Topo

Empresas de tecnologia buscam derrubar as paredes entre aplicativos

John Locher/AP
Imagem: John Locher/AP

Conor Dougherty

06/01/2015 06h00

Navegar pela internet costumava exigir a digitação meticulosa do endereço exato desejado em seu computador. O browser e a ferramenta de busca simplificaram isso, nos dando a internet que hoje damos como certa.

Agora, por todo o Vale do Silício, empresas que variam de minúsculas startups até titãs como Google e Facebook estão tentando levar a mesma simplicidade aos smartphones, ensinando os aplicativos a conversarem uns com os outros.

Diferente das páginas de internet, os aplicativos para dispositivos móveis não possuem links. Eles não têm endereços de internet. Eles vivem em mundos próprios, em grande parte isolados uns dos outros e da internet maior. Logo, é muito mais difícil compartilhar a informação presente neles.

Não é apenas uma questão de conveniência do consumidor. Para o Google e Facebook, e qualquer empresa que desenvolveu suas atividades na internet, é uma questão de controlar a próxima porta de entrada para a internet –o dispositivo móvel.

"Todo o conceito do Google é vamos indexar a informação do mundo, mas eles deixaram de fora muita coisa: tudo o que está dentro dos aplicativos", disse Alex Austin, presidente-executivo da Branch Metrics, uma startup em Palo Alto, Califórnia, que está tentando criar um endereço de internet universal que possa funcionar em todos os aplicativos, assim como na internet.

Digamos que você queira um hotel para uma estadia de fim de semana. Você poderia pesquisar no Google por ofertas ou visitar um site de viagem. Mas onde quer que você vá na internet, você não encontrará os quartos do HotelTonight, um aplicativo que oferece grandes descontos para reservas de última hora. A única forma de obter essas listagens é usando o aplicativo.

E se você encontrar alguns poucos hotéis do HotelTonight, você não poderá enviá-los por e-mail para sua mulher, porque não há links para enviar.

Esse é apenas um exemplo envolvendo um aplicativo. Mas à medida que as pessoas passam mais tempo em seus dispositivos móveis e em seus aplicativos, a internet deles deu um passo para trás, se tornando mais isolada, mais desorganizada e, no final, mais difícil de usar –mais parecida com a internet antes das ferramentas de busca.

"Quão notável é estarmos de volta a 1997!" disse Roger McNamee, cofundador da Elevation Partners, uma empresa de investimento em tecnologia em Menlo Park, Califórnia.

Em linguagem técnica, o problema é conhecido como "deep linking" (link profundo), o obstáculo tecnológico de dar aos aplicativos algum tipo de link –aqueles que identificam linhas de letras, pontos e barras que formam um endereço de internet ou URL.

Apesar do "deep linking" ser uma preocupação para as grandes empresas de tecnologia, ele também é uma grande oportunidade para startups que buscam tomar o lugar delas. Como Austin colocou, "quem conseguir o melhor banco de dados vencerá este jogo".

Sua Branch Metrics e outras startups no campo, incluindo a URX e Quixey, estão tentando se transformar na tecnologia preferida dos desenvolvedores de aplicativos para deep linking. Os esforços variam em escopo e as empresas contam com modelos de negócios altamente diferentes.

Algumas pessoas dizem que é como instalar tubulações em uma casa depois dela estar construída.

"É exatamente o mesmo problema que o Google foi encarregado de resolver", disse John Milinovich, o presidente-executivo da URX.

Para os gigantes conhecidos de internet, deep linking é uma forma de proteger seus negócios, criando versões móveis das coisas que fazem na web.

Pegue o Google, que ganha dinheiro ajudando as pessoas a pesquisarem na internet. Quando as pessoas realizam busca em aplicativos, ele fica em grande parte de fora. E apesar da empresa ter um negócio crescente de venda de aplicativos por meio de dispositivos que usam o sistema operacional Android, isso empalidece em comparação aos seus negócios de venda de anúncios online.

A solução do Google é a tecnologia App Indexing, uma forma de catalogar as páginas de aplicativos, deixando a ferramenta de busca do Google recuperar a informação dos aplicativos móveis tanto quanto das páginas de internet.

O Twitter tem o Twitter Cards, que possibilita ir do aplicativo Twitter para outro aplicativo no telefone do usuário, em vez do aplicativo Twitter para a internet. Se o usuário não tem um aplicativo que ele ou ela deseja ver instalado em seu telefone, o Twitter perguntará se o usuário deseja instalá-lo imediatamente.

O Facebook está tentando criar um padrão aberto de links profundos para ajudar os aplicativos a se conectarem uns aos outros, para que alguém, por exemplo, possa passar de ouvir uma banda no aplicativo Spotify a encontrar informação sobre apresentações ao vivo da banda no Songkick, outro aplicativo.

Com tantas empresas e investidores trabalhando em deep linking, a própria concorrência se tornou um problema. Isso porque a forma mais fácil de fazer os aplicativos se comunicarem como se fizessem parte da internet é fazer os desenvolvedores de aplicativos adotarem um padrão único que funcione em todos os dispositivos e sistemas operacionais.

"Assim que todos nós estivermos usando o mesmo tipo de tubulação, todo mundo poderá passar a desenvolver negócios e experiências interessantes a partir disso", disse Eddie O'Neil, um gerente de produto do Facebook que está trabalhando no programa da empresa.

Famo.us é uma empresa de San Francisco que desenvolve software para reempacotar os sites de internet de uma forma que possam ser vendidos e baixados como aplicativos, mas ainda possam ser pesquisados e linkados como páginas de internet. Steve Newcomb, o presidente-executivo da empresa, descreveu os esforços para adicionar links aos aplicativos como soluções de "remendo", que são mais um problema do que uma solução.

Alguns criadores de aplicativos podem resistir a qualquer uma dessas soluções –especialmente se estiverem fazendo excelentes negócios em aplicativos. Seria difícil indexar algo tão complexo como a listagem de hotéis do HotelTonight, por exemplo, sem obrigar esses serviços a darem a uma ferramenta de busca uma atualização contínua de seus dados, algo que não vão querer fazer.

Ainda assim, seja por deep linking ou por outro meio, o mundo móvel algum dia se tornará interconectado, disse Sam Altman, presidente da Y Combinator, uma incubadora de tecnologia que investe em novas empresas.

"A coisa que tornou a internet tão mágica foi o fato de não haver atrito para se mover de um lugar para outro", ele disse. "Você pode passar de uma canção para comprar ingressos e obter informações sobre como chegar. Era essa interconectividade profunda de tudo."

Ele acrescentou: "As pessoas perderão um pouco de seus redutos, mas será impossível de impedir".