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Teste compara telas digitalizadoras profissionais de US$ 300 e US$ 2.000; veja

Telas digitalizadoras: equivalente eletrônico de uma caneta, um lápis ou um pincel aplicado sobre papel, de forma que artistas, animadores e arquitetos possam desenhar ou pintar - Divulgação
Telas digitalizadoras: equivalente eletrônico de uma caneta, um lápis ou um pincel aplicado sobre papel, de forma que artistas, animadores e arquitetos possam desenhar ou pintar Imagem: Divulgação

David Pogue

Do New York Times

07/05/2012 12h37

Grande parte da mágica do iPad – e do sucesso desse aparelho – deve-se à forma direta como se dá o toque de tela. Durante décadas nós arrastamos um mouse sobre uma superfície plana para fazer com que o cursor se movesse em uma outra superfície. E, agora, subitamente, podemos transmitir comandos ou desenhar na própria tela.

Mas em lugares como a Pixar e a Marvel, os indivíduos já estão desenhando alegremente sobre telas de computador desde 1992. Foi naquele ano que a Wacom lançou o seu primeiro pen display – o seu primeiro tablet para desenhar diretamente sobre uma tela – para artistas.

O objetivo é criar o equivalente eletrônico de uma caneta, um lápis ou um pincel aplicado sobre papel, de forma que artistas, animadores e arquitetos possam desenhar ou pintar digitalmente. O indivíduo utiliza uma caneta eletrônica sem fio. Ao contrário do que vemos no iPad e na maioria dos computadores de toque de tela, essas telas ignoram o contato da pele, de forma que o usuário pode descansar a mão sobre o vidro enquanto desenha. Também diferentemente do iPad, esses aparelhos pen displays são sensíveis a pressão. Portanto, o usuário desenhará uma linha mais grossa ou mais escura ao pressionar com mais força.

A Wacom domina esse mercado. As suas telas de toque Cintiq são precisas, fluidas, resistentes, adoradas pelos profissionais e caríssimas.
Elas custam de US$ 1.000 para um modelo de 30,5 centímetros (12 polegadas) a US$ 2.500 para um de 60,1 centímetros (24 polegadas). É verdade: quem for artista digital poderá desembolsar até quatro vezes mais pela tela do que pelo computador.

Mas há mudanças no horizonte. Pen displays baratos de companhias chinesas pouco conhecidas como a Yiynova, a P-Active e a Bosto começaram a surgir no mercado, e estão à venda, por exemplo, na Amazon, podendo ser encontradas por até US$ 300.

“Esses aparelhos provavelmente não são tão bons quanto o Wacom”, me disse o leitor Evan Schultz por e-mail. “Mas você percebeu a diferença de preço? Com uma diferença tão grande isso poderá acabar sendo algo como a batalha entre o maravilhoso iPad de US$ 600 e o suficientemente bom Kindle de US$ 200”. De fato, isso poderá ocorrer.

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    O Cintiq é enorme. Pesando 10,2 quilogramas, é necessário usar as duas mãos, e de preferência duas pessoas, para tirá-lo da caixa e instalá-lo no suporte

Schultz continuou, observando que se esses tablets mais baratos forem bons, eles poderão ser úteis não apenas para os artistas digitais. “Advogados e jornalistas que precisarem editar documentos, médicos que desejarem tomar notas em periódicos de medicina, ou qualquer pessoa que deseje usar uma caneta, em vez de um teclado, para escrever. Até agora este tem sido um mercado pequeno, mas a competição poderá tornar essa tecnologia acessível para todos os tipos de pessoas”.

Bem, Schultz, esta coluna é para você – e para todos os advogados, jornalistas, médicos e adeptos da escrita manuscrita que estão interessados nessa tecnologia. Para verificar o que se pode obter com apenas US$ 300, eu comparei dois dos aparelhos mais baratos – os tablets de 25,4 centímetros (10 polegadas) e o de 48,3 centímetros (19 polegadas) da Yiynova – com o modelo de 53,3 centímetros (21 polegadas) da Wacom, o Cintiq 21 UX, de US$ 2.000.

Mercedes dos pen displays

O Cintiq é enorme. Pesando 10,2 quilogramas, é necessário usar as duas mãos, e de preferência duas pessoas, para tirá-lo da caixa e instalá-lo sobre o seu suporte. Após ser instalada, esta tela pode ser virada para qualquer ângulo que seja confortável para o desenhista – podendo até ficar quase que na posição horizontal sobre a mesa, se o usuário assim desejar – e fazer um giro de 180 graus para qualquer direção, o que é fantástico quando se está desenhando esboços ou modelos em três dimensões.

Um cabo preto e grosso sai da tela e se divide em vários conectores: vídeo, USB e energia. Os conectores de USB e de vídeo podem ser ligados a computadores Mac ou PC, da mesma forma que um monitor externo comum. Na verdade, o usuário pode utilizar o Cintiq como o seu monitor principal, embora ele seja menos luminoso do que os monitores de função específica.

(Usuários de Mac, cuidado: o último iMac não tem saída externa de vídeo, de forma que não é possível utilizar o Cintiq com ele. E quem tiver um MacBook terá que comprar um adaptador para ligar a entrada Mini DisplayPort desse laptop ao conector DVI do Cintiq).

Depois é necessário instalar o software para o driver. O usuário calibra a tela pressionando-a com a caneta eletrônica em quatro pontos determinados, o que fará com que o aparelho registre a maneira como a pessoa deseja segurar a caneta. Finalmente, abre-se um programa de pintura ou de desenho em 3-D como Photoshop, Illustrator, Corel Painter, Manga Studio ou Maya 3D, e aplica-se a caneta sobre a tela.

Há um breve descompasso, especialmente em se tratando de trabalhos de arte de alta resolução, entre o toque da caneta e a aparição da “tinta”, e existe uma lacuna minúscula a separar a ponta da caneta da imagem propriamente dita.

Mas, após alguns minutos, o usuário sentir-se-á tão satisfeito e produtivo quanto os artistas que exibem orgulhosamente amostras dos seus trabalhos feitos com os seus Cintiqs no YouTube. A sensação é a de estar desenhando em papel; a ponta da caneta não escorrega sobre o vidro. A operação é incrivelmente precisa e suave.

À medida que trabalhamos com o aparelho, podemos deslizar o dedo para cima ou para baixo no canto anterior do aparelho para aumentarmos ou diminuirmos a imagem, um recurso que é muito útil. Com o toque de um botão, podemos modificar a função dessa faixa de toque de forma que ela aumente ou diminua o pincel utilizado, ou passe pelas camadas de imagens de Photoshop, ou gire a tela inteira. Existem 16 outros botões programáveis na parte posterior.

O usuário pode modificar facilmente a função da caneta eletrônica de instrumento de pintura para mouse: para movimentar o cursor sem traçar linhas levanta-se ligeiramente a ponta da caneta para que ela deixe de tocar a tela. Há botões para cliques à direita e duplos cliques na caneta. O topo da caneta funciona como borracha na maioria dos programas. Conclusão: este equipamento é ótimo, e caríssimo.

Opção chinesa

Após dirigir por algum tempo o Mercedes dos pen displays, eu testei o equivalente do Toyota Yaris: o Yiynova DP10 (US$ 300), vendido nos Estados Unidos pela ThePandaCity.com.

Este tablet consiste de um retângulo de 680 gramas que pode ser facilmente segurado com uma das mãos enquanto se desenha, embora ele também possua um suporte na parte posterior. Ao contrário do Cintiq, o DP10 não precisa ser ligado em uma tomada nem exige uma conexão com a entrada de vídeo do computador do usuário. Em vez disso, de forma surpreendente, o usuário conecta o aparelho ao seu PC com um único cabo preto de USB (bem, um cabo duplo. São necessárias duas entradas de USB para a obtenção da energia necessária).

Eu tive dificuldade em fazer com que ele funcionasse, e os comentários dos usuários no site da Amazon indicam que eu não fui o único. O manual em inglês tem erros que fariam um Hemingway chorar.

A companhia me ajudou simpaticamente pelo telefone e por e-mail, mas, mesmo nestes casos, a língua foi às vezes um empecilho. E o DP10 funciona melhor com Windows. Ele pode ser usado em um computador Mac, mas de forma precária.

Mas quem superar esse estágio de instalação perceberá que o preço baixo, o pouco peso e a portabilidade surpreendentes fazem com que o DP10 proporcione possibilidades fascinantes. A tela é brilhante e nítida. A caneta funciona com os programas gráficos usuais, sendo também sensível a pressão (na extremidade esquerda há botões de zoom, scroll e luminosidade).

Ele também funciona com os recursos de tablet do Windows – por exemplo, reconhecimento de escrita. Somente a tela pequena (1.024 por 600 pixels) e a superfície escorregadia atrapalham um pouco a experiência.

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    Yiynova DP10: retângulo de 680 gramas que pode ser facilmente segurado com uma das mãos enquanto se desenha, embora ele também possua um suporte na parte posterior. Ao contrário do Cintiq, o DP10 não precisa ser ligado em uma tomada nem exige uma conexão com a entrada de vídeo do computador do usuário

A minha experiência final envolveu o irmão maior do tablet, o Yiynova MSP19. Esta é uma tela de 48,3 centímetros (19 polegadas), maior e mais pesada, e que lembra mais o desempenho do Cintiq – mas que custa apenas US$ 500.

As imagens são nítidas e vibrantes, e a qualidade da fabricação impressiona. Esse aparelho também faz o trabalho extremamente bem.
Mas não devemos nos iludir: o Cintiq é superior sob múltiplos aspectos. Por exemplo, a sua caneta jamais precisará de uma bateria, e ela traz uma borracha no topo. Se o usuário fizer traços rápidos, a ponta da caneta também “soltará menos tinta” no Cintiq.

Mas suponha que você não trabalhe na Pixar. Suponha que você não tem como desembolsar US$ 2.000 neste momento. Nesse caso, você achará os modelos mais baratos surpreendentemente bons tendo em vista o preço. Para estudantes, amadores e tomadores de notas de todos os tipos esses aparelhos consistem em uma opção intermediária fascinante entre o oito e o oitocentos.

Ou, colocando as coisas de uma outra maneira, o Cintiq pode ser um iate de luxo, mas o Yiynova não é nenhum lixo chinês.

Vale a pena comprar um tablet ''genérico'' de R$ 200?