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Com gadgets e sensores, tecnologia pode tornar o envelhecimento mais seguro

Jean Dickow mostra o relógio de segurança chamado Lively que ela usa - Jim Wilson/The New York Times
Jean Dickow mostra o relógio de segurança chamado Lively que ela usa Imagem: Jim Wilson/The New York Times

Constance Gustke

25/07/2015 06h00

Jean Dickow, 78, nunca quis a mais recente tecnologia de ponta. Mas sua filha, que adora aparelhos e vive na Noruega, temia que Dickow pudesse cair em seu apartamento e ninguém ficar sabendo.

Assim, Dickow foi persuadida a usar um relógio de segurança chamado Lively, parecido com o Apple Watch, que tem um botão de alerta caso ela sofra uma queda. Usar um pingente de alerta médico, que denuncia a idade avançada, não era uma opção, ela disse.

Além de exibir a hora, o relógio de segurança também tem um pedômetro (contador de passos) e até mesmo um alerta para medicação. Mas Dickow gosta especialmente da aparência chique do relógio. "Minhas colegas de clube me perguntam onde consegui o Apple Watch", disse Dickow, que vive em Oakland, Califórnia, com um sorriso.

"Esta é uma nova onda de eletrônicos e de como seus filhos podem cuidar de você", disse Dickow, que não tem um smartphone. "É uma época maravilhosa para os idosos."

Os aparelhos que podem aliviar os fardos da idade estão lentamente começando a aparecer nos lares e comunidades de adultos mais velhos. Eles são projetados para responder a necessidades vitais, como prestação de cuidados, transporte e viver com maior segurança em casa. Especialistas em tecnologia dizem que esses novos aparelhos podem ajudar adultos mais velhos a permanecerem em seus lares por mais tempo e de modo mais barato, e até mesmo ajudar a prevenir males mais sérios.

"Em três a cinco anos, o envelhecimento será transformado", disse Laura Carstensen, diretora do Centro para a Longevidade da Universidade de Stanford. "Nós estamos nos primeiros estágios de ver o que a tecnologia pode fazer." Os asilos se tornarão como os asilos de indigentes do passado, à medida que a tecnologia facilitar continuar vivendo em casa, ela disse.

Até mesmo a Casa Branca vê a tecnologia como crucial para envelhecer bem. Em uma recente Conferência da Casa Branca sobre Envelhecimento, empresas apresentaram novas tecnologias transformadoras para ajudar os americanos a envelhecer de modo mais gracioso. E o serviço de transporte Uber anunciou um programa piloto que oferece orientações gratuitas sobre tecnologia e viagens gratuitas ou com desconto para os americanos mais velhos em centros para idosos e outros locais em cinco Estados.

A startup Honor do Vale do Silício, que conecta prestadores de cuidados com adultos mais velhos por meio de uma tela em casa, anunciou na conferência que ofereceria US$ 1 milhão em atendimento domiciliar gratuito em 10 cidades. Seth Sternberg, cofundador e presidente-executivo da Honor, passou a se preocupar em como pessoas idosas poderiam viver melhor de modo independente quando sua mãe passou a ter dificuldade para dirigir. Agora a missão dele é ajudar a reformar o atendimento domiciliar.

Essas tecnologias repetem a hierarquia das necessidades humanas traçada por Abraham Maslow em seu trabalho de 1943, "A Teoria da Motivação Humana", publicado na "Psychological Review". Elas incluem conexão, transporte e fazer parte de uma comunidade, disse Stephen Johnston, cofundador do acelerador de tecnologia Aging 2.0.

Sensor na geladeira - Jim Wilson/The New York Times - Jim Wilson/The New York Times
Jean mostra sensor que tem na geladeira e nota com que frequência a porta é aberta
Imagem: Jim Wilson/The New York Times

Ele acrescentou que mais startups estão se voltando para prestação de cuidados. A CareLinx, por exemplo, seleciona prestadores de cuidados e até mesmo casa uma família a um orientador, que ajuda no andamento do processo.

"Estamos vendo o surgimento da tecnologia social", disse Johnston. "Haverá muito mais personalização."

A Internet das Coisas, uma rede de objetos físicos contendo componentes eletrônicos, software, sensores e conectividade para permitir que "falem" uns com os outros, também está mais próxima do que as pessoas pensam, disse Joseph Coughlin, diretor do AgeLab, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Na casa inteligente do futuro, os aparelhos antigos serão substituídos por inteligentes, ele disse. "A mesma casa será mais inteligente", ele acrescentou.

Os adultos mais velhos ainda estão no lado errado da divisão digital, segundo vários estudos. Mas Coughlin disse que produtos ruins são os culpados, não a rejeição a novas tecnologias. "Se você torna os aparelhos divertidos, as pessoas os utilizarão", ele disse. "Mas se eles rotulam alguém de idoso, não funciona."

Os "baby-boomers" (a geração pós-Segunda Guerra Mundial), ele acrescentou, serão os novos disruptores que adotarão as tecnologias, porque esperam viver melhor.

Por ora, grande parte da tecnologia inteligente depende de sensores pequenos, inventados nos anos 50. Eles podem ser colocados em qualquer lugar na casa para rastrear atividade. No refrigerador, os sensores notam com que frequência a porta é aberta. Na porta da frente da casa, eles registram que entra e quem sai. O propósito deles é gerar dados que possam ser usados para prevenir doenças ou reduzir idas ao hospital.

Além de seu relógio de segurança, Dickow tem sensores Lively por toda sua casa. Um hub em seu carrinho de chá transmite os dados, que aparecem em um painel online disponível para sua filha. Mas Dickow disse que até mesmo já se esqueceu que os aparelhos estão lá. "Minha filha nem mesmo me fala a respeito", ela disse.

Qualquer um pode acrescentar sensores a um lar por apenas poucos milhares de dólares, disseram pessoas que trabalham com adultos mais velhos.

Algumas comunidades de adultos mais velhos também estão começando a usar sensores. A Eskaton, que conta com cerca de 30 campi na Carolina do Norte, colocou sensores em alguns de seus apartamentos. A informação coletada é baixada várias vezes por dia, disse Sheri Peifer, diretora-chefe de estratégia da Eskaton. Os dados são analisados por um software e adicionados ao relatório a respeito de um morador, que é gerado todo dia.

"O sistema passa a saber seu comportamento pessoal", disse Peifer. "Nós somos alertados quando não há movimento, por exemplo."

Uma moradora da Eskaton, Doris Herrilson, 91 anos, disse que gosta de ter sensores em seu apartamento, porque se sente mais segura. Ela caiu e fraturou o quadril, e agora usa um andador. "Assim, sempre tenho medo de cair de novo", ela disse. "Mas agora, a queda pode ser detectada mais rápido. É um cuidado discreto."