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28/08/2009 - 10h05
As novidades do Snow Leopard

DAVID POGUE

Comprar software não é como comprar um vaso, um pente ou uma máquina de cortar grama, quando você paga, leva o objeto para casa e a transação está completa.

Não. Comprar software é mais como ingressar em um clube com tarifas anuais. A cada ano há uma nova versão, e se você não fizer uma atualização, sentir-se-á como um perdedor retardatário.

No entanto, há uma bomba relógio embutida nesse modelo de negócios. Para obrigar o consumidor a continuar fazendo atualizações, a companhia de software precisa apresentar mais recursos a cada lançamento. Cedo ou tarde, você acaba se deparando com um programa que é uma autêntica bagunça gigantesca, dispersa e incoerente. Um código similar a uma montanha de espaguete que não funciona bem e não deixa ninguém satisfeito.

Você ficará em situação ainda pior se essa monstruosidade for o seu sistema operacional - o software que você utiliza diariamente. Basta perguntar a alguém que tenha o Windows Vista.

Neste ano, no entanto, a Apple e a Microsoft perceberam que esse modelo baseado em amontoados de recursos é insustentável. Ambas as empresas estão lançando novas versões dos seus sistemas operacionais que são apresentadas como versões limpas e enxutas das versões anteriores.

Novidades

O programa da Microsoft, chamado Windows 7, chega em outubro. O da Apple, chamado Mac OS X 10.6 Snow Leopard, chega nesta sexta-feira (28/08), um mês antes do anunciado ("Surpresa!", disse a Apple à Microsoft).

A estratégia de lançamento utilizada pela Apple é bastante heterodoxa: "O Leopard, também conhecido como Mac OS X 10.5, já era um grande sistema operacional livre de vírus, sem problemas e sem proteção contra cópia. Assim, em vez de acrescentar recursos sem objetivo específico, resolvemos fazer aquilo que já tínhamos, mas tornando-o menor, mais rápido e mais refinado".

O que? Nenhum recurso novo? Mas é assim que a indústria funciona! Será que a Apple não sabe de nada? E, além disso, há o preço do Snow Leopard: US$ 30 (R$ 56).

Será que eles perderam a cabeça? Atualizações de sistemas operacionais custam sempre mais de cem dólares! (o preço é US$ 30 se você já tiver o Leopard. Caso contrário, paga-se US$ 170 por um Mac Box Set que inclui dois conjuntos de softwares da Apple: iLife (iPhoto, iMovie, iDVD, iWeb e o estúdio de música GarageBand), e iWork (a planilha Numbers, o processador de palavras Pages e o software de apresentação Keynote).

Recursos do Leopard

De toda maneira, o Snow Leopard é uma versão genuinamente otimizada do Leopard. Ele tem uma inicialização mais rápida (72 segundos em um MacBook Air, contra 100 segundos no Leopard). Ele abre programa mais rapidamente (navegador da Web, três segundos; calendário, cinco segundos; iTunes, sete segundos), e da segunda vez que você abre o mesmo programa, o tempo é reduzido pela metade.

"Otimizado" não significa apenas mais rápido, mas também menor. Incrivelmente, o Snow Leopard tem apenas a metade do tamanho do seu predecessor. Após a instalação rápida (15 minutos), você acaba tendo sete gigabytes a mais de espaço livre no seu disco rígido. Isso, senhoras e senhores, é um fato inédito.

Infelizmente, o Snow Leopard só funciona em Macs que trazem chips da Intel —ou seja, nos Macs vendidos a partir de 2006. Se você possui um Mac mais velho, ficará preso ao Leopard para sempre.

(Nota técnica: existe a concepção popular de que a economia de espaço é obtida com a remoção de todo aquele código exigido pelos chips anteriores. Mas isto, segundo a Apple, não é verdade. Sim, aquele código foi suprimido, mas o novo código de 64 bits, descrito abaixo, o substitui facilmente. Não, a Apple afirma que a economia é obtida com um "apertar de parafusos", comprimindo os blocos de software do sistema, e eliminando um grande acúmulo de drivers de impressoras. Agora o sistema baixa drivers de impressoras quando necessário, e quando isto é solicitado).

Acabamos descobrindo que os programadores da Apple não foram capazes de deixar intocado tudo aquilo que já funcionava bem. Eles desobedeceram o mantra original "nenhum novo recurso". Enquanto vasculhavam todos os bits do Mac OS X, eles não deixaram de parar e consertar coisas pequenas que sempre os incomodaram, ou de inventar truquezinhos novos e elegantes para melhorar o programa.

Problemas resolvidos

Portanto, agora o Mac ajusta o seu próprio relógio quando você viaja, da mesma forma que um telefone celular. A barra de menu agora é capaz de exibir a data completa, e não apenas o dia da semana. O menu dos "hot spots" de conexão wireless mais próximos agora mostra a intensidade de sinal para cada um desses pontos. Quando você aplica Windows no seu Mac, é possível agora abrir arquivos na "lateral" do Macintosh sem precisar reiniciar a máquina. E agora os ícones têm 512 pixels quadrados (vários centímetros), transformando qualquer janela de desktop em uma tábua luminosa para fotografias.

Existe agora um comando "Put Back" (Colocar de Volta) na Lixeira, assim como na lixeira do Windows. Você pode folhear um documento em PDF ou assistir a um filme em um ícone de arquivo. Quando você clica em um ícone de pasta no Dock, é possível movimentar-se sobre a janela do seu conteúdo, transformando um recurso inútil em algo de utilidade.

Plug-ins problemáticos (como, por exemplo, o Flash) não derrubam mais o navegador Safari Web. Você vê apenas um retângulo vazio onde eles deveriam ter aparecido.

Há também alguns componentes notáveis. Os filmes abrem-se em uma janela de reprodução belíssima e sem moldura, com alças delgadas embutidas e um comando "Enviar para o YouTube".

Há uma variedade notável de ferramentas para os usuários de Mac que têm deficiência visual grave, incluindo uma que transforma o trackpad do Mac em um mapa de toques na tela. O Mac identifica sonoramente cada elemento que foi tocado.

E agora você pode gravar a sua atividade na tela como se fosse um filme —o que é fantástico para explicações e instruções. O velho recurso "Serviços" renasceu na forma de comandos poderosos que só surgem quando são relevantes— e você pode modificar, criar ou designar teclas para eles.

Assim que um administrador de sistema fornecer os detalhes de setup, o livro de endereços Microsoft Exchange, o e-mail e o calendário aparecerão nos próprios programas de endereço, e-mail e calendário do Mac, bem ao lado das suas informações pessoais. Isto é uma ironia: agora o Mac conta com compatibilidade interna com o Exchange, mas o Windows não.

Há centenas de outros pequenos recursos. Ao todo, a Apple diz que mais de 90% dos mil blocos de software serão revisados e aperfeiçoados. Muitos estão listados em bit.ly/U1DzS, mas eu continuava encontrando mais surpresas não documentadas até o prazo para a conclusão desta coluna. Coisas pequenas. Como, por exemplo: quando você muda o nome de um ícone em um desktop no qual as coisas encontram-se em ordem alfabética, o ícone modificado desliza visivelmente para a nova posição alfabética, de forma que você pode ver para onde ele foi.

Critica

Apesar de tudo isso, os críticos online de plantão zombam do Snow Leopard, qualificando-o de "pacote de serviços" —nada mais do que uma atualização com consertos de bugs e deficiências de segurança, como aquelas que a Microsoft lança periodicamente para o Windows.

Mas trata-se de uma opinião bastante desinformada. Especialmente porque as maiores mudanças no Snow Leopard são completamente invisíveis, sendo, entretanto, responsáveis por boa parte dos grandes avanços em termos de velocidade e estabilidade.

Eis um grande avanço: o Mac OS X e a maioria dos programas nele incluídos (o desktop, o navegador da Web, o calendário e assim sucessivamente) são softwares de 64 bits, um termo difícil que significa basicamente que o programa é mais rápido. Outras novas tecnologias subjacentes, chamadas OpenCL e Grand Central Dispatch, são recursos que as companhias de software podem explorar para obterem velocidades ainda maiores nos seus novos programas reescritos.

O fato de a aparência do Snow Leopard não ter mudado nem um pouco, em outras palavras, faz com que não se vejam as enormes mudanças sob a sua bela pele. Infelizmente, este fato também explica a quantidade de programas que não são da Apple que "quebram" após a instalação.

Eu enfrentei problemas frustrantes com vários programas, incluindo o Microsoft Word, o Flip4Mac, o Photoshop CS3, o CyberDuck e o TextExpander, um expansor de abreviaturas (é interessante que o Snow Leopard oferece o seu próprio recurso de expansão de abreviaturas, mas ele funciona basicamente em programas da Apple, como o TextEdit, o Mail, o Safari e o iChat). A lista de compatibilidade identifica outros programas que podem apresentar problemas.

A maior parte desses pequenos transtornos desparecerá quando as companhias de software atualizarem os seus produtos (embora a Adobe diga, "Simplesmente faça uma atualização para o Photoshop CS4"). Esperemos que a Apple apresse-se também com a sua inevitável atualização 10.6.0.1, para resolver os ocasionais congelamentos do Safari e os problemas menos graves que eu também experimentei.

Caso contrário, se você já usa o Leopard, pagar US$ 30 pelo Snow Leopard é algo de óbvio. Você sentirá que deu um salto adiante em termos de velocidade, e soltará exclamações como "Que legal!" durante semanas.

Mas se você usa algo um pouco mais antigo, a decisão já não é tão óbvia. Você terá que pagar US$ 170 (R$ 317) e obter o Snow Leopard com os softwares criativos da Apple —quer queira, quer não.

De qualquer maneira, a grande novidade aqui não é realmente o Snow Leopard, e sim o conceito radical de uma atualização de software que é menor, mais rápida e melhor —em vez de maior, mais lenta e mais inchada. Tomara que o resto da indústria entenda a dica.


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