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Cheia de falhas, ferramenta de mapas do iOS 6 tem oceano de dados questionáveis

O Tumblr "The Amazing iOS 6 Maps" divulga as falhas; acima, as pontes se juntaram com as ruas - Reprodução
O Tumblr "The Amazing iOS 6 Maps" divulga as falhas; acima, as pontes se juntaram com as ruas Imagem: Reprodução

David Pogue

27/09/2012 21h08

Na semana passada, usei o novo aplicativo Apple Maps para me levar até uma palestra.

A tela de navegação GPS era limpa, arrojada e livre de distração. As instruções por voz diziam o nome de verdade das ruas. Os intervalos me davam o tempo exato para me preparar para cada mudança de direção.

Só ocorreu um problema: quando o aplicativo me disse que eu tinha chegado eu estava em uma rua sem saída. Crianças estavam brincando no jardim da frente, o céu estava azul e eu estava atrasado para minha palestra.

Como quase todo mundo sabe a esta altura, essa não é uma história incomum. São abundantes os casos de horror sobre os mapas da Apple na internet. O sistema anterior de mapas do iPhone era fornecido pelo Google. Mas no novo programa iOS 6 para iPhones e iPads, a Apple substituiu os mapas do Google pelos seus próprios, feitos a partir da estaca zero.

#Fail
Infelizmente, neste novo aplicativo, o Monumento de Washington foi transferido para um novo local do outro lado da rua. O mais próximo que o Maps consegue encontrar para “Aeroporto Dulles” é o “Dulles Airport Taxi”. Ao procurar por Cleveland, Geórgia, você se verá em Cleveland, Tennessee. O Riverside Hospital em Jacksonville, Flórida, está no local certo, mas na década errada: ele virou um supermercado Publix há 11 anos.

E assim por diante. Lagos inteiros, estações de trem, pontos e atrações turísticas foram mudados de lugar, classificados erroneamente ou simplesmente apagados. Vistas por satélite consistem de uma montagem de imagens de estações, condições meteorológicas e até mesmo anos completamente diferentes. Os dados dos pontos de interesse, em particular, parecem incompletos ou lascados, especialmente no exterior.

A nova função mais incrível, Flyover (sobrevoo), oferece modelos 3D fotorrealistas e interativosde diversas cidades – mas algumas cenas ficaram horrivelmente erradas. A Ponte do Brooklyn derrete no mar, a estrada até a barragem Hoover mergulha direto em um desfiladeiro e a principal estação de trem de Auckland fica no meio do mar.

Resumindo, o Maps é uma apavorante primeira versão. Ele pode ser o programa menos útil e mais embaraçoso que a Apple já lançou.

Sim, ele acrescenta direções faladas (nos Estados Unidos) e uma vista 3D de sua rota – itens que o velho aplicativo carecia. Seu desenho é elegante, inteligente e atraente. O Flyover é bacana. E o Maps funciona muito bem com o Siri: estabelecer um destino é tão fácil quanto dizer: “me dê direções para a Casa Branca”. As instruções faladas continuam mesmo se você desligar a tela.

Mas o Maps não conta com o Street View, que permite que você veja fotos de rua de qualquer endereço (os carros do Google tiveram que rodar 8 milhões de quilômetros por 3.000 cidades em 40 países para construi-lo). Também falta orientação para transporte público: enquanto os mapas do Google mostram que ônibus ou linha do metrô tomar, o novo aplicativo apenas oferece uma lista de programas independentes de rotas de trem e ônibus.

E, enquanto está navegando, você não pode afastar o zoom daquela tela de rota elegante para olhar à frente no seu itinerário – para escolher uma rota melhor por conta própria, por exemplo. Você pode apertar um botão “Vista do Alto” para esse tipo de mapa, mas então você terá de alternar entre duas telas.

Mapplegate
À medida que a magnitude do “Mapplegate” (como chamou um dos meus leitores) fica mais clara, eu passei a fazer três perguntas.

Primeiro, por que a Apple descartou o serviço de mapas do Google, que é tão polido e maduro? Segundo, como a Apple e sua equipe de perfeccionistas erraram tão feio? Terceiro, qual é exatamente o problema por trás e quanto tempo levará para ser consertado?

Após fuçar um pouco, aqui está o que descobri.

Primeiro, o motivo para a Apple ter abandonado a versão anterior. O Google, ela diz, estava guardando todas as melhores funções para os telefones que rodam com seu programa Android. Por exemplo, o aplicativo para iPhone nunca teve direções faladas ou mapas vetoriais (linhas suaves, não ladrilhos de pixels), mesmo depois dessas funções aparecerem em telefones rivais.

O maior problema pode ser os dados. Toda vez que você usa os mapas do Google, você envia dados de seu telefone para o Google. Essa informação – como você está usando os mapas, para onde você vai, que ruas existem de fato – é tremendamente valiosa; ela pode ser usada tanto para melhorar os mapas quanto para fornecer ofertas e propagandas baseadas na localização.

Ultimamente, a Apple vem se desvencilhando do Google (ela também eliminou o aplicativo para YouTube do iOS 6, apesar de o Google ter lançado rapidamente um aplicativo que pode ser baixado). Então, quando chegou a hora de renovar o contrato, a Apple recusou. Ela não tinha mais interesse em fornecer tantos dados valiosos de seus usuários para sua rival.

Para desenvolver seu substituto, a Apple licenciou dados de outras empresas. Ela comprou dados de mapas da TomTom, que também fornece mapas para BlackBerry, HTC e telefones Samsung, além de algumas partes do Google Maps.

A Apple conseguiu listagens de restaurantes e lojas da Yelp, dados de tráfego da Waze e assim por diante – mais de duas dúzias de fontes ao todo, diz a Apple.

O oceano resultante de informação é de muitos petabytes de dados (um petabyte é 1 milhão de gigabytes, se você estiver contando em casa). Mais de 99% deles são precisos, diz a Apple.

Mapas 3D ''salvam'' mapas da Apple

Infelizmente, quando o conjunto geral de dados é tão grande, mesmo meio ponto percentual de dados errados significa muitas falhas. E o problema é que você nunca sabe quando encontrará um. Basta apenas uma orientação de direção equivocada para você deixar de confiar no programa.

Assim, a Apple desenvolveu um aplicativo bonito e bem projetado – e o alimentou com dados questionáveis. É como se você tivesse comprado uma cafeteira profissional de US$ 1.500 (cerca de R$ 3.000) e colocado grãos de café mofados nela.

O que fazer
E então, onde estamos?

Como os dados estão todos online, a Apple pode introduzir as correções imediatamente, assim que são feitas, mas “não vai mudar até sexta-feira”, diz um gerente de produto. Isso porque, de modo geral, as correções são feitas uma de cada vez, manualmente.

Dentro do aplicativo, o botão “Informe um Problema” oferece opções com um só toque como “Alfinete está na localização errada” e “Lugar não existe” (você não odeia quando isso acontece?). A Apple também aprende a partir dos dados de localização que chegam dos milhões de iPhones à medida que eles circulam.

Os relatórios de erro são encaminhados pela Apple para a TomTom ou qualquer que seja o vendedor de dados responsável. No final, o vendedor faz a correção e pronto: o Maps fica melhor.

A Apple reconhece o tropeço. “Nós somos os donos disso, nós cuidados da gestão dos vendedores. Essa falha não é de ninguém mais, apenas nossa”, me disse um executivo da Apple. E ela promete dedicar o máximo de tempo e pessoal possível para reparar o Maps.

Infelizmente, tornar o Apple Maps confiável e completo levará muito tempo (os mapas do Google também eram precários quando começaram, em 2005).

Alternativas
Enquanto isso, apesar da gafe da Apple proporcionar bom divertimento, não é o fim do mundo: há muitas alternativas.

Ainda é possível usar os mapas do Google – pela internet. Visite maps.google.com e aceite a oferta de criação de um ícone na página Home. Você não terá direções faladas, mas terá direções por escrito, detalhes de transporte público, boletins de trânsito ao vivo e, é claro, os mapas e dados bem superiores do Google (em duas semanas, também será possível ter o Street View dessa forma, diz o Google).

Você também pode usar o aplicativo de outras empresas. Muitos dos bons são pagos, mas os aplicativos MapQuest e Waze são gratuitos e oferecem instruções faladas. O Waze também incorpora informação em tempo real sobre congestionamentos, acidentes e radares, coletada em tempo real por milhares de telefones Android e iPhones nas ruas.

Se puder esperar uns dois meses, você poderá instalar o próprio aplicativo de mapas do Google. O Google está correndo para aprontar um para iPhone e iPad.

Finalmente, é claro, você pode optar por um telefone Android.

Mas se você é dono de um iPhone, provavelmente é melhor deixar por ora o aplicativo Maps da Apple guardado até amadurecer.