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'Milhares viram, em 70 países, as imagens das câmeras de segurança de minha casa sem que eu soubesse'

Rivaldo Gomes/Folhapress
Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

18/05/2018 09h00

Quando Alan e sua mulher, Jean, se mudaram para uma casa em Leeds, no norte da Inglaterra, decidiram instalar câmeras de segurança para sentirem-se mais protegidos.

O local já tinha equipamentos de videovigilância, mas eles quiseram reforçá-lo. "Pouco antes de virmos para cá, alguém entrou e roubou uma bicicleta, então, pensei que seria uma boa ideia colocar mais câmeras", contou Alan à BBC.

Foram instalados dois novos aparelhos na área externa, de qualidade melhor que os anteriores e que permitiam ver com mais detalhes o que ocorria. No total, Alan e Jean têm sete câmeras em sua casa, todas elas com acesso remoto, ou seja, é possível ver suas imagens à distância.

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Mas o casal nunca imaginou que não só eles, mas milhares de pessoas de diferentes partes do mundo podiam observar pela internet o que era gravado.

Gravação na nuvem

Jean conta que não se sentia ameaçada por algum perigo em particular e não via tanta necessidade de instalar mais câmeras, mas não fez objeção à proposta do marido.

"Deixei que ele fizesse como queria, mas, após algumas semanas, fiquei sozinha em casa e pensei: 'Bem, isso até que não é ruim", disse ela.

Alan e Jean tinham sete câmeras 'inteligentes' em sua casa em Leeds, na Inglaterra - Reprodução/BBC - Reprodução/BBC
Alan e Jean tinham sete câmeras 'inteligentes' em sua casa em Leeds, na Inglaterra
Imagem: Reprodução/BBC

As câmeras inteligentes escolhidas por Alan tinham, além da captação eletrônica de imagens, um processador para tratar os vídeos gravados e conexão com a internet, através da rede wi-fi da casa.

Isso permite não só assistir às imagens pelo celular, mas também mantê-las armazenadas na nuvem, ou seja, uma empresa guarda esses dados em seus servidores, por dias ou até mesmo meses.

Pelo aplicativo no telefone, Alan e Jean também podiam ativar e desativar os aparelhos e receber alertas caso fosse detectado algo fora do comum.

Sistema de busca

Mas esses sistemas também podem ser invadidos por hackers - e fazer isso é "muito fácil", explicam especialistas da empresa de segurança digital Kaspersky Lab.

"O acesso às câmeras é feito por meio de uma interface online, em outras palavras, cada câmera tem sua própria minipágina na internet. Essa interface pode ter um sistema de controle para mudar o ângulo das imagens, aproximá-las e distanciá-las e habilitar o som. Em outros casos, é apenas uma transmissão online, sem interrupção, com as imagens sendo constantemente atualizadas, como uma transmissão de TV."

O problema é que existem "sistema de busca especializados", explicam os especialistas, como Shodan e Censys, capazes de "encontrar com facilidade essas 'páginas na web' e 'transmissões'".

O especialista em segurança Cal Leeming já foi um dos hackers mais jovens do Reino Unido, quando tinha 12 anos, e passou a última década criando empresas no Vale do Silício, nos Estados Unidos, desenvolvendo soluções de cibersegurança.

Ele examinou o sistema de câmeras de Alan e Jean como parte de uma investigação exclusiva da BBC para saber quantas vezes as imagens registradas foram vistas por outras pessoas. O resultado é assustador.

Desde 2015, as gravações foram assistidas cerca de 5 mil vezes em 70 países. "É bastante... Incrível, não?", disse Alan. "Meu Deus", exclamou Jean.

O dia a dia deles foi visto em países tão distintos quanto Espanha, Itália, França, Marrocos, Egito, Turquia, Ucrânia, Rússia e Azerbaijão. Estranhos assistiram a um total de 366 horas, segundo Leeming. A sessão mais longa ocorreu na França: foram nove horas seguidas.

"Acredito que isso, sem dúvida, nos fez perceber que precisamos ter muito mais controle sobre isso, começando por senhas melhores. É meu próximo projeto", disse Alan.

"Alan, você está demitido", retrucou Jean, antes de cair na risada.


O que fazer para minimizar os riscos de um sistema de videovigilância?

  1. Atualize o firmware - o programa que rege o funcionamento dos equipamentos - com regularidade.
  2. Use senhas seguras (e as mude com frequência).
  3. Desative as funções que não usará, sobretudo se são serviços de nuvem
  4. Habilite um acesso https, que é mais seguro, à câmera.
  5. Configure seu roteador doméstico para isolar sua rede interna do mundo externo.

Fonte: Kapersky Lab

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