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Estilista Diane von Furstenberg avalia tecnologia e impressão 3D na moda

Sergey Brin (esq.), cofundador do Google, coloca os óculos high-tech de sua empresa na estilista Diane von Furstenberg. Eles assistiram a um desfile da grife de Diane, em Nova York, com o Google Glass  - Carlo Allegri - 10.set.2012/Reuters
Sergey Brin (esq.), cofundador do Google, coloca os óculos high-tech de sua empresa na estilista Diane von Furstenberg. Eles assistiram a um desfile da grife de Diane, em Nova York, com o Google Glass Imagem: Carlo Allegri - 10.set.2012/Reuters

19/12/2013 06h01

Diane von Furstenberg entrou para o mundo da moda em 1972; dois anos depois, criou o famoso vestido envelope. Hoje, sua empresa, a DVF, é uma grife de luxo mundial. Ela falou sobre os rumos da moda com os editores da Fatores de Mudança (pauta de fim de ano do “New York Times”).

“No início dos anos 80, a Bonwit Teller, uma loja de departamentos da Quinta Avenida, em Nova York, pediu a alguns estilistas que criassem looks para suas vitrines. A inspiração: o que as pessoas vão usar no ano 2000? Em vez de criar um vestido, pintei pele de leopardo num manequim. Mal sabia que o vestido-envelope que estava produzindo na época continuaria relevante no século 21 - e me surpreendo ao perceber que perto de completar 40 anos de existência, em 2014, a peça continua sendo usada por jovens do mundo todo.

A moda é o ar de seu tempo, uma energia indescritível, uma maneira visual de interpretar um período; por isso, é impossível prever que rumo vai seguir. Quando tento visualizar o futuro e pensar no que pode continuar relevante daqui a muitos anos, penso na época em que o estilo era definido pela liberdade.

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Que felicidade ter sido jovem nos anos 70 e participado dos movimentos pelas mulheres e tudo o que representaram. A minha geração se comportava como se tivesse inventado o próprio conceito, tendo vivido aquele momento entre a descoberta da pílula anticoncepcional e a chegada da Aids, quando o sexo era despreocupado e divertido.

A inspiração na moda? Fomos buscar 40 anos antes, na década de 30. Adorávamos a mobília e a arquitetura da época, minimalista, e o estilo leve das roupas. Embora tenha sido um período sombrio ? às vésperas da guerra e da destruição da Europa ? as roupas dos anos 30 expressavam um sentido de liberdade e de infinitas possibilidades. Hoje, os jovens se inspiram nos anos 70, que também foi uma era de libertação.

Conforme o século 21 se aproximava, o mundo se encheu de incerteza e medo do “bug do milênio”, que poderia, se não destruir, causar sérios problemas aos computadores ao redor do mundo. Porém, os temores provaram ser infundados e mergulhamos de cabeça na revolução digital. Muito me alegra ser jovem o suficiente para participar dela ? afinal afetou não só na moda, mas todos os setores. Ela nos deu acesso instantâneo a tudo e, mais importante que isso, trouxe consigo um senso de democracia e transparência inédito até então. Todos ganharam voz.

Impressora 3D vendida no Brasil permite criar objeto em casa

A tecnologia permite que as pessoas copiem tudo muito mais rápido e, conforme as impressoras 3D vão se tornando mais acessíveis, as pessoas vão poder fazer qualquer coisa que desejarem em casa. Quem tem um negócio no ramo da manufatura terá que se adaptar à nova realidade, mas isso não significa que ela destruirá a qualidade do design.

A moda não vai desaparecer por causa desses aparelhos - e nem pode porque está em todo lugar: na comida, nas casas e no nosso comportamento. E o valor dos estilistas é reconhecido pelas grandes lojas, que disseminam suas ideias ainda mais. E mesmo que eles deixassem de criar, ainda assim a moda continuaria. As tendências surgem nas ruas, através do comportamento, como os jovens de repente usando coturnos, por exemplo. A moda sempre continua.

A tecnologia também nos permite conectar instantaneamente com a moda de Nova York, Pequim e Paris. Com o mundo cada vez mais globalizado e as mesmas lojas espalhadas em diversos lugares do mundo, o próximo desafio será começar a pensar de forma local, na criação para mercados e desejos especiais. A noção de país pode estar desaparecendo, mas as tribos permanecem fortes. Estamos criando comunidades. Qualquer grupo a que pertençamos, qualquer que seja nossa especialização, qualquer que seja o nicho que descubramos, sempre nos agrupamos. Todo mundo quer uma comunidade em que possa ser o que quiser. Pequena ou grande, não importa; ela pode existir e tem uma voz na internet.

Tudo isso gera uma criatividade sem precedentes. Pense na comunidade tecnológica do Vale do Silício. Imagine se hoje não tivéssemos os produtos que criaram, se a Universidade de Stanford não existisse… se a riqueza de hoje fosse resultado só de investimento e não de invenções, que deprimente seria!

Em vez disso, nasceu um mundo mais criativo, mais brilhante, que me enche de esperança. Essa geração, essa tribo tecnológica, está pondo a mão na massa ? e apesar de acumular uma riqueza enorme, não é esse o objetivo final. O que seus membros querem é erradicar doenças, conquistar o espaço, criar coisas. Conforme os novos valores vão ganhando terreno, afetam todos os setores, inclusive a moda, que sempre capturou e refletiu a energia de seu tempo e que tanto se beneficiou dessa inovação. Um novo mundo surgiu e isso é o que me deixa mais empolgada.

Não posso prever o que vamos vestir no futuro – se os ombros estruturados vão voltar com tudo ou se o vestido envelope continuará fazendo sucesso - mas tenho certeza de que a tecnologia e a moda vão continuar convivendo em harmonia. A primeira pode melhorar ainda mais a forma como criamos e distribuímos a segunda.

Com ferramentas como Instagram, Facebook e Twitter, estamos mais criativos, mais abertos e mais transparentes. De repente, o mundo se tornou assustador para quem finge ou falsifica; para os outros, é apenas um lugar mais aberto. As pessoas podem projetar aquilo que quiserem e alcançar um público enorme. A verdadeira revolução reside nessa abertura, na distribuição das coisas mais do que nas coisas em si.

Quem poderia prever que isso aconteceria? Talvez um ícone dos anos 70: Andy Warhol. Ele conseguiu vislumbrar uma parte do que se tornaria o mundo. Foi ele que viveu o primeiro reality show e compreendeu os símbolos e marcas, muito antes que todos os outros. As imagens da Coca-Cola, Jackie Kennedy ou da sopa Campbell foram o início do que estamos vivendo hoje. É muito fácil imaginar Andy usando o Instagram ou o Facebook - embora seja difícil pensar no que ele poderia ter registrado para continuar inspirando o público daqui a 40 anos.”

  • Carlo Allegri - 10.set.2012/Reuters

    Sergey Brin e Diane von Furstenberg assistem a ensaio de desfile da estilista o Google Glass