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Novos aplicativos sabem a resposta antes que você faça a pergunta

O Google Now diz a você quando é a hora de sair para a reserva no restaurante. Isso porque ele notou um e-mail do Open Table no Gmail, sabe onde você está graças ao GPS e checou o Google Maps sobre as condições de trânsito - Reprodução
O Google Now diz a você quando é a hora de sair para a reserva no restaurante. Isso porque ele notou um e-mail do Open Table no Gmail, sabe onde você está graças ao GPS e checou o Google Maps sobre as condições de trânsito Imagem: Reprodução

Claire Cain Miller

Do New York Times, em San Francisco (EUA)

01/08/2013 06h00

Em Hollywood, há aqueles que seguram sombrinhas para as celebridades. Do lado de fora dos escritórios de esquina, há pessoas que sabem exatamente quanto creme colocar no café do chefe. Nos castelos britânicos, os nobres têm seus criados.

Já no Vale do Silício, há assistentes pessoais capazes de ler a mente -- e eles vêm na forma de um aplicativo para celular.

Várias grandes empresas, como o Google, e novas também estão trabalhando no que é conhecido como "busca preditiva" – novas ferramentas que atuam como assistentes pessoais robóticos, antecipando o que você precisa antes que você peça. Olhe para seu telefone pela manhã, por exemplo, e veja um alerta de que você precisa sair mais cedo para seu próximo compromisso porque o trânsito está ruim -- apesar de você não ter dito ao telefone que teria uma reunião ou onde ela será realizada.

Como o telefone sabe? Por causa de um aplicativo que leu seu e-mail, sua agenda, rastreou sua localização, avaliou os padrões do trânsito e determinou que você vai precisar de meia hora adicional para chegar até seu destino.

A tecnologia é o mais recente desenvolvimento em pesquisa na internet, e uma das primeiras sob medida para dispositivos móveis. Ela não exige nem mesmo que as pessoas realizem uma busca. Seu contexto – localização, hora do dia e atividade digital – é a própria pergunta, dizem os engenheiros que desenvolveram esses serviços.

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Muitos tecnólogos concordam que esses serviços provavelmente se popularizarão, futuramente sendo incorporados em despertadores, refrigeradores e espelhos de banheiro. O Google Now já é uma parte importante dos óculos do Google conectados à internet. Enquanto uma usuária dos óculos caminha por um aeroporto, com suas mãos cheias de bagagem, ele pode mostrar a ela que o voo dela está atrasado.

O Google Now está "meio que me impressionando no momento", disse Danny Sullivan, editor fundador do site "Search Engine Land", que estuda ferramentas de busca há duas décadas. "Quero dizer, eu sou bem calejado. Eu já vi todo tipo de coisas que supostamente revolucionariam a busca, mas nada aconteceu. O Google Now está fazendo isso."

Entre o útil e o sinistro

Mas para algumas pessoas, a busca preditiva – também em serviços como Cue, reQall, Donna, Tempo AL, MindMeld e Evernote – é a mais recente intromissão em nossas vidas, outra perturbação tocando em nossos bolsos, vasculhando nossas vidas digitais em busca de informação pessoal e caminhando na linha entre o útil e o sinistro.

"Quanto ao fato de ser assustador, a resposta depende da pessoa para quem você perguntar", disse Andrea M. Matwyshyn, uma professora assistente da Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia, que estuda as implicações legais da tecnologia. "O que funciona para um grupo de engenheiros trintões no Vale do Silício pode não representar a forma como executivos sexagenários em Nova York usam seus telefones."

Muitos programadores de software sonham em desenvolver uma ferramenta assim há anos. A tecnologia está surgindo agora porque as pessoas estão desesperadas por formas de lidar com a enxurrada de informação digital e porque grande parte dela está armazenada na nuvem, onde os aplicativos podem facilmente acessá-la.

"Não dá para continuarmos com oito reuniões e 200 e-mails por dia", disse N. Rao Machiraju, cofundador e presidente-executivo do reQall, que vende sua tecnologia para outras empresas produzirem seus próprios aplicativos de assistentes pessoais. "Nós temos uma tecnologia que não espera por você fazer uma pergunta, mas antecipa o que você precisa e quando é o melhor momento de fornecer isso."

O “vidente” Google Now

Os serviços adivinham o que você precisa com base nas migalhas digitais que você deixa, como entradas na agenda, e-mails, atividade nas redes sociais e os lugares para os quais leva seu telefone. Muitos usam serviços externos para coisas como cupons, notícias e trânsito.

O Google Now, presente em alguns telefones Android há um ano e nos iPhones em abril, diz a você quando é a hora de sair para a reserva no restaurante. Isso porque ele notou um e-mail do Open Table (serviço de reservas online) no Gmail, sabe onde você está graças ao GPS de seu telefone e checou o Google Maps para saber as condições de trânsito.

Dois dias antes de você viajar, ele mostra como está o tempo em seu destino, e quando você chega, informações sobre taxa de câmbio e o horário em casa. Peça ao Google Now para lembrar a você de comprar leite da próxima vez que você entrar em um mercado e um alerta aparecerá quando você estiver no Safeway.

Mas uma busca preditiva bem-sucedida é tão complicada quanto na vida real. Se você está em Londres a negócios, o que um aplicativo saberia graças aos eventos em sua agenda, você provavelmente vai querer um PDF relacionado ao trabalho. Mas se você estiver em férias, você provavelmente vai querer saber como chegar ao Big Ben.

"Quando você realiza uma busca, algo já falhou", disse Phil Libin, presidente executivo do Evernote, um aplicativo de anotações que mostra ativamente entradas anteriores relacionadas às circunstâncias atuais.

Muitos dos aplicativos usam ativamente aprendizado de máquina para conhecer a pessoa com o passar do tempo.


"Intromissão inteligente"

O serviço da ReQall, por exemplo, pode impedir chamadas de interromperem você durante reuniões. Mas um dia, o filho mais jovem do cofundador da ReQall, Sunil Vemuri, estava doente em casa com o avô, que tentava urgentemente entrar em contato com Vemuri para tirar uma dúvida a respeito da medicação. Como ele ligou mais de uma vez e o reQall sabia que os dois tinham o mesmo sobrenome (e falavam com frequência), o aplicativo interrompeu a reunião.

A meta é ir além da ajuda logística para enviar a você qualquer coisa que você possa precisar saber. O Google adicionou recentemente recomendações de livros, filmes e música, por exemplo.

"Dá para imaginar daqui vários anos, quando o assistente pessoal for um perito em todos os campos conhecidos pela humanidade", disse Amit Singhal, o vice-presidente sênior do Google para buscas.

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Invasão de privacidade

As propagandas não estão muito longe.

"Quanto melhor pudermos fornecer informação, mesmo sem você perguntar, melhor poderemos fornecer informação comercial que as pessoas estão empolgadas em fornecer a você", Larry Page, o presidente-executivo do Google, disse aos analistas em abril.

Alguns céticos dizem que empurrar propagandas e outras informações indesejadas pode ser incômodo ou mesmo uma violação de privacidade. Se você assistir a um trailer de filme no YouTube, por exemplo, o Google Now pode enviar os horários de exibição quando o filme entrar em exibição na sua cidade. Mas e se você odiou o trailer?

"As pessoas podem considerar a interface perturbadora em vez de útil", disse Matwyshyn.

Baris Gultekin, um gerente de produto do Google que ajudou a inventar o Now, disse que a empresa está ciente do risco e é "muito conservadora" com o que mostra às pessoas.

Daniel Gross, cofundador de outro aplicativo de assistente pessoal, o Cue, disse que esse é o motivo para ter começado com alertas nos quais a pessoa indicou interesse, criando uma entrada de agenda, por exemplo.

"É um problema realmente complicado, porque por um lado você realmente quer proporcionar para a pessoa a melhor experiência possível", ele disse. "Por outro lado, você não deseja que a pessoa tenha esse sentimento fóbico: 'Minha nossa, isso parece bom demais'."