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Google Keep: bloco de notas do Google promete facilitar a vida de usuários Android

Google Keep é um site (acima) e um aplicativo para celulares que rodam o sistema operacional Android - Reprodução
Google Keep é um site (acima) e um aplicativo para celulares que rodam o sistema operacional Android Imagem: Reprodução

02/04/2013 06h01

Nos primórdios dos computadores pessoais, as pessoas comentavam sobre como essas máquinas seriam ótimas para organizar receitas culinárias. Você se lembra disso?

E você se lembra de como essa esse pensamento, logo depois, já era ridicularizado? Que absurdo. Que sexista. E, em meio à vasta gama de coisas incríveis que um PC era capaz de fazer, organizar receitas era muito prosaico e pouco ambicioso.

Bem, não olhe agora. Mas o Google – a empresa que domou a internet, criou os automóveis que andam sozinhos e colocou o computador nos óculos – acaba de lançar um bloco de notas.

Ele foi batizado de Google Keep. É grátis. É um site e um aplicativo para celulares equipados com Android. Os dois – site e aplicativo – são sincronizados automaticamente (surpreendentemente, até o momento, o Google não havia criado um aplicativo de bloco de notas para celulares Android).

Escreva uma nota em seu celular e ela aparecerá no site do bloco de notas (e em quaisquer outros aparelhos Android que você tiver). Isso desde que você esteja conectado com o mesmo Google ID (identidade do Google) em cada um dos aparelhos.

Essa não é uma ideia nova. De muitas maneiras, o Google Keep é uma imitação bastante descarada do Evernote, o amado aplicativo gratuito para Mac, Windows, Android, iPhone, iPad, BlackBerry e Windows Phone. O Evernote também duplica suas notas automaticamente em todos os seus gadgets e computadores.

Mas isso não diminui o poder dessa ideia. A vida é cheia de imagens, fatos e pensamentos dos quais gostaríamos de nos lembrar. O número do telefone de alguém. Um filme ou um livro que alguém está recomendando. Tarefas do dia a dia. Ideias. Onde você estacionou o carro. Aniversários de familiares, as orientações para chegar ao consultório de seu médico, os números dos cartões de milhas. Mas, como você sempre tem um computador à mão (que é seu celular), por que ele não seria o lugar mais lógico para armazenar essas explosões cerebrais?

Facilitando a vida
Especialmente se esse armazenamento for incrivelmente fácil e rápido de fazer. Se fosse muito difícil ou complicado abrir seu bloco de notas e registrar alguma ideia nele, você com certeza não se incomodaria. Mas o Google colocou muito esforço para fazer com que essa tarefa pudesse ser feita sem nenhum esforço. O Keep não é apenas um aplicativo; no Android, ele também é um widget – uma pequena janela de rolagem que fica flutuando na tela inicial do celular (o Evernote faz isso também.)

Nas versões recentes do Android (4.2 e posteriores), o Keep até aparece na tela de bloqueio. Você pode consultá-lo mesmo sem ligar o telefone.

Para gravar um novo item ou nota, você pode digitar alguma coisa, falar ou gravar um áudio. Diga alguma coisa para o celular e ele converterá o áudio em texto (ele também salva a gravação de áudio). Ou tire uma foto. Falar ou tirar fotos é mais rápido do que digitar. Mais uma vez, menos etapas significam que você se sentirá mais propenso a usar o software (mas você precisa tirar a foto; o Keep não permite a importação de uma imagem que já existe).

As notas podem ser compostas por texto sem nenhuma formatação ou por uma lista completa, com caixinhas de verificação (para ticar) ou uma foto.

No Keep, as notas aparecem como blocos de rolagem, como mensagens em uma página do Facebook ou dispostas em duas colunas, como os blocos da tela inicial do Windows Phone. As notas mais novas aparecem no topo.

Evernote
A coisa mais importante que se deve entender a respeito do Keep é como ele é simples. Rápido, simples e limitado, especialmente em comparação com o Evernote.

Essa, é claro, é a sua melhor e sua pior característica, dependendo do tipo de personalidade que você tem. Você não terá problemas para localizar um recurso no Keep, pois não há nenhum recurso para encontrar.

Você pode alterar a cor de uma nota, mas você não pode agrupá-las por cor. Na verdade, você não pode agrupá-las de forma nenhuma. Não há nenhum tipo de organização, como pastas ou arquivos para classificação ou filtros. No Keep, as notas só podem ser arrastadas para cima ou para baixo, excluídas ou arquivadas (basta arrastá-las horizontalmente pela tela do telefone. Dessa forma, você remove a nota da lista, mas a mantem armazenada).

No Evernote, por outro lado, você pode criar diferentes “notebooks” (ou blocos de notas) cheios de notas. Você pode até mesmo colocar vários notebooks dentro de uma pasta.

Um item do Evernote pode conter mais de um tipo de dados – uma nota de texto pode conter uma lista de itens e uma fotografia, por exemplo. As notas podem ter formatação (negrito, itálico e assim por diante) e podem conter endereços da web ou localizações geográficas associadas a eles. Você pode marcar uma nota com palavras-chave pesquisáveis (“crianças”, “sites”, “trabalho” ou o que quer que seja) para recuperá-la de forma rápida posteriormente; no Google Keep, você só consegue procurar o texto que foi inserido em suas notas.

Você pode compartilhar um notebook do Evernote com seus colaboradores. Ou, com dois cliques, você pode publicar uma nota na forma de um post do Facebook ou do Twitter, de uma mensagem de e-mail ou até mesmo de um site público.

Você pode usar a câmera de seu celular para capturar o conteúdo da lousa de sua sala de aula, receitas culinárias, cartões de visita, instruções de caminhos ou até mesmo páginas com notas manuscritas. Incrivelmente, você pode até fazer buscas nos textos contidos nessas imagens posteriormente (o recurso de reconhecimento de caracteres embutido no Evernote pode não ser milagroso o suficiente para converter rabiscos manuscritos em textos digitados, mas ele é bom o suficiente para permitir que você faça uma busca).

Com o Evernote você também recebe um endereço de e-mail especial. Qualquer texto, foto ou arquivo de áudio que você enviar para ele a partir de qualquer lugar será adicionado a seus arquivos do Evernote automaticamente. É surpreendente.

 

Concorrentes
O Keep também parece “pelado” quando comparado a seus rivais no iPhone e no iPad, onde você pode acessar tanto um aplicativo Notes simples (apenas para texto) quanto um aplicativo mais elaborado, chamado de Reminders (Lembretes). Ambos podem ser sincronizados com Macs e outros dispositivos da Apple.

O Reminders é uma lista esperta de afazeres: ele é capaz de lembrar você de realizar uma determinada tarefa em uma determinada data e hora ou, o que é mais impressionante, de acordo com sua localização. Por exemplo: ao passar de carro em frente à lavanderia, o Reminders pode emitir uma mensagem em seu telefone para lembrar você de pegar suas camisas lavadas.

O Reminders também supera o Android em sua integração com o Siri. Você pode dizer para seu celular, por exemplo, “lembre-me de tirar o assado do forno quando eu chegar em casa” ou “lembre-me de ligar para o Jenkins assim que eu chegar ao trabalho”. É batata: quando você chegar em casa ou no trabalho, seu celular vai atrair sua atenção para esses lembretes (o Google Keep, por outro lado, não oferece nenhum tipo de alarme ou lembrete).

Você pode gerenciar as listas do Reminders por voz também. “Adicionar ‘uma garrafa d’água sem gordura trans’ em minha lista de compras”. “Adicionar ‘Titanic 2: The Voyage Home’ à minha lista de filmes”.

Nenhum desses aplicativos da Apple aceita fotos ou gravações de áudio. Ainda assim, tanto o Evernote quanto a Apple têm elevado a tecnologia de anotações para um nível que está ano-luz à frente do Google Keep em sua humilde versão 1.0.

Mas lembre-se: nem sempre é melhor ter mais recursos. Há muito a ser dito em relação aos aplicativos rápidos e simples também.

Eis outra coisa para que você deve lembrar: estamos falando do Google. A empresa diz que novos recursos serão incluídos no Keep muito em breve.

O Google poderia integrar o Keep a seus outros produtos e serviços. Imagine ser capaz de acessar rapidamente rotas no Google Maps, o texto de uma mensagem do Gmail ou parte de uma página da internet diretamente em uma nota do Keep. Ou talvez até vídeos do YouTube. Com o tempo, o Keep pode se tornar um “pinboard” – como o Pinterest.com – para registrar toda a sua vida.

Fim de serviços 
Infelizmente, a última coisa a ser lembrada aqui é não é tão animadora: o Google tem o hábito não apenas de criar coisas fantásticas, mas também de acabar com elas. O timing do anúncio do Keep foi assustador e ocorreu apenas alguns dias após o anúncio de que, em julho próximo, o Google irá encerrar as atividades de seu popular site Google Reader – um leitor de feeds RSS suave e atraente, que funciona como uma espécie de revista personalizável e constantemente atualizada com artigos que você poderia gostar de ler.

O Google também já havia matado aplicativos de bloco de notas antes. Em 2009, a empresa acabou com o Notebook, seu primeiro programa ao estilo do Evernote. Como você se sentiria se confiasse os dados de toda a sua vida ao Keep e, então, descobrisse que o Google decidiu acabar com o Keep?

Mesmo que esse triste dia chegue, uma coisa é certa: o Keep joga uma nova luz sobre o conceito geral dos aplicativos sincronizados de captura de pensamentos – um conceito poderoso e útil, que com certeza ajuda a melhorar a nossa vida. Se você tem um smartphone, você deveria incluir “Começar a utilizar o Keep ou um de seus concorrentes” em sua lista de coisas a fazer.