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EUA: pressão do Uber faz preços de licenças para táxi despencar

Kai Pfaffenbach/Reuters
Imagem: Kai Pfaffenbach/Reuters

Josh Barro

28/11/2014 01h52

Nas grandes cidades por todos os Estados Unidos, os preços das licenças para táxi estão despencando à medida que os táxis enfrentam a concorrência de aplicativos de serviço de transporte em carro particular como Uber e Lyft.

O preço médio de uma licença individual de táxi em Nova York caiu para US$ 872 mil em outubro, uma redução de 17% em comparação ao pico atingido no primeiro semestre de 2013, segundo uma análise de dados de venda. Números anteriores publicados pela Comissão de Táxis e Limusines (TLC, na sigla em inglês) da cidade –mostrando preços inalterados– parecem ser incorretos e a comissão os removeu de seu site após ser questionada pelo "The New York Times".

Em outras grandes cidades, os preços das licenças também estão caindo, frequentemente em conjunto com um declínio acentuado no volume de vendas. Em Chicago, os preços caíram 17%. Em Boston, pelo menos 20%, apesar de ser difícil estabelecer um preço exato de mercado, já que só foram realizadas cinco vendas desde julho. Na Filadélfia, a autoridade de táxi cancelou recentemente um leilão planejado de licenças.

A turbulência no mercado é ofuscada em parte pelo fato de os dados revelados publicamente sobre os preços das licenças de táxi poderem ser enganadores. E isso sugere que o setor de táxis, que passou por poucas mudanças ao longo de muitas décadas, agora está no meio de uma revolução.

"Eu já aceitei a ideia de que vou falir", disse Larry Ionescu, que é dono de 98 licenças de táxi em Chicago. Isso pode ser um exagero; afinal, Ionescu também comparou o prefeito pró-Uber de Chicago, Rahm Emanuel, a Nicolae Ceaucescu, o odiado ex-ditador de seu país de origem, a Romênia. É provável que Ionescu continue sendo um homem muito rico. Em novembro, o preço de uma licença de táxi em Chicago era em média de US$ 298 mil, bem abaixo do preço de US$ 357 mil típico no início do ano, mas ainda bem acima dos US$ 50 mil que custava há uma década.

Mas é fácil perceber por que ele está preocupado a médio prazo. Uma viagem de 11 quilômetros do Loop até a Universidade de Chicago em um táxi licenciado sai por cerca de US$ 26, incluindo gorjeta. A mesma viagem custava US$ 12,29 em abril pelo UberX, a opção de serviço de preço mais baixo do Uber.

A pergunta crucial para os donos de licença como Ionescu é: se o Uber é muito mais barato que um táxi, por que alguém tomaria um táxi e, consequentemente, por que um motorista pagaria pelo aluguel da licença? Ionescu diz que sua receita caiu cerca de 25% e está tendo dificuldade para alugar toda sua frota.

Dados oficiais dos preços das licenças podem ser enganadores por dois motivos: simples incorreção –como em Nova York, onde as autoridades excluíram a maioria das vendas de seus cálculos– ou devido ao número muito pequeno de vendas. Em Chicago, por exemplo, ocorreram apenas 11 vendas de licença desde 1º de julho, em comparação a 147 durante o mesmo período no ano passado. O fato de alguém ter vendido uma licença por US$ 300 mil não significa que o preço permanecerá consistentemente o mesmo em um mercado de tão pouco movimento.

"Esses preços são falsos", disse Mohammad Kamran, um corretor de licenças em Chicago, que culpa o UberX. "O preço despencou muito e não há compradores ou vendedores, porque aqueles que emprestam dinheiro não estão emprestando."

Kamran disse que os proprietários cada vez mais são incapazes de cobrar o valor semanal máximo de aluguel por táxis licenciados, que é de cerca de US$ 780, incluindo impostos e seguro, para um modelo recente de Toyota Prius. Os taxistas estão negociando o aluguel por US$ 700 ou US$ 725, ele diz, enquanto outros estão optando por serviços como o Uber.

Em Boston, a história é semelhante. Em abril, as licenças de táxi custavam US$ 700 mil. A última venda, ocorrida em outubro, foi por US$ 561 mil.

"No momento, o Uber tem uma forte presença aqui em Boston e isso está tendo um impacto imenso no setor de táxis e no preço das licenças", disse Donna Blythe-Shaw, uma porta-voz da Associação dos Taxistas da cidade. "Nós soubemos de dois proprietários de licença que oferecem vender por 425 [mil] e ninguém se interessou."

Sistema de licenças

A maioria das grandes cidades americanas há muito usam sistemas para limitar o número de táxis em circulação, geralmente um sistema de licença: os motoristas precisam comprar ou alugar uma licença para operar um táxi, e a cidade estabelece um limite para elas. Em Nova York, que criou seu sistema de licenças em 1937, esse número é de 13.437. O número tem aumentado apenas gradualmente desde o final dos anos 90, mesmo enquanto a economia da cidade passava por um boom.

Com a demanda por táxis aumentando e a oferta limitada, o valor das licenças foi às alturas: uma licença que podia ser comprada por US$ 250 mi em Nova York há uma década (ou cerca de US$ 315 mil em números corrigidos pela inflação) valia mais de US$ 1 milhão no ano passado.

O volume de venda de licenças sempre flutuou em Nova York, mas no momento se encontra em um ponto baixo. Ocorreu apenas uma venda de licença em setembro, seguida por nove em outubro. Como detalhe mórbido, cinco das dez vendas nesses dois meses foram por execução hipotecária. O mercado de táxis de Nova York costumava ser considerado menos vulnerável devido à importância dos passageiros que fazem sinal na rua, a quem o Uber não pode atender, e porque Nova York exige que os motoristas do Uber sejam licenciados pela TLC e dirijam veículos com placas de táxi e seguro comercial.

Os táxis amarelos de Nova York também enfrentam a concorrência dos novos "boro taxis" verdes, que só pegam passageiros nos bairros fora de Manhattan e no norte da ilha. Esse programa está funcionando há três anos, inclusive no período em que os preços das licenças estavam subindo. A grande maioria dos passageiros que tomam os táxis amarelos em Manhattan o faz abaixo da Rua 110 ou nos aeroportos, onde os táxis amarelos enfrentam a concorrência do Uber, mas não dos táxis verdes. Mesmo assim, o programa de táxis verdes enfrenta forte oposição dos donos de licenças de táxis amarelos e o começo da queda dos preços das licenças coincidiu com a decisão da Justiça, em junho de 2013, de manter o programa de táxis verdes.

O problema no mercado de Nova York também foi ofuscado em parte por uma falha nos relatórios de preço médio, que eram publicados mensalmente pela comissão municipal de táxis até setembro. Esses relatórios apontaram erroneamente que o preço médio das licenças individuais permanecia basicamente o mesmo desde o recorde de US$ 1,05 milhão, atingido em junho de 2013.

Na verdade, licenças individuais foram negociadas abaixo de US$ 1 milhão durante grande parte do ano passado. Mas a comissão exclui de suas estatísticas qualquer transação a um preço mais de US$ 10 mil abaixo da média relatada do mês anterior. Faz isso visando excluir as vendas com preços muito anômalos, como entre dois parentes, por exemplo. Quando os preços estão estáveis ou subindo, como foi o caso por décadas, a metodologia pode produzir um resultado razoavelmente preciso. Mas quando os preços estão caindo, o método da comissão certamente descaracteriza o mercado.

Um porta-voz da TLC apontou para os termos de alerta em seus relatórios de que o preço médio "pode ser enganador e pode não refletir precisamente as tendências nos preços das licenças, entre outras coisas".