Campanha brasileira inspira hashtag em inglês sobre primeiro assédio sexual
Após a repercussão da campanha brasileira #PrimeiroAssédio ter sido contada pelo BBC Trending (blog em inglês da BBC sobre histórias por trás de casos muito comentados nas redes sociais), uma hashtag sobre o tema em inglês vem sendo usada por mulheres de várias partes do mundo para compartilhar suas primeiras experiências de assédio sexual.
Usando a hashtag #firstharassment, uma tradução da BBC em inglês para "primeiro assédio", mulheres de países como Grã-Bretanha, Estados Unidos, Chile, Portugal e Holanda relatam os primeiros momentos nos quais lembram de terem se sentido constrangidas ou ameaçadas por comentários ou avanços sexuais.
A campanha brasileira surgiu no Twitter há cerca de duas semanas e levou mulheres a contarem sobre a primeira vez em que sofreram assédio sexual.
A hashtag foi motivada pela indignação nas redes sociais com os comentários de teor sexual a respeito de Valentina, uma criança de 12 anos que participa do programa de culinária MasterChef Júnior.
Um post no Facebook da BBC News sobre o assunto estimulou leitoras europeias a contar suas histórias.
"Quando eu tinha 12 anos, estava esperando o ônibus pra ir para casa e um homem de uns 40 anos insistia em me levar para tomar um café ou comer pizza naquele instante", contou uma holandesa. "Ele me agarrou, mas o ônibus chegou e eu consegui entrar. Isso aconteceu em uma rua comercial movimentada às 20h."
Outra mulher, que cresceu em Portugal, disse: "Quando eu fiz 12 anos, comecei a evitar passar diante de lugares em construção ou lugares em que eu sabia que haveria muitos homens por causa das coisas sexuais e degradantes que eles gritavam para mim. Era tão ruim que um dia um deles me tocou e eu precisei mudar o caminho para a escola".
"Eu sofri desde cedo (com assédio) por ter seios grandes. Agora, mesmo sendo avó, continuo ouvindo comentários obscenos e grosseiros", disse uma britânica.
Nos Estados Unidos
A BBC Brasil produziu a reportagem para o blog BBC Trending em inglês, e o repórter Luís Barrucho também participou de um debate da rádio britânica sobre o tema.
Reportagens na imprensa americana também contribuíram para que, no Twitter, a hashtag se espalhasse no país.
"Eu estava no terceiro ano (da escola) e um aluno do ensino médio expôs (o órgão genital) para mim", revelou uma americana.
Para Juliana de Faria, criadora do coletivo feminista Think Olga e da campanha #PrimeiroAssédio, a repercussão entre mulheres de outros países "comprova que falamos sobre um problema universal".
"Acontece aqui, no Egito, nos Estados Unidos e no Reino Unido porque estamos falando de uma disparidade que é histórica, a desigualdade de gênero", disse à BBC Brasil.
"É importante que, tanto aqui quanto lá, estejamos mudando a noção do que é esse comportamento, que era entendido como algo que faz parte de ser homem e parte da vida. Existe aí uma revolução feminina que diz 'não'. É violência."
No Brasil, a hashtag foi compartilhada mais de 90 mil vezes. Um levantamento feito pelos criadores da hashtag #PrimeiroAssédio mostrou que, em pelo menos 3.111 tuítes, as vítimas diziam a idade que tinham no episódio. A maioria delas foi assediada pela primeira vez quando tinha entre 9 e 10 anos de idade.
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