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Opinião: Quais são as formas apropriadas de ignorar as pessoas?

Pichi Chuang/Reuters
Imagem: Pichi Chuang/Reuters

Katherine Rosman

09/11/2014 00h01

Minha irmã mais velha odeia o Twitter. Absolutamente odeia e o evita a todo custo. Os sentimentos dela não se devem a uma devoção servil a pensamentos e sentenças plenamente formados. Não, Lizzie pode falar de forma simplificada e rudimentar.

O que minha irmã tenta escapar é do tapa na cara de rede social. "Eu nunca entro no Twitter porque me enfurece ver a quantidade de tempo e de energia dedicados para se comunicar com milhares de estranhos virtuais, sem que você tenha tempo para me ligar de volta", ela me disse, quando eu a entrevistei por telefone, enquanto ela dirigia por Los Angeles.

Os assuntos que Lizzie gosta de discutir são representados por esta recente amostra: "Você sabe dizer o que aconteceu àquele avião malasiano?" "Você está assistindo esta temporada de 'The Good Wife'?" E sua pergunta abrangente favorita, "O que tá rolando?"

Eu não disponho de tempo para dedicar a conversas telefônicas como ela gostaria. E não tenho problemas com isso. Eu falo ao telefone o máximo necessário para realizar com sucesso meu trabalho –e, fora isso, o mínimo possível. Eu converso pelo Twitter, Facebook e Instagram. Mas ao fazê-lo, quando alego estar ocupada demais para ler ou responder aos e-mails coletivos de meu pai, retornar as chamadas de Lizzie ou enviar uma resposta rápida sim ou não às perguntas de logística do meu primo, eu estou pedindo por encrenca.

Eu permaneço escondida à plena vista online. Isso pode irritar ou até mesmo magoar as pessoas com quem me importo, apesar de não ser minha intenção quando faço algo simples e sem importância como retuitar uma charge engraçada.


Essa é apenas outra forma como a tecnologia mexe com nossos relacionamentos, disse Amanda Lenhart, uma diretora associada de pesquisa do Projeto Internet do Centro Pew de Pesquisa. Apesar de sabermos que postar um comentário na Internet equivale a transmiti-lo publicamente, nós não levamos em consideração todas as pessoas que podem ver nossa comunicação feita às pressas. Quase qualquer ação que realizamos nas redes sociais, até mesmo tocando duas vezes na tela para formar um sinal de positivo ou um coração, é um sinal de que estamos prestando atenção a pelo menos parte de nossa comunicação no smartphone.

"Nós realizamos muita gestão de impressões na nossa vida cotidiana, o que nos leva a dizer algo a algumas pessoas, mas evitar dizê-lo a outras", disse Lenhart. Mas a atividade nas redes sociais nem sempre segue essas preocupações. "Digitalmente, o que estamos tentando descobrir é: quais são as formas apropriadas de ignorar as pessoas?"

Qualquer busca rápida pelo Twitter revela uma lista de indignação da era da Internet criada por essas falhas de comunicação: "Você pode tuitar, mas não pode me ligar de volta. É por isso que você é solteira", "Não me dê um fav, me liga de volta", e outros assim.

As redes sociais também se transformaram na colega de trabalho certinha que reclama dos outros por brincarem. Por exemplo, eu conhecei uma escritora cujos editores provavelmente notaram que apesar dela sempre atrasar na entrega de um artigo, ela sempre encontra tempo para tuitar sobre #AlexFromTarget e a festa de aniversário que está planejando para a filha. (Eu a conheço muito bem. Muito bem.)

Esse tipo de drama está em primeiro plano na cena de namoro contemporânea. "Pode ser um pouco irritante quando alguém não responde a uma mensagem de texto, mas você vê que postou uma imagem no Instagram há uma hora –a pessoa estava com o telefone na mão e você sabe", disse uma mulher em idade de namoro, que me assegurou que não falava apenas em seu nome, mas também no de cada mulher americana na faixa dos 20 anos.

A dinâmica também pode acabar com amizades. Jen Singer, uma mãe de 47 anos e blogueira de Kinnelon, Nova Jersey, gosta de enviar mensagens de texto. "Três palavras e um emoticon costumam bastar", ela disse. Ela começou a se distanciar de uma amiga que ligava com frequência, fazendo perguntas e contando histórias que Singer sentia que podiam ser colocadas em pixels. A amiga ligou para ela para reclamar que Singer não retornava as ligações, mesmo quando ria com outros no Facebook. "Um telefonema é algo intrusivo, e isso criou um racha", ela disse. "Se você é incompatível com aparelhos de comunicação, isso pode causar problemas no seu relacionamento."

Lauren Drell, 28 anos, editora da "Mashable" para conteúdo de marca, dedica muito pensamento ao meio usado para transmitir mensagens aos seus pares. "Você tem que parar e pensar se faz mais sentido enviar e-mail, mensagem de texto, tuitar, contatar pelo Snapchat, Facebook, Yo ou Instagram", ela disse.

Quando se trata da família, as considerações são ainda mais complexas. "Eu posso postar uma foto no Instagram, mas depois envio uma mensagem de texto para meus pais, falo pelo WhatsApp com meus irmãos e envio um e-mail para minha avó de 89 anos", disse Drell. "É a realidade da vida moderna."

A dinâmica de grupo adiciona outra camada. Para alguns, mensagens de texto entre múltiplas pessoas  –no qual um mesmo texto é enviado para muitos e todas as respostas são recebidas por todos na mensagem original– traz o jantar em família para o smartphone. E não de uma boa forma.

Enquanto aguarda pelo nascimento de seu primeiro filho, Charlotte Watts, 26 anos, de Chicago, tem firmes expectativas sobre como será contatada por sua família. Os parentes desejam atualizações frequentes sobre como ela está se sentindo e se já está em trabalho de parto. Eles telefonam, o que ela odeia. Ainda mais irritante é o fato de sua mãe deixar longas mensagens de voz, que ela espera que ela ouça. "Isso realmente me irrita", disse Watts.

Mas nada a incomoda mais que mensagens de texto grupais. "Elas são a desgraça da minha existência", ela disse. Sua família envia e então responde a mensagem para todos no grupo ao longo do dia, incluindo o marido de Watts. Ela fica irritada ao saber que seu marido está sendo perturbado no trabalho com mensagens que diz, resumidamente, "Ei, hora de dar uma olhada no prato que minha irmã está prestes a comer", disse Watts. (Eu mencionei que ela está grávida de mais de oito meses?)

Alguns relacionamentos podem transcender o emaranhado criado por um punhado de redes sociais, mas apenas duas mãos.

Quando era solteira, Leah Blowes, 24 anos, ficava frustrada quando um sujeito que estava namorando não retornava suas mensagens de texto, mas tuitava sem parar. "Aquilo me deixava doida", disse Blowes, um gerente de conta da Livestream, em Nova York. Ela guardava sua irritação para si mesma. "Eu não dizia nada", ela disse, "porque sempre há o temor de estar sendo grudenta demais".

Agora ela tem um namorado que ela conheceu pelo Twitter, que vive em Washington. Quando não estão tuitando um para o outro, eles trocam mensagens de texto e usam o Gchat, assim como o FaceTime.

Se ela o vê tuitando, isso não a incomoda. Ela fica feliz por poder ver no que ele está pensando e com quem está conversando. "Eu vejo um tweet e digo, 'Está tudo bem, ele está ocupado com outra coisa no momento'", ela disse. Ela sabe que ele lhe dará um fav em breve.