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Novo tablet da Samsung vem com 'caneta' e aposta em criação de conteúdo; veja review

Versão prata do Samsung Galaxy Note 10.1  - Divulgação
Versão prata do Samsung Galaxy Note 10.1 Imagem: Divulgação

David Pogue

Do New York Times

20/08/2012 06h05

A notícia quente dos círculos de advogados do Vale do Silício esses dias é o processo titânico da Apple contra a Samsung. A Apple sustenta que a Samsung roubou alguns designs de iPhone e iPad ao criar a série Samsung Galaxy de telefones e tablets.

É um caso grande, muito grande; bilhões de dólares estão em jogo. E já está tendo um efeito: hoje em dia, a Samsung está sendo cuidadosa para evitar imitar a Apple sem disfarçar.

Veja por exemplo o novo Samsung Galaxy Note 10.1, um concorrente do iPad, que chegou às lojas dos EUA nesta quinta-feira (17). Seria muito bom se a Samsung não chamasse todos os seus produtos de Galaxy, independentemente da categoria. Se você diz: “acabei de comprar o Samsung Galaxy”, ninguém sabe se você comprou um telefone, um tablet ou uma máquina de lavar louças.

A mensagem da fabricante para os compradores de tablet é a seguinte: “OK, o iPad é ótimo para consumir coisas – ler livros, assistir a vídeos, navegar na internet. Mas o nosso novo tablet Galaxy também é bom para criar coisas, por um motivo simples: vem com uma caneta. Viu como somos diferentes da Apple?”

 

Agora, lançar uma caneta nesta época e neste momento pode parecer um pouco datado. O PalmPilot tinha uma caneta. O Apple Newton tinha uma caneta. Todos aqueles horríveis computadores Windows tablet tinham canetas. Quando o iPad saiu, exigindo apenas o dedo para ser controlado, as canetas pareceram tão fora de moda quanto os carros a manivela.

Mas o Galaxy Note original da Samsung, com um tamanho esquisito, uma combinação de tablet e telefone com 5 polegadas, vendeu muito bem, pelo menos na Europa – e tinha uma caneta. A Samsung espera que o raio caia duas vezes no mesmo lugar com o Galaxy Note 10, de 10 polegadas.

O modelo base, só Wi-Fi, custa US$ 500. Ele vem com 16 gigabytes de armazenamento (o mesmo que o modelo básico do iPad) e 2 gigabytes de memória (duas vezes mais do que o iPad).

Recursos

Ele está carregado de funções. Câmeras na frente e atrás (1,9 megapixels na frente, 5 megapixels atrás, com flash de LED). Uma entrada de cartão para expandir o armazenamento (o iPad não tem isso). Um infravermelho que pode controlar seu sistema de TV. Alto-falantes estéreo na frente que soam muito melhor do que o alto-falante mono do iPad.

Características físicas

E apesar de tudo isso, o Note é um fio de cabelo mais estreito (0,8 centímetros) e mais leve (589 gramas) do que o Ipad.

  • Modelo básico do Galaxy Note custará US$ 500

Quando você o segura, percebe o porque logo de cara: ele parece de plástico e frágil. O plástico do painel de trás é tão fino, poderia ser vinil; você pode sentir ele se flexionar contra a placa de circuito lá dentro. A caneta de plástico, que pode ser deslizada para dentro de uma abertura no canto direito inferior, é ainda mais leve; parece tão barata que poderia ter vindo de brinde numa caixa de cereal.

O tablet parece querer ser usado horizontalmente, no modo paisagem. O logo da Samsung aparece de pé nesta posição, e o cabo de carregamento se conecta ali, no meio do lado mais longo. (O tablet também é uma polegada mais largo do que o iPad nesta dimensão.) É claro, você ainda pode girá-lo 90 graus para usá-lo na orientação de retrato.

Uma das principais inovações do Note são os apps lado-a-lado. Você pode deixar uma página da internet e uma página do notes uma ao lado da outra na tela, e copiar e colar (ou arrastar) material entre elas. Ou você pode deixar um vídeo tocando em uma janela enquanto tenta se inspirar para escrever algo no processador de texto (parte de um similar barato do Microsoft Office chamado Polaris Office).

Esta é uma grande mudança. Leva o tablet um pouco mais próximo da flexibilidade – e complexidade – de um verdadeiro PC.

No momento, a Samsung permitiu que apenas seis apps trabalhem no modo lado-a-lado: e-mail, navegador, video player, notepad, galeria de fotos e o Polaris Office. Esses são os apps que você naturalmente gostaria de usar desta forma, mas seria bom se você pudesse usar qualquer app no modo multitarefas. (A Samsung diz que em tempo acrescentará o calendário e outros aplicativos à lista de candidatos ao modo lado-a-lado.)


A Samsung também acrescentou, além do software Android Ice Cream Sandwich de um ano do Google, a opção de abrir mini-apps especiais na parte de baixo da tela: widgets que mostram o calendário, música, notepad e assim por diante. Se um dia você estiver particularmente entediado, pode abrir oito desses e dois aplicativos lado-a-lado, num total de 10 janelas simultâneas.

Caneta

A caneta às vezes é útil para tarefas normais dos dedos – como bater nas teclas ou botões na tela – mas funciona de fato no S Note, um programa especial que acompanha a caneta. Lá você pode rabiscar bilhetes à mão livre ou fazer desenhos como se fosse num guardanapo de papel.

Em um modo, você pode desenhar à mão livre e se maravilhar à medida que o software endireita seus rabiscos em linhas perfeitas e formas gemétricas (flashback do Newton!). Em outro, você pode escrever palavras; o Note as transforma em texto digitado. Há até um modo de fórmula matemática para estudantes, que reconhece as fórmulas escritas à mão e até as resolve.

Essas características são impressionantes, mas é difícil imaginar com que frequência elas são úteis. O reconhecimento da caligrafia é tão cru, que o forno nem mesmo estava quente. Você pode usá-lo em qualquer app, o que é bom. (É uma escola, junto com o reconhecimento de voz do Android, no botão de Opçoes do teclado da tela.) Mas ele frequentemente omite os espaços entre as palavras. Pior que isso, não há uma maneira fácil de editar o texto convertido, mesmo que você esteja com uma caneta de editor na mão. Clicar no texto não coloca o ponto de inserção no lugar – só faz um ponto.

Há apenas alguns vislumbres de utilidade para a caneta. A Samsung incluiu uma cópia do Photoshop Touch (que normalmente custa US$ 10 a mais), um app muito confuso de edição de fotos. Você pode acrescentar notas de texto à mão (mas que não é reconhecido) às mensagens de e-mail, compromissos da agenda e documentos do Polaris Office.

Ícones

Além disso, os designers de sofware devem ser ex-diretores de arte de Hollywood que fabricaram uma espaçonave alienígena; os apps da Samsung estão cheios de ícones bizarros. Nenhum deles têm rótulos de identificação em texto, e os logos costumam ser tão inúteis que podiam muito bem ser letras do alfabeto cirílico. Você imaginaria, por exemplo, que para acionar o reconhecimento de caligrafia, você deve clicar num ícone que mostra um círculo em frente a uma montanha?

Alguns dos ícones do S Note de fato mostram de vez em quando um menu diferente ao ser clicado. Não estou inventando isso.

O Note leva adiante várias tecnologias anteriores da Samsung. Você pode enviar fotos para o tablet a partir de algumas câmeras Samsung. Enviar a imagem da tela do tablet para uma TV (como na tecnologia AirPlay da Apple) se você comprar um “dispositivo HDMI” opcional para TV, que sairá neste semestre. Uma característica chamada Smart Stay usa a câmera da frente para identificar os olhos; quando você não está olhando para o tablet, ele reduz a luminosidade da tela para economizar bateria. Isso é muito legal.

Mas acima de tudo, o Note parece um tablet de lista de lavanderia. Tem um contador maior do que qualquer outro tablet, mas essas características estão armazenadas numa máquina com menos coerência do que qualquer outro tablet.

Bagunça

Claramente, a Samsung não tinha nenhum Steve Jobs à mão para vetar nada. Características que não funcionam bem estão misturadas com outras que são ótimas; funções que você nunca usará estão juntas com outras bastante úteis. (Por que os botões onipresentes e importantes do Androig – Back, Home, App Switcher – agora se juntaram a um quarto que imprime a tela? Será que a Samsung pensa que as pessoas imprimem a tela com a mesma frequência que voltam para a página inicial?)

Em geral, a Samsung está entusiasmada. Seus telefones Galaxy são os principais concorrentes do iPhone. Ela está disposta a fazer experimentos ousados de design – como acrescentar uma caneta. Está construindo um ecossistema de acessórios e lojas online para competir com a Apple.

Mas o Galaxy Note 10.1 demonstra que as características superiores, como hardware melhor e uma lista bem maior de funções não necessariamente faz um produto superior. Às vezes a moderação é tão importante quanto a exuberância.