Topo

Nokia Lumia 920 e HTC 8X são impressionantes, mas ainda faltam apps para o Windows Phone 8

Steve Ballmer, diretor-executivo da Microsoft, apresenta aparelhos com o sistema Windows Phone 8 nos EUA - Kimihiro Hoshino/AFP
Steve Ballmer, diretor-executivo da Microsoft, apresenta aparelhos com o sistema Windows Phone 8 nos EUA Imagem: Kimihiro Hoshino/AFP

David Pogue

30/11/2012 06h02

Dia de Ação de Graças, é? Vou dizer ao que sou grato: concorrência.

Porque a concorrência estimula a inovação. Inovação leva a melhorias. Melhorias geram felicidade.

No mundo da tecnologia, algumas empresas fazem seus trabalhos mais inovadores quando não têm outra saída – especialmente a Microsoft. No mês passado, ela apresentou o Windows Phone 8, a edição mais refinada até agora de seu belo e transparente software para telefones touch-screen. (Minha crítica sobre o Windows Phone 8 está aqui).

Infelizmente, como um gerente de produtos da Microsoft me disse discretamente, “Estamos com um problema de percepção”. Traduzindo: ninguém está comprando telefones do Windows. E como ninguém está comprando, ninguém está desenvolvendo aplicativos para eles. E como ninguém está desenvolvendo aplicativos – bem, vocês podem ver aonde isso vai chegar.

Mesmo assim a Microsoft não desiste. Este mês, o Windows Phone 8 chega em dois novos fascinantes telefones: o Nokia Lumia 920 (US$ 100 com uma assinatura nova da AT&T) e o HTC Windows Phone 8X (US$ 200 na AT&T, Verizon ou T-Mobile).

Engraçado que sejam a Nokia e a HTC; eles também são gigantes que caíram. A Nokia foi a maior fabricante de celulares do mundo por 14 anos seguidos; não mais. No momento, está em sétimo lugar entre os fabricantes de smartphones. Ela demitiu dezenas de milhares de funcionários. A HTC também está lutando, tendo vendido 36% a menos de celulares do que no ano passado.


Então é muito intrigante que a HTC e a Nokia tenham ambas escolhido a Microsoft como a salvadora delas, e vice-versa. Perdedor + perdedor= ganhador?

Na verdade, sim. Os dois novos telefones têm muito em comum – para começar, os dois são incríveis. Além disso, ambos têm telas maiores e com maior resolução do que a famosa tela Retina do iPhone. (Os telefones da HTC e da Nokia têm telas de 4,3 e 4,5 polegadas. Isso são 1.280x720 pixels, uma resolução de 341 e 332 por polegada.)


Ambos possuem parte traseira e cantos arredondados, o que os torna excepcionalmente confortáveis de segurar. (As curvas também facilitam para que eles sejam tirados do seu bolso do jeito certo)

Ambos vêm com opções de cores vibrantes. Ambos têm o mesmo processador super-rápido. Ambos podem obter de suas respectivas operadoras redes de dados 4G LTE (ou seja, uma internet muito veloz), nas cidades em que elas estejam disponíveis.

E prestem atenção nisso – esses dois telefones também podem ser recarregados sem tomada. Isso mesmo: finalmente o carregamento magnético foi integrado aos telefones. Chegue em casa no final do dia, jogue suas chaves na mesa, coloque o telefone na base do carregador (opcional por US$ 50) – e um sinalzinho lhe dirá que ele está carregando, embora não haja nenhum fio à vista.

É bem incrível. Será ainda mais incrível se esse método de carregamento (um padrão industrial chamado Qi, pronuncia-se “tchi”) pegar. Algum dia poderemos ter superfícies de carregamento em cafés, aeroportos e quartos de hotel. (Somente a versão da Verizon para o telefone da HTC tem esse recurso ativado – as versões da AT&T e da T-Mobile, não.)

Os dois telefones também possuem chips NFC [“near-field communication”] embutidos. Esta tecnologia permite comunicações de campo próximo, o que significa que “este telefone pode fazer coisas quando você o encosta em outro aparelho.” A promessa é de que você poderá encostar em um terminal de caixa para pagar por algo; encostar em um ponto de ônibus habilitado para NFC e baixar itens promocionais; encostar um telefone no outro para transferir uma foto ou um endereço; e encostar em um alto-falante de Bluetooth para “sincronizá-lo” com o telefone.

Na prática, é mais do que isso. Infelizmente, o contato só apresenta os telefones; é necessário o Bluetooth ou alguma outra tecnologia para completar a conexão. E a futura iniciativa pague-com-um-toque da Microsoft é incompatível com a que o Google gastou milhões de dólares instalando em registradoras de todo o país. Mas sempre há esperança.

HTC 8X

O Windows Phone 8X da HTC é o menor dos dois telefones, mas mesmo assim é gigante perto do iPhone – é mais largo, mais longo, mais pesado e mais grosso. Com o modelo da Verizon, seu uso da internet será mais veloz e melhor em mais cidades do que com o telefone da Nokia, que só está disponível pela AT&T.

HTC 8X

  • Brendan McDermid/Reuters

    HTC 8X tem tela de 4.3 polegadas, processador dual-core de 1.5 GHz e 16 GB para armazenamento

O painel traseiro é levemente texturizado, então há menos chances de você deixar esse telefone cair do que com o lisinho Nokia. Mas os botões – liga/desliga, volume, câmera – são finos e completamente nivelados com o corpo do telefone; você praticamente precisa de um picador de gelo para apertá-los.

Também existe outra preocupação relacionada ao hardware: não há entrada para cartão de memória. O modelo básico, que custa US$ 200 (nos Estados Unidos) tem 16 gigabytes de memória, e isso é tudo que você terá. (A AT&T também vende um modelo por US$ 100 com – a mais idiota ainda – capacidade de 8 gigabytes de memória.) Afinal de contas, o que é um telefone feito para rodar aplicativos sem espaço para aplicativos, fotos, músicas ou vídeos?

A bateria do 8X às vezes já está nas últimas quando você chega em casa para o jantar (segundo a avaliação, ela tem duração de oito horas de tempo de conversação). E, claro, ela não é removível.

Nokia Lumia 920

Quesito após quesito, o Lumia 920 da Nokia bate o HTC. Em termos de duração da bateria (10 horas de tempo de conversação). No preço (US$ 100 contra US$ 200). Em relação à capacidade de armazenamento (32 GB contra 16 GB). Na versão do Bluetooth (3,1 versus 2,1). Na sensibilidade da tela – em um dos modos, você pode operar a tela por toque até mesmo de luvas.

Nokia Lumia 920

  • Guilherme Tagiaroli/UOL

    Smartphone da Nokia conta com entrada para cartão microSD para aumentar armazenamento

O 920 também ganha como aparelho de GPS. O aplicativo Maps de todos os celulares Windows vem da Nokia (que é proprietária da Navteq, uma das duas grandes do setor de dados para mapas). E ele é muito bom. O aplicativo mostra o movimento do tráfego, imagens aéreas, informações sobre transporte público e tudo o mais. E ele não tem nenhum dos problemas que afligem o aplicativo Maps, da Apple. Ele ainda permite que você faça o download de dados de mapas para o seu telefone. Dessa forma, você pode pesquisar e navegar quando estiver offline ou quando não quiser pagar as astronômicas tarifas de roaming.

A única coisa que o aplicativo Maps não tem são as instruções de navegação por voz. Em seu próprio celular, no entanto, a Nokia fornece um aplicativo batizado de Nokia Drive, que traz instruções por voz para cada parte dos trajetos – outra vitória do 920.

Comparação dos aparelhos

Ambos os celulares têm câmeras muito boas. A câmera do HTC, de oito megapixels, oferece uma cor melhor quando a luz é boa, mas ela se sai muito mal em ambientes com pouca luz. O modelo de 8,7 megapixels da Nokia, por outro lado, tem um desempenho muito bom em baixa luminosidade e sem flash.

Mas você paga um preço por todas as vantagens oferecidas pelo aparelho da Nokia: esse celular é gigante. Ele é enorme mesmo – tem os mesmos 12,5 centímetros de altura do HTC, mas é mais largo, mais grosso e muito, muito mais pesado. Com aproximadamente 184 gramas, ele pesa 46% a mais do que o HTC, e 62% a mais do que o iPhone. Deixe cair o aparelho da forma errada e ele pode quebrar seus dedos dos pés.

Se você se contentar com o tamanho, o Nokia é o melhor celular. No entanto, ambos são fantásticos. (Eu não tive a oportunidade de experimentar as reinicializações espontâneas que têm sido relatadas por alguns dos primeiros usuários de ambos os celulares; a Microsoft diz que está investigando essas ocorrências.) Ambos têm hardwares moderníssimos, um excelente design e são equipados com o espetacular software para celular da Microsoft. Sim, é isso mesmo. Você achava que os sistemas operacionais da Microsoft eram cópias dos programas para desktop, sem nenhuma inspiração, inchados e atormentados por um excesso de recursos? O Windows Phone vai fazer você mudar de ideia rapidamente.

“Mancadas” do sistema operacional

E apesar de tudo. E apesar de tudo.

A Microsoft já viu esse filme antes. Ela está entrando no mercado vários anos após a Apple já ter tomado a dianteira (veja também: Zune), e apesar de fazer um excelente trabalho, nunca consegue construir um ecossistema rápido o suficiente para se aproximar da líder.


Apesar de ser muito legal, o mundo do Windows Phone vai te decepcionar muito em relação a duas coisas.

Primeiro, a linguagem. Esses celulares respondem a comandos básicos – “Chamada”, “Texto”, “Localizar” (na web), “Nota” e “Abrir” (um aplicativo) –, mas de um modo bem cru. Eles sequer reconhecem a pontuação de sua fala. Pior ainda: você não consegue ditar o texto, como é possível fazer com os celulares equipados com o Android e com os aparelhos da Apple. O ditado de textos é uma característica fundamental dos celulares que não têm teclados. Não dá para simplesmente deixar isso de fora.

Segundo, os aplicativos. A Microsoft diz que sua loja para celulares atualmente tem em estoque 120 mil aplicativos. Esse é um grande progresso –  mas vários aplicativos muuuuuuuito importantes ainda estão entre os programas que faltam.

A Microsoft e seus parceiros estão oscilando à beira do precipício. A excelência foi atingida; agora, cabe às forças do mercado. Se o vento soprar para um lado, eles vão ganhar alguns pontos percentuais em participação de mercado (que agora está em 4%). Se ele soprar para o outro lado, porém, o Windows Phone vai desaparecer. Ele vai se juntar ao Zune, ao celular Kin e aos esforços de outros hardwares no Cemitério dos Grandes Gadgets que Ofereceram Pouca Coisa Tarde Demais.