.

Uma cliente em particular nunca saiu da minha cabeça. Ela era uma mulher rica com um apartamento espantosamente imenso —e uma personalidade espantosamente amarga.

Sempre que empregados com eu estavam por perto, ela jogava um jogo cujo nome, agora eu percebo, era "Você está Errado".

Ele começou no instante em que ela atendeu à campainha. "Ora, não fique parado aí como um manequim. Eu não estou pagando a você US$ 25 a hora para ficar aí. Entre."

Assim, resmungando pedidos de desculpa, eu entrei no apartamento e coloquei minha sacola ao lado da mesa do computador.

"Aí não, aí não!" ela gritou. "Você vai sujar o tapete! Coloque na despensa. Tenha algum respeito pelas coisas dos outros!"

Quando fui ligar o computador, foi: "Não faça isso sozinho! Como você espera que eu aprenda se fizer tudo por mim? Não me trate como se eu fosse uma idiota".

Mas se, na visita seguinte, eu a convidasse a ligar a máquina sozinha, ela respondia: "Como eu saberia como ligá-la? Se eu já soubesse como usar o computador eu não pagaria a você US$ 25 a hora, não é?"

Independente do que dissesse, qualquer que fosse o assunto, não importa o quão neutro, a sra. Cronkwitz acharia algo errado naquilo. (Sim, é a mesma mulher que me repreendeu por sua impressora matricial não conseguir imprimir gráficos.) A regra simples dela era: "Se não tem nada negativo a dizer, não diga".

Eu penso no jogo da sra. Cronkwitz toda vez que leio os comentários em qualquer fórum online que aceita postagens anônimas, como o Digg.com ou YouTube. É tudo uma grande disputa para ver quem é capaz de destilar mais veneno contra qualquer produto, idéia, qualquer assunto.

Apenas uma vez, eu adoraria ver quantos produtos, idéias e assuntos estas pessoas criaram. (Na verdade, eu já sei: nenhum, porque a maioria destas pessoas ainda está no colégio.)

Tudo isto me traz à história de Kathy Sierra, recentemente publicada pelo "The Times".

Resumindo, a autora de livros de informática chamada Kathy Sierra escreveu, em seu blog, sobre se era OK apagar comentários maldosos deixados por seus leitores. Comentaristas anônimos desferiam contra ela comentários vis, violentos e até sexuais, assim como ameaças, completos com imagens vulgares de Sierra manipuladas no Photoshop.

Tim O'Reilly, o editor dos livros de informática dela (assim como dos meus), respondeu com uma proposta em seu próprio blog: um código de conduta voluntário, de sete passos, dos blogueiros. Você pode ler todo o esboço aqui (em inglês).

Há espaço para discussão sobre alguns de seus pontos —de forma característica, a primeira reação da maioria dos blogueiros foi criticá-lo— mas um ponto, eu acho, é inatacável:

"3. Considere a eliminação dos comentários anônimos."

É isto. As pessoas não vão a extremos psicóticos quando seus nomes ou endereços de e-mail estão visíveis.

Basta ver as críticas de livros e produtos na Amazon.com. Elas provam que é perfeitamente possível sua rejeição a algo sem ser odioso. E se assinar com o nome, é bem provável que faça ainda menos.

Para que fique registrado, meu assistente e eu moderamos os comentários em meu próprio blog. Críticas, comentários sarcásticos e anti-Pogue são permitidos. As únicas coisas que apagamos são discursos políticos que não tenham nada a ver com o assunto, linguagem vulgar e spam. Sim, spam; você não tem idéia de quantos autores de spam parecem achar que um blog de tecnologia é o lugar para encontrar consumidores de Cialis e Viagra.

(OK, a Amazon também apaga os comentários vulgares e abusivos. Mas aposto que eles representam um pequeno percentual dos comentários apresentados, assim como apagamos apenas 1 entre 1.000 dos comentários no Pogue's Posts por serem ofensivos.)

A qualidade da discussão no nytimes.com/pogue é muito, muito alta, como vários leitores notaram com prazer. Eu acho que o principal motivo é que, neste blog, os leitores não se sentem anônimos. O comentário é postado sob um apelido, mas a pessoa está ciente de que sabemos quem ela é; afinal, ela preencheu um cadastro para o nytimes.com gratuito. Muitos dos leitores do Pogue´s Post até mesmo usam seus nomes reais como apelidos.

E por que não? Se você se orgulha de seus pensamentos, por que teria medo de estar associado a eles?

Sim, eu sei que há exceções; blogs sobe certos assuntos têm bons motivos para oferecer anonimato (fóruns de abuso conjugal, sites de HIV e assim por diante). Eu não estou sugerindo que todos os blogs eliminem o anonimato.

Nem estou sugerindo censura. Como Tim O'Reilly colocou: "Eu não estou sugerindo que todo blog queira apagar tais comentários, mas estou sugerindo que os blogs que desejem manter um nível mais elevado de diálogo não sejam censurados por fazê-lo.

"Há muitas analogias no mundo real. Apresentadores sensacionalistas de rádio encorajam telefonemas abusivos; programas de rádio como o 'Talk of the Nation' da NPR não hesitam em tirar do ar alguém que comece a se comportar de forma abusiva. Festas de fraternidades podem encorajar bêbados falando obscenidades, mas uma festa em uma conferência de tecnologia não. O estabelecimento de padrões de comportamento aceitáveis em um fórum que você controla contribui para a liberdade de expressão, e não a prejudica."

Eu só estou observando que os blogs com as melhores discussões, as mais inteligentes, são aqueles em que as postagens não são anônimas —e vice-versa. Repetidas vezes, os sites que permitem ataques anônimos são aqueles que parecem visitados apenas pela sra. Cronkwitz e seus clones.

(P.S.- Em um assunto totalmente diferente, muito mais alegre, vários leitores me perguntaram sobre o que aconteceu com "It's All Geek to Me", a série de TV de seis episódios que eu escrevi e apresentei, que deveria ter ido ao ar em abril.

O programa finalmente recebeu um horário firme da emissora: às sextas às 20 horas, a partir de 18 de maio.

Toda semana eles apresentarão um episódio novo e uma reprise, em dois canais: Discovery HD e The Science Channel. Ambos os canais necessitam de cabo digital —você pode atualizar o seu por meio de sua operadora, caso já não tenha— ou por satélite. Ainda não foi decidido se os episódios estarão disponíveis para download pela Internet.)

Tradução: George El Khouri Andolfato


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