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Pulseiras medem atividades físicas e ajudam a diminuir (ou não) a culpa de sedentários

Pulseiras Nike Fuelband (e) e Jawbone Up (d) ajudam usuários a medir atividades físicas - Divulgação
Pulseiras Nike Fuelband (e) e Jawbone Up (d) ajudam usuários a medir atividades físicas Imagem: Divulgação

David Pogue

26/11/2012 06h00

Talvez você já tenha ouvido falar: os norte-americanos estão ficando menos ativos fisicamente e mais gordos. Há vários tipos de teoria sobre o porquê dessa tendência – refeições que vêm em porções maiores, os onipresentes xarope de milho e açúcar, menos jogos de beisebol depois das aulas. Mas as pessoas estão começando a se dar conta de que, em muitos casos, o peso corporal pode, de alguma forma, estar relacionado à dieta e aos exercícios físicos.

[As pulseiras] fazem com que você fique constantemente ciente sobre quão ativo você é (ou não). Elas permitem que você compare seus dados com os de seus amigos online, estabelecendo uma rivalidade amistosa – ou, pelo menos, provocando um sentimento de culpa em você ou neles.

Atualmente, estudos têm demonstrado que, caso exista um monitor visível e onipresente para expor o seu mau comportamento – gastos excessivos de dinheiro, ingestão excessiva de comida, uso excessivo de energia elétrica em sua casa –, você terá uma probabilidade muito maior de corrigir esses maus hábitos.

Essa é a ideia por trás das pulseiras individuais de monitoramento de movimento, como a FuelBand, da Nike (que custa US$ 150 nos Estados Unidos), e da Jawbone Up (US$ 130), que foi aperfeiçoada pelo fabricante. Elas fazem com que você fique constantemente ciente sobre quão ativo você é (ou não). Elas permitem que você compare seus dados com os de seus amigos online, estabelecendo uma rivalidade amistosa – ou, pelo menos, provocando um sentimento de culpa em você ou neles. E, assim, essas pulseiras o motivam a adotar cada vez mais mudanças – como estacionar o carro mais longe, subir as escadas (em vez de pegar o elevador) e descer do ônibus um ponto antes de seu destino final.

Existem muitos outros equipamentos para monitorar o nível de atividade física, incluindo rastreadores que podem ser presos à roupa (como o FitBit e o Striiv) e aparelhos semelhantes a relógios de pulso (como o MotoActiv, da Motorola). Mas a vantagem das pulseiras é que você não precisa tirá-las em momento nenhum – pode dormir com elas, tomar banho com elas, usá-las quando estiver sem camisa ou, até mesmo, caso um dia você se encontre nessas três situações ao mesmo tempo –, e, dessa forma, você terá mais chances de aderir ao programa proposto.

Jawbone Up!: mais que um monitor de atividades físicas

Neste momento, as pessoas que acompanham o setor de monitores de atividade física baseados em acelerômetro e criados para serem usados presos ao corpo estão, sem dúvida nenhuma, coçando a cabeça. “A pulseira Up?”, estarão se perguntando. Não foi essa a pulseira lançada há mais ou menos um ano e que foi totalmente desacreditada devido a uma humilhantemente epidemia pública de falhas de hardware? Não foi a Jawbone, empresa conhecida por fabricar os alto-falantes e fones de ouvido Bluetooth, que retirou a Up do mercado e ofereceu um generoso mea culpa (“Você pode receber um reembolso total para a sua pulseira Up. Esta oferta é válida mesmo que você decida manter a sua pulseira Up") ?

Sim.

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    Detalhe da pulseira Up, da Jawbone; equipamento é à prova d'água e ajuda a medir atividades físicas

A nova pulseira Up – jura a empresa – é à prova de balas. Ou, pelo menos, realmente e verdadeiramente à prova d’água. A Jawbone diz que reformulou 17 peças do produto e implantou 28 melhorias em seu processo de fabricação. A nova pulseira tem o visual idêntico ao do modelo anterior – ela ainda é composta por uma tira dura de borracha no formato de um “C”, cujas pontas se sobrepõem, e está disponível em várias cores –, mas, por dentro, ela é muito mais bem protegida e mais bem disposta (ela também custa US$ 30 a mais do que o modelo anterior).

O aplicativo para iPhone criado para ser utilizado com a Up também passou por uma reformulação. O conceito central do programa é uma linha do tempo – ao estilo do Facebook – que contém suas informações pessoais. Cada “post” representa o equivalente a um dia de atividade, ou a uma noite de sono, ou a uma refeição (você também pode inserir manualmente exercícios não baseados em passos, como uma volta de bicicleta ou uma série de musculação). É possível, ainda, exibir em sua linha do tempo o progresso do condicionamento físico de seus amigos.

Isso não significa que o aplicativo esteja pronto para passar por uma análise mais detalhada. É bem desconcertante descobrir que ele traz menus duplicados ocultos, além apresentar vários bugs e equívocos. Por que, em uma tela que é muito mais alta do que larga, os gráficos de progresso são formados por barras de 2,5 cm de altura que ficam flutuando em um espaço vazio? E uau – se você fizesse um abdominal toda vez que recebesse a mensagem “Desculpe, houve um erro de conexão com o servidor da Up”, você ficaria com uma barriga de concreto. (Um aplicativo Android está sendo preparado.)

O que é ótimo, porém, é que as ambições da Up vão além do simples monitoramento da atividade física. Se você pressionar duas vezes o botão localizado em uma das extremidades da pulseira quando for para a cama, por exemplo, ela realizará o impressionante trabalho de monitorar sua noite de sono: quanto tempo você leva para adormecer, quantas vezes você acorda, quantas horas você gasta em sono leve e em sono profundo.

Uma característica relacionada a esse recurso que é extremamente útil: quando você precisar tirar uma soneca (um sono rápido de 25 minutos, cujas qualidades revigorantes têm sido bem documentadas por vários estudos), a pulseira não iniciará a contagem de seu descanso até registrar que você está realmente dormindo. Dessa forma, você realmente dorme durante 25 minutos e, após esse período, a pulseira vibra para despertar você. Isso é algo que um pedômetro [contador de passos] normal não faz.

Com a pulseira Up, você pode monitorar o seu consumo de alimentos de três formas diferentes: tirando uma foto do que você estiver comendo, escaneando o código de barras da embalagem (o aplicativo identifica o código corretamente e de modo instantâneo) ou selecionando sua refeição em uma lista categorizada de alimentos. Todo esse processo ainda é bastante manual – afinal, nenhuma pulseira é capaz de dizer o que você está empurrando goela abaixo. Por isso, maioria das pessoas provavelmente não vai se incomodar em fazer esse tipo de monitoramento.

Mas, se você quiser realmente monitorar sua ingestão de alimentos, a nova pulseira Up supostamente faz algo de útil com as informações inseridas. Ela vem com um recurso que a Jawbone batizou de Insights – que são observações que a pulseira faz ao correlacionar as informações sobre seu sono, seu nível de atividade física, sua ingestão de alimentos e sua localização geográfica. A pulseira pode dizer: “Você tende a comer mais quando está na Costa Oeste” ou “Você não dorme bem quando come após as 21h” ou ainda “Você dorme mais rápido nos dias em que você malha”.

Durante a minha semana usando a pulseira Up (sem registrar muitas refeições), os Insights não me ofereceram nada mais incisivo do que, por exemplo, “estudos mostram que os exercícios físicos liberam substâncias químicas no cérebro que promovem o bem-estar”. A Jawbone diz que, quanto mais você usar a pulseira (e mais diligente você for ao registrar suas informações nela), mais “inteligentes” os Insights serão.

Apesar de todas essas melhorias, a Jawbone não concertou a grande falha conceitual da primeira encarnação da pulseira: a transferência para o iPhone dos dados pessoais coletados pela Up – você ainda tem que tirá-la de seu pulso, remover a tampinha de sua extremidade (que tem o tamanho aproximado de um átomo de carbono), inserir o pino da pulseira na entrada para fone de ouvido do iPhone, abrir o aplicativo para que ele faça a sincronização e, depois, colocar tudo de volta. Se você não tiver perdido a tampinha depois de três semanas de uso, deve pensar seriamente em seguir carreira no ramo de nanotecnologia.

A Jawbone insiste que a solução gritante e óbvia para esse problema de sincronização – um recurso de Bluetooth sem fio – é muito complicado e requer componentes que são grandes demais para inserir em uma pulseira.

Fuelband: a pulseira da Nike que monitora exercícios

No entanto, de alguma forma, a Nike conseguiu fazer isso com a sua FuelBand.

A FuelBand é uma pulseira, mais larga, mais robusta e se assemelha mais a uma pulseira de relógio do que a uma dessas pulseirinhas coloridas que identificam causas de caridade. Sua bateria não dura tanto tempo (alguns dias, em vez dos 10 dias da Up). E ela é resistente à água (banhos de chuveiro), mas não à prova d’água (natação).

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    Pulseira Fuelband, da Nike, conta com uma pequena tela que permite mostrar o desempenho físico

Mas a FuelBand tem uma tela embutida. A cada toque no botão adjacente, a palavra “Steps” (passos) ou “Calories” (calorias) rola sobre uma matriz de luzes LED muito brilhantes, seguida por seu registro atual (ou pela hora atual). Uma quarta estatística, chamada de NikeFuel, também aparece, embora a Nike não forneça nenhuma explicação clara sobre o que esse número representa. A empresa apenas diz que ele é produzido por um algoritmo baseado em “cinética do oxigênio”.

A tela faz muita diferença. Isso significa que você pode ver como está se saindo sem precisar do celular. Isso também significa que você pode usar a FuelBand (disponível em preto opaco ou em preto ou branco “gelo” – um plástico translúcido que permite visualizar os componentes internos) como se fosse um relógio de pulso super-descolado.

Mas, se você quiser transmitir os seus dados para o aplicativo correspondente do iPhone, terá apenas que pressionar o botão. A tela exibirá “Sync” e o gráfico com seus esforços do dia aparecerá em tamanho real – e não no tamanho reduzido da tela da pulseira – na tela do celular. A FuelBand não precisa ser retirada de seu pulso nunca.

A pulseira da Nike é elegante e profissional, tem uma tela incrível – e a sincronização sem fio via Bluetooth é o que há. Esse aparelhinho executa seu truque de forma brilhante – mas ainda é apenas um truque.

Conclusão

A pulseira Up é prejudicada por seu método confuso de sincronização (via entrada de fone de ouvido do celular) e pelo design estranho de seu software. Mas a duração de 10 dias de sua bateria, sua impermeabilidade à água do tipo “nunca-pense-a-respeito-disso” e o monitoramento do sono a tornam muito mais propensa a fazer o trabalho a que ela se propõe: ajudar você a ser mais saudável. E, se os Insights da FuelBand se tornarem mais perspicazes no futuro, você poderá descobrir coisas sobre você que nunca suspeitou – e isso poderá fazer você se sentir melhor a cada dia que passa. Nada mal para uma pulseira de borracha.