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Brasileiros viciados em games se tornam empresários de sucesso antes dos 18 anos

Henrique (à direita) e Pedro (à esquerda) começaram uma parceria pela internet e hoje movimentam um negócio valorizado internacionalmente - Fernando Perecin/BBC
Henrique (à direita) e Pedro (à esquerda) começaram uma parceria pela internet e hoje movimentam um negócio valorizado internacionalmente Imagem: Fernando Perecin/BBC

Luana Ferreira

De São Paulo para a BBC News

09/11/2015 16h09

Henrique Dubrugras, de 19 anos, e Pedro Franceschi, 18, costumavam passar pelo menos um terço do dia jogando videogame, com os olhos grudados na tela do computador.

Hoje, a rotina dos dois jovens mudou um pouco, e o que era brincadeira virou coisa séria: eles abriram um negócio e, com menos de 20 anos de idade, já estão fazendo sucesso no mercado.

Viciados em games desde crianças, Henrique e Pedro se conheceram pela internet e, dois anos atrás, montaram a start-up Pagar.me –, fornecedora de um sistema de pagamento online que hoje tem 30 funcionários e cerca de 200 clientes. Eles ganharam prêmios e atraíram R$ 1 milhão em investimento estrangeiro.

O sistema funciona de forma semelhante ao Paypal e visa simplificar o cadastro, o pagamento e a aprovação de compras feitas online.

O Pagar.me fica com 1,5% do valor de cada compra, mais uma taxa de 50 centavos. Os clientes também pagam uma comissão que varia de 3% a 5% para a empresa.

"As pessoas não imaginavam que nós pudéssemos criar algo tão inovador", disse Henrique à BBC.

Início 

A dupla se conheceu justamente por causa do seu interesse por games.

Henrique tinha 12 anos e gostava de um jogo coreano chamado Ragnarok, mas seus pais não queriam pagar pela licença do game. Ele decidiu, então, programar sua própria versão do jogo.

Com um novo servidor hospedando o jogo criado por ele, Henrique passou a atrair milhares de gamers para jogar a sua versão do Ragnarok – pagando por isso. E foi aí que ele começou a ganhar dinheiro com seu maior vício.

"Eu costumava fazer meus próprios servidores, porque aí eu não precisava pagar pela versão original do jogo".

Já o cofundador da empresa, Pedro Franceschi, teve um início ainda mais precoce no mundo da programação: aos 9 anos. Aos 12, conseguiu desbloquear o iPhone 3 no Brasil e, pouco tempo depois, aos 15 anos, fez a assistente da Apple, Siri, falar português.

Henrique e Pedro se conheceram via Twitter quando o primeiro tinha 17 anos e o segundo, 16. Eles participavam de um debate online sobre diferentes tipos de programação de softwares.

"Foi ali que nossa amizade começou. Eu ganhei a discussão e, ao mesmo tempo, um sócio", disse Henrique.

Mas os dois moravam em cidades diferentes – Henrique em São Paulo e Pedro no Rio de Janeiro. Então, no início, a parceria era só online.

Dilemas de adolescentes 

Com idade parecida, tanto Henrique quanto Pedro viviam os mesmos dilemas de adolescência - por exemplo, como convidar sobre como chamar uma garota da escola para sair sem ficar constrangido, caso a resposta seja "não", ao olhar para no dia seguinte na sala de aula.

Foi então que, em uma maratona de programadores (Hackaton), a equipe de Henrique teve a ideia de um aplicativo chamado AskMeOut. Ele funcionaria como o Tinder para conectar pessoas próximas interessadas em encontros amorosos. Com essa proposta, eles conquistaram o primeiro lugar e um prêmio de R$ 50 mil.

Depois disso, Henrique percebeu que homens e mulheres estavam usando o aplicativo de formas diferentes – enquanto mulheres eram mais seletivas, homens costumavam clicar e "curtir" a maioria das mulheres que apareciam na lista. A solução, então, foi cobrar dos usuários homens do aplicativo – como cada "like" precisava ser pago, eles ficaram mais seletivos também.

O AskMeOut deu certo, mas Henrique queria um sistema de pagamento melhor para o aplicativo. Coincidentemente, nesse momento ele conheceu Pedro e, juntos, eles pensaram na solução – que viria ser o Pagar.me.

Sucesso

Nascido da parceria entre dois adolescentes, hoje o Pagar.me emprega funcionários de idades entre 16 e 45 anos. Ainda assim, de acordo com os cofundadores, a "juventude" dos donos da empresa não atrapalha a relação deles com a equipe.

"Acreditamos que bons líderes são aqueles que atingem suas metas junto com a equipe. Não é uma questão de gênero, qualificação ou idade", disse Henrique.

"Liderar um negócio é uma coisa complicada, mas sempre tivemos sorte de sermos guiados por pessoas que admiramos nos momentos mais difíceis – algo que nos salvou várias vezes durante a evolução da empresa", acrescentou.

"Na realidade, nós ainda somos adolescentes. Gostamos de jogar videogame e de sair com os amigos. É cada vez mais comum as pessoas buscarem suas ambições cada vez mais cedo. Somos apenas duas pessoas normais que tocam um negócio."