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Análises > The New York Times
14/08/2008 - 12h58
Existe escaneamento barato de fotos (espere, há taxas extras opcionais)

David Pogue

Uma receita de Sopa Fotográfica Tóxica: coloque mil fotos em um grande compartimento de plástico à prova d'água. Coloque-o em uma prateleira alta no porão. Não perceba a existência de uma pequena janela ali perto que apresenta um vazamento. Deixe a embalagem de molho, sem cuidados, durante três ou quatro anos. Abra e sirva.

Resultado: mil folhas em branco de papel fotográfico ensopado e 15 litros de uma sopa negra, fedorenta e tóxica composta de produtos químicos e água da chuva.

Esta é uma receita para um desastre. E foi exatamente isso o que aconteceu com todo o registro fotográfico dos anos de faculdade de medicina da minha mulher. Até hoje eu não faço a menor idéia da aparência dela naquele época. A minha ignorância é tamanha que ela poderia muito bem ter usado um tapa-olho e um corte de cabelo moicano.

A descoberta horrorosa da sua coleção liqüefeita de fotografias demonstra dois pontos importantes em relação a impressões fotográficas. Primeiro, elas geralmente são preciosas e únicas. Podem ser facilmente perdidas devido a incêndios, inundações, erros, negligência e divórcio.

Segundo, muitas delas estão armazenadas, neste momento, em caixas nas quais ninguém nunca as vê. Será que é este realmente o destino apropriado para uma foto?

É claro que as fotos digitais são uma outra história. Elas podem ser duplicadas um milhão de vezes de forma instantânea e barata, guardadas em diversos locais diferentes, armazenadas online e enviadas para parentes.

E o mundo moderno dos protetores de tela, programas de exibição de slides, molduras digitais, gravadores de DVD, livros de fotografias e outros produtos digitais faz com que seja infinitamente mais fácil mostrar as suas fotos—o que, pode-se argumentar, é o motivo exato para tê-las.

Assim, se você, como milhões de outras pessoas fizeram anteriormente, tem uma coleção de fotos em algum lugar, provavelmente já passou pela sua cabeça a idéia de que elas deveriam de fato ser escaneadas —convertidas em arquivos digitais, tanto para a proteção do material quanto para a facilidade de exibição.

Em tal caso, você, assim como milhões de pessoas, provavelmente chegou até a decidir quando fará todo esse escaneamento: algum dia.

Isso por que, a verdade seja dita: escanear centenas de milhares de fotos, uma de cada vez, em um escaneador doméstico, representa uma drenagem de tempo do tamanho do Grande Canyon.

Você poderia enviá-las para uma companhia que faz escaneamento, mas isso é algo incrivelmente caro. A maioria cobra US$ 0,50 ou até mesmo US$ 1 por foto.

Portanto, você está desculpado por ter franzido a testa diante da oferta feita por uma companhia da Califórnia chamada ScanMyPhotos.com. Eles dizem que escaneiam mil fotos para você, por US$ 50, no mesmo dia em que as recebem.


Então, qual é o problema?

Na verdade, problema algum, mas muita coisa escrita nas entrelinhas.

A ScanMyPhotos usa uma determinada marca de escaneamento comercial da Kodak, que processa centenas de fotos por minuto. Não existe motivo para que outras companhias não comprem a mesma máquina e façam um serviço similar.

Na verdade algumas compraram, embora a maioria cobre de 12 a 16 centavos de dólar por foto, comparados aos cinco centavos por foto cobrados pela ScanMyPhotos.

Devido ao fato de ter que passar as suas fotos pela máquina, a ScanMyPhotos estabeleceu algumas regras. Os tamanhos das fotos podem variar de 7,6 x 7,6 centímetros a 27,9 x 35,6 centímetros.

Os maços de fotografias têm que ser feitos com fotos do mesmo tamanho, e são presos por uma borracha de escritório. A única forma de rotular cada maço é com inscrições em cartões de índice, que são escaneados juntamente com as fotos, como se fossem cartões de título.

Se você desejar que o maço seja escaneado em determinada seqüência, pode numerar os cartões de índice.

As fotos não podem estar em álbuns ou cadernos. Isso é compreensível, mas pode ser triste ter que desmantelar álbuns de fotos que no passado alguém montou, investindo nisso muito tempo e energia.

As suas fotos não podem também estar em envelopes. Como teste, submeti uma coleção de fotos correspondentes a um período de 20 anos. Mais tarde descobri que havia mais de 1.800 ao todo. Eu não sabia quantas havia, esses maços são enganosos, pois parecem pequenos.

Elas foram retiradas de dezenas de envelopes de farmácias, o que significa que eu tive que separá-las dos negativos, provavelmente para sempre, já que a tarefa de encontrar os envelopes originais de 1.800 fotos se estenderia pelo resto da minha vida. E pela dos meus descendentes.

As fotos são escaneadas exatamente como você as envia. Se delas uma estiver de cabeça para baixo ou com a face ao contrário, é dessa forma que aparecerá no DVD. De forma similar, você deverá se certificar de que todas as fotos horizontais estejam na posição correta, e que as verticais tenham sido giradas 90º no mesmo sentido.

Finalmente, você coloca os maços em uma caixa, preenchendo cuidadosamente os espaços vazios para evitar que haja embaralhamentos.

O website da companhia traz muitos exemplos das maneiras certas e erradas de empacotar as suas fotos. Mas o que importa é que a ScanMyPhotos fará o escaneamento. Entretanto você tem que fazer o trabalho preparatório, o que não é pouca coisa.

Felizmente, os resultados valem a pena. A companhia envia as fotos originais de volta para você pelo Priority Mail (um serviço do correio norte-americano que entrega as correspondências em dois ou três dias), juntamente com um DVD elegantemente rotulado.

Ele contém arquivos de fotos JPEG no padrão 300 dpi, prontos para serem copiados no seu computador. Não existe uma opção para arquivos TIF, e os arquivos JPEG sofrem uma compressão moderada para caberem no disco. Em outras palavras, estas fotos escaneadas não têm qualidade suficiente para que se façam outdoors com elas.

Mesmo assim, elas têm uma aparência muito boa —não são tão nítidas quanto fotos digitais, mas tem a qualidade que seria de se esperar de fotos escaneadas (você pode ver exemplos no site www.nytimes.com/personaltech).

A ScanMyPhotos provavelmente não está enriquecendo ao cobrar apenas US$ 50 por mil fotografias. O lucro real encontra-se, sem dúvida, nos serviços opcionais, alguns dos quais são engenhosos e quase irresistíveis.

Por exemplo, por US$ 125, a companhia lhe envia uma caixa de remessa já com o endereço que comporta 1.600 fotos (de tamanho 10,2 x 15,2 centímetros, ou 4 x 6 polegadas).

O preço inclui o escaneamento e o envio pré-pago da sua cidade para a companhia e da companhia para a sua casa. Se você comprar duas, recebe uma terceira caixa de graça, o torna o negócio ainda melhor —quando se leva em consideração o custo do correio— do que a oferta de US$ 50.

Por US$ 65 por mil fotos, a companhia examinará todas as suas fotos e as girará para a posição correta. Por US$ 10, você pode encomendar uma segunda cópia do DVD. Por US$ 20, a companhia criará um website personalizado que exibe as suas foto durante 30 dias.

Por US$ 50, eles corrigem as cores das fotos, um processo que funciona melhor com fotos velhas e desbotadas. Por outros US$ 50 por mil fotos, eles escaneiam também a parte de trás das fotografias, de forma que você não perde as preciosas anotações da sua avó.

E por US$ 60 por mil fotos, você pode encomendar um álbum de capa duro com impressões de todas as suas fotografias escaneadas; a companhia até gira as fotos verticais, colocando-as na posição correta.

O arranjo não é essas coisas —as fotos são pequenas e numeradas—, mas na minha família esse álbum foi um grande sucesso ("Sim, crianças, é verdade. Naquela época nós usávamos cortes de cabelo esquisitos").

A companhia pode ainda escanear slides ou negativos, fazer escaneamento com resoluções maiores do que 300 dpi, e até mesmo converter fitas VHS em DVDs. Mas há várias outras companhias que fazem esses trabalhos. O preço da ScanMyPhotos não é nada de especial.

E, aliás, o website dela também não. Ele é cheio de erros de grafia e as fontes involuntárias podem fazer com que certos pacientes fechem involuntariamente o navegador.

Mas não desanime, e não subestime o componente emocional deste serviço. Há a alegria (ou o choque) de desenterrar todas essas fotos e mostrá-las a pessoas que nunca as viram, além do imenso conforto de saber que todas elas estão digitalizadas e que é fácil fazer backups.

Há, no entanto, o terror de ter que enviar as suas fotos valiosas. A ScanMyPhotos afirma que escaneou mais de oito milhões de fotos, e que nunca perdeu ou danificou uma só delas.

Mas sempre há uma primeira vez. Pensem no destino da DigMyPics.com, uma companhia rival. Em maio passado, um incêndio consumiu a sua sede, destruindo quase tudo que estava dentro —incluindo algumas fotos originais de clientes.

Mas há também o risco de não se fazer nada. Fotos mantidas em um local escuro, seco e frio não se deterioram tão rapidamente quanto fitas de áudio, de vídeo e rolos de filme. Na verdade, quando armazenas de forma apropriada, elas podem durar um século ou mais.

Mas como as fotos ainda são susceptíveis a uma ampla gama de forças destrutivas ou à negligência, o serviço da ScanMyPhotos pode acabar se constituindo no melhor gasto de US$ 50 (mais remessa e serviços opcionais) que você já fez.


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