Bloqueio do WhatsApp foi desproporcional, mas deixou lições
Veja abaixo os principais pontos de debate
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Marco Civil garante que serviços não parem
A decisão da Justiça ao bloquear o WhatsApp se baseou no Marco Civil da Internet, lei aprovada em 2014 que estabelece direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Para Carlos Affonso Souza, a lei é interpretada de forma equivocada no caso. Ela prevê sanções de advertência, multa, suspensão e proibição de atividades, que podem ser aplicadas inclusive para empresas com sede no exterior. Contudo, apenas atividades como coleta, armazenamento e tratamento de registros e dados pessoais podem ser suspensas. "Suspensão é medida excepcional e gravíssima. O WhatsApp é o aplicativo mais usado no Brasil. Estão matando uma mosca com uma bala de canhão", diz o especialista. Já ocorreram no Brasil casos semelhantes. Em 2007, o Youtube foi bloqueado devido à divulgação de vídeo íntimo da atriz Daniella Cicarelli. Grande inspiração para a aprovação do Marco Civil veio desse caso, quando se percebeu a importância de garantir o equilíbrio entre o direito de vítimas na internet e de usuários de serviços.
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WhatsApp desrespeitou Justiça no Brasil
O WhatsApp desrespeitou a Justiça ao se negar a repassar registros eletrônicos solicitados em investigação criminal. "Empresas normalmente fornecem dados quando há ordem judicial, e há no Marco Civil previsão para isso", afirma Rony Vainzof. Segundo o especialista, em casos em que registros de dados são solicitados, o Facebook, proprietário do WhatsApp, alega que é apenas um representante comercial no Brasil da WhatsApp Inc., que tem sede na Califórnia, EUA. Mark Zuckerberg, fundador da empresa, disse que não esperava que "esforços em proteger dados pessoais poderiam resultar na punição de todos os usuários brasileiros do WhatsApp". Contudo, havia uma ordem da Justiça a ser cumprida. "O Facebook deveria vir a público e falar porque não está cumprindo ordem judicial no país", diz Vainzof. Para ele, está em jogo a soberania da Justiça brasileira.
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Cooperação Brasil-EUA poderia ser mais rápida
Para ter acesso a dados necessários para a conclusão de investigação criminal, a Justiça brasileira poderia ter se valido de um tratado internacional firmado com os EUA em 1997 que garante a assistência legal entre os dois países. Mas o processo seria mais burocrático e demorado. "É necessário que essas trocas de informações sobre empresas sediadas em países distintos sejam mais céleres e eficazes", diz Vainzof.
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Usar VPN não é ilegal
Com o bloqueio do WhatsApp, muitos usuários recorreram a mecanismos que "burlam" a suspensão. Aplicativos de VPN permite que smartphones funcionem como se estivessem conectados de outros países, podendo assim acessar o aplicativo de mensagem. "O uso de VPN não é ilícito. Ordem de bloqueio é para empresas de telefonia cumprirem. Não existe ordem para o usuário", diz Souza.
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Aplicativos são importantes para as pessoas
Os especialistas chamam a atenção para como a demanda de aplicativos VPN cresceu com a suspensão do WhatsApp, o que mostra como aplicativos de mensagens são importantes para as pessoas. "O tema todo ganhou rapidamente ares de interesse nacional. Mostra como técnica permeia nossas vidas. Quando nos é retirado o uso de um aplicativo, é visto como questão grave, que causa dano no nosso cotidiano, uma intromissão nas nossas vidas", diz.
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Ressarcimento por danos é difícil
Possíveis prejuízos causados pela suspensão do WhatsApp - como para pessoas que usam o aplicativo para trabalho, comércio - dificilmente seriam ressarcidos. Isso porque o bloqueio é fruto do cumprimento de uma ordem judicial, faltando caráter ilícito na suspensaão do serviço. Quem se sentisse lesado, além de ter provas do prejuízo, teria que apontar o causador do dano. "Vai entrar com ação contra quem? O próprio Facebook e WhatsApp discordam da suspensão", diz Souza.
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Aprendizado sobre regras na internet deve ocorrer
Para Souza, é natural que uma lei nova como a do Marco Civil passe por "testes" de interpretação e aplicação. Ele vê no caso uma oportunidade de aprendizado com relação à regulação da internet e à garantia do equilíbrio entre direitos fundamentais. "Ao invés de criar precedente [para decisões semelhantes], juízes no futuro terão todo cuidado antes de declarar suspensão de um aplicativo", diz.
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