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Aplicativo Snapchat vira mais uma plataforma para strippers e pornografia

Jose Luis Merino/The New York Times
Imagem: Jose Luis Merino/The New York Times

Nick Bilton

02/03/2015 06h00

A pornografia, alguém já disse, é um dos motores da tecnologia. A pornografia incentivou a adoção da maioria das inovações tecnológicas da última geração. Ela ajudou a acelerar o crescimento das fitas VHS, CDs interativos e DVDs, e basicamente de toda a internet.

Agora, ela está chegando ao seu smartphone de uma forma totalmente nova, graças a um aplicativo de mensagens popularizado por adolescentes e cortejado por grandes marcas.

O aplicativo é o Snapchat, e sua incursão não intencional no mundo da pornografia começou em novembro, quando o serviço lançou uma função chamada Snapcash, que permite que as pessoas enviem dinheiro usando o Square, uma plataforma de pagamentos.

É muito fácil de usar. Digamos que você quer pagar US$ 20 a alguém por um jantar. Basta ir ao nome da conta de Snapchat da pessoa, digitar “US$ 20” e apertar enviar. A função, é claro, não está limitada a pagamentos por jantares. Você pode mandar dinheiro para o aluguel, uma dívida ou um strip-tease virtual.

E esses strip-teases se tornaram muito populares. Strippers, atores e atrizes pornôs começaram a usar o Snapchat para enviar vídeos e fotos em que aparecem nus por uma pequena taxa. Algumas transações são baratas e custam de US$ 1 a US$ 5 por algumas fotos personalizadas. Os preços podem atingir os dois dígitos para shows de sexo personalizados.

Esta semana no Snapchat, uma morena de seus 20 anos não usava nada além de roupas íntimas minúsculas e oferecia enviar fotos personalizadas de acordo com as preferências da pessoa por US$ 5. Homens oferecem produtos semelhantes a preços comparáveis.

Voc? pode se perguntar por que alguém pagaria por pornografia online quando ela está disponível gratuitamente em qualquer lugar. Por um motivo: um chat em vídeo particular em seu telefone celular com uma pessoa nua é muito mais íntimo e pessoal do que um website ou até mesmo uma webcam. (É o que dizem.)

Além disso, o Snapchat não deixa nada no seu histórico de busca. Não há rastro a ser encontrado por uma parceira bisbilhoteira ou pais superprotetores.

Para ser claro, o quadrante de pornografia paga do Snapchat é atualmente uma pequena fração dos cerca de 200 milhões de usuários do aplicativo. Mas está crescendo à medida que a oferta encontra demanda.

O principal obstáculo é encontrar esses strippers no Snapchat. A maioria trabalha sob disfarce, em parte porque a pornografia viola as normas de comunidade da companhia. Na semana passada, o Snapchat publicou um “Snapchat Centro de Segurança”, lembrando as crianças de que fotos nuas não são permitidas. “Não use o Snapchat para nenhuma bobagem ilegal, e se você for menor de 18 ou estiver conversando com alguém que possa ser menor: não tire a roupa!”, escreveu a companhia.

O Snapchat parece estar fiscalizando suas próprias regras. Algumas semanas atrás, fiz um teste e adicionei 30 contas de Snapchat que prometiam compartilhar fotos pornográficas, algumas sem cobrar nada, outras por uma taxa. Uma semana depois, 28 dessas contas foram fechadas. “Temos sistemas sofisticados para detectar abusos e fechar contas que violam nossos termos de uso”, diz o Snapchat em uma declaração. “Somos muito agressivos para entrar em ação e continuaremos nossos esforços nessa frente.”

Para evitar serem removidos do Snapchat, os usuários transformaram dezenas de fóruns de sexo online em mercados virtuais. Strippers anunciam seus serviços lá, e os interessados postam seus nomes do Snapchat. Desta forma, os que tiram a roupa podem vetar os que estão vestidos antes de enviar fotos ou receber dinheiro em suas caixas de gorjetas no Snapchat.

Alguns strippers também estão evitando a expulsão não cobrando os usuários no Snapchat. Em vez disso, oferecem uma provocação diária no aplicativo de mensagens, e daí atraem a pessoa para seus sites pessoais, onde eles aceitam pagamento de serviços de terceiros como PayPal e Amazon.

O Snapchat não é o único aplicativo móvel no qual a pornografia floresceu secretamente. O aplicativo de mensagens Kik, que permite que as pessoas conversem usando texto e fotos e compartilhem links para chats com webcam, também se tornou um playground para a pornografia. E embora o Twitter e o Facebook não permitam que as pessoas mandem dinheiro, ambos são populares entre atores pornográficos que querem se comunicar com os fãs.

E, é claro, a pornografia não é nova na internet. Parece que as webcams foram inventadas apenas para permitir que as pessoas paguem para ver alguém pelado. Mas o que está mudando agora é a rápida migração para o celular. De acordo com um estudo recente da Juniper Research, os chats em vídeo e serviços de assinatura em dispositivos móveis responderão por US$ 2,8 bilhões do lucro relacionado à pornografia este ano.

Um usuário de pornografia no Snapchat, que pediu para não ter o nome relevado por motivos óbvios, disse que as pessoas se sentem atraídas pela natureza um a um da interação, bem como pela privacidade do aplicativo.

Os strippers, enquanto isso, sentem que os aplicativos móveis como o Snapchat e Kik oferecem um controle adicional. Os shows feitos em webcams costumam ser gravados por usuários e colocados em sites, onde podem ser vistos de graça. Em comparação, aplicativos como o Snapchat dificultam a gravação de vídeo.

Stephen Yagielowics, um analista de mídia online da Xbiz que escreve sobre a indústria de entretenimento adulto, disse que telas maiores, câmeras melhores e conexões mais rápidas nos celulares criaram um ambiente perfeito para strippers entrarem em contato diretamente com seu público. “Há uma confluência entre o sexo e tecnologia atualmente que está cortando o intermediário”, disse ele, observando que “muitos profissionais adotaram os shows ao vivo por webcam como fonte de renda”.

Tradutora: Eloise De Vylder