Topo

Vale do Silício busca talentos femininos oferecendo congelamento de óvulos

Teresa Bouza

Em San Francisco

15/10/2014 20h58

A notícia de que Facebook e Apple darão uma ajuda de custo para as funcionárias que decidirem congelar os óvulos e assim adiar a maternidade reflete a crescente batalha no Vale do Silício para atrair e reter o talento técnico feminino.

O Facebook começou a oferecer em janeiro, e a Apple começará no início do ano que vem, até US$ 20 mil para o congelamento e armazenamento de óvulos.

Cada ciclo de estimulação ovárica ronda os US$ 10 mil, além dos US$ 500 de custo anual de armazenamento dos óvulos.

Este incentivo se soma à lista de benefícios extras que as empresas tecnológicas oferecem, como os US$ 4 mil para os recém pais, mas nenhum tinha atraído tanta atenção, nem gerado tanto debate, como a oferta de financiamento para o congelamento de óvulos.

"Quando completei 30 anos tinha ideia que meu relógio biológico continuava rodando, mas não sabia quais eram minhas opções", contou à rede de televisão "NBC" News, Jennifer Tye, responsável de marketing da Glow, empresa de saúde reprodutiva.

Para Tye, o congelamento de óvulos dá à mulher "mais controle", ao evitar ter de decidir entre a maternidade e a carreira profissional.

Brigitte Adams, fundadora do fórum virtual Eggsurance, no qual as interessadas no procedimento compartilham informação sobre as melhores alternativas, assinalou em comunicado que conciliar uma carreira bem-sucedida com a maternidade "ainda é muito difícil".

Ela acredita que a oferta do Facebook e da Apple dá um respaldo às mulheres na hora de decidir que é o melhor para elas.

Mas não faltou quem alertasse que o procedimento, ainda novidade, não garante que a maternidade acontecerá.

De fato a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva desaconselha depender do congelamento de óvulos para garantir a prorrogação da fertilidade, embora indique que quanto mais jovem a mulher é quando o procedimento é realizado maiores são as possibilidades de sucesso.

O Hospital Mount Sinai de Nova York defendeu que a tecnologia utilizada para o congelamento de óvulos melhorou muito nos últimos anos e as chances de o procedimento se traduzir no nascimento de uma criança são mais altas do que no passado.

A fertilidade feminina se reduz gradualmente a partir dos 30 anos e sofre uma grande queda a partir dos 35. A ideia é que o congelamento de óvulos aos 20 anos oferece maior possibilidade de gravidez do que no fim dos 30 ou aos 40 anos.

Não falte quem mostre ceticismo. Glenn Cohen, co-diretor do Centro de Biologia e Bioética da Escola de Direito de Harvard, escreveu em um blog ano passado que as mulheres que recebem esse benefício podem interpretá-lo como um sinal de que as empresas que as contratam consideram que a gravidez e seu trabalho é "incompatível".

A coleta e o congelamento de óvulos requerem várias rodadas de injeções hormonais para estimular a produção de óvulos no organismo.

A notícia da oferta da Apple e Facebook chega em meio a um grande debate sobre a falta de diversidade de gênero no Vale do Silício.

Os últimos dados de diversidade publicados pelas grandes empresas do setor de tecnologia mostram que as mulheres representam, no melhor dos cenários, apenas 30% da força de trabalho, percentual que as empresas pretendem ampliar.

Para alcançá-lo, companhias como Google lançaram iniciativas como "Make with Code", na qual investirá US$ 50 milhões nos próximos três anos para ensinar meninas e adolescentes a programar e obter uma base para o recrutamento futuro.