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Nokia: A ascensão e queda de uma gigante dos celulares

Dave Lee

Repórter de Tecnologia da BBC News

04/09/2013 15h00Atualizada em 05/09/2013 10h37

A Microsoft anunciou nesta semana a aquisição da unidade de celulares da Nokia por 5,4 bilhões de euros (cerca de R$ 16,8 bilhões).

Em menos de 10 anos, a adorada companhia finlandesa foi da ascensão à queda - do domínio do mercado de telefonia móvel à venda para a Microsoft.

  • Getty Images

    Antigos celulares da Nokia

Mas o que aconteceu? E o que essa aquisição significa para a Microsoft?

Ao ligar um dos lendários aparelhos da Nokia, a primeira imagem era sempre a mesma: o aperto de mãos, o famoso logo de assinatura da empresa.

E por mais de uma geração, foi isso o que a Nokia fez melhor: "dar as mãos" e levar as pessoas, pouco a pouco, pela revolução da telefonia móvel.

Fundos de tela customizáveis e sistemas operacionais foram precedidos por superfícies (muito, muito legais) que podiam ser trocadas.

E é claro, mais de 12 anos antes de jogos como o Angry Birds, o Snake estava lá para liderar todos os outros.

A Nokia não foi a primeira empresa a lançar um telefone celular disponível comercialmente, mas foi a primeira a fazê-lo muito bem, e com verdadeiro apelo de massa.

"Nos anos 1990, não havia muitas marcas grandes de telefonia celular", diz Ben Wood, pesquisador da CCS Insight, empresa que fornece análises de mercado.

"A Nokia era dominante. As pessoas não falavam sobre marca, era uma questão de número. Elas se referiam ao celular que tinham pelo número de série [da Nokia], como 3210", acrescenta Wood.

Era de complacência

Até então estava tudo certo. Mas uma apresentação mudou tudo.

Para Wood, "a complacência tomou conta da empresa. Eles achavam que nada poderia dar errado."

"Mas de repente, em janeiro de 2007, Steve Jobs subiu no palco e tirou o iPhone do bolso, e mudou o mundo para sempre."

A queda foi rápida. Segundo dados da Gartner, o smartphone da Nokia era líder em 2007, com uma fatia de 49,4% do mercado. Nos anos seguintes esse número foi caindo, de 43,7%, para 41,1% e depois 34,2%.

Na primeira metade deste ano, a fatia de mercado da Nokia era de 3%.

Muitos colocam a culpa por esse declínio, pelo menos nos estágios iniciais, no Symbiam, o sistema operacional da empresa. Segundo especialistas, ele simplesmente não cumpriu seu papel.

"Eles esqueceram da importância do software", diz Woods.

"A Nokia fez excelentes telefones, e ainda faz. Eles tiveram uma década incrível de inovação em hardware, mas o que a Apple percebeu foi que você só precisa de um retângulo com um visor, e o resto quem faz é o software."

Windows

Foi uma questão de poucos anos para os telefones da Nokia deixarem de ser um objeto de desejo e passarem a ser um aparelho esquecido, enterrado na eterna cova dos telefones celulares, em uma gaveta qualquer.

Então por que a Microsoft gastaria mais de R$ 16 bilhões em um negócio que parece estar em franco declínio?

Usando uma analogia romântica, elas eram as duas únicas empresas que não se juntaram a outras.

"A Microsoft ficou sem alternativas, e ela precisa ser bem sucedida na área de telefones móveis", avalia Wood.

Mas ao contrário do que muitos pensam, a compra da unidade de celulares da Nokia fez sentido para as duas empresas.

Os principais smartphones da Nokia já usam o Windows Phone, o sistema operacional da Microsoft - que, apesar de ainda estar bem atrás de seus competidores, está pelo menos conseguindo ganhar terreno.

O presidente executivo da Microsoft, Steve Ballmer, disse à BBC que a aquisição significa que agora a empresa pode "melhorar a agilidade" das inovações em telefonia móvel.

A analista Roberta Cozza, da Gartner, concorda. "Para competir no mercado de celular com a Apple e o Google, a Microsoft precisava ser mais do que uma companhia de software", afirmou Cozza à BBC.

"Dependendo de como organizarem a estrutura da empresa com o pessoal da Nokia lá dentro, eles podem permitir que a Nokia trabalhe na inovação de hardware, enquanto eles oferecem conhecimento em relação ao sistema operacional, criando assim a oportunidade de desenvolver produtos mais competitivos."

Fora isso, avalia Cozza, a Microsoft ganha conhecimento em mercados emergentes. "A Nokia conhece bem esse mercado, e isso vai além do hardware", acrescenta a analista.

Reinventando a Nokia

É difícil imaginar a Nokia como algo diferente de uma companhia de telefone celular.

Mas se olharmos a história da empresa, percebemos que ela tem uma habilidade incrível de se reinventar. Houve um tempo em que a Nokia era famosa por suas botas de borrachas e pneus de carros.

"Eu não descartaria (a possibilidade de) uma 'nova' Nokia conseguindo criar algo novo", afirma Wood.

Pistas sobre o futuro da empresa podem ser encontradas em seus recentes movimentos estratégicos.

Um negócio recente, por exemplo, foi a compra pela Nokia da participação da Siemens na Nokia Solutions and Network, uma empresa de banda larga móvel.

O software de mapas da Nokia, que continua no portfólio da empresa, é líder de mercado - na Grã-Bretanha, por exemplo, é usado em 80% dos carros com GPS.

E é claro, graças ao domínio inicial da Nokia, ela possui muitas patentes importantes para a indústria de telefonia móvel.

A Forbes estima que o portfólio da Nokia vale algo em torno de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 9,4 bilhões).

Por um lado, a crise recente pode sinalizar o começo do fim da Nokia como uma marca bem conhecida nas mãos de milhões de pessoas. Mas, por outro, muitos acreditam que a empresa está em boa forma para avançar e se tornar um elemento crucial nos bastidores da indústria - sem a distração da constante necessidade de manter uma alta popularidade.

"Basicamente, o que resta é uma nova Nokia", conclui Wood.