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Pokémon vira febre nas ruas e intriga dono de local transformado em "ginásio"

O usuário do "Pokémon GO" Jonathan Ventura em frente a uma propriedade privada em Massachussets que se tornou um "ginásio" Pokémon - Matthew Cavanaugh/The New York Times
O usuário do "Pokémon GO" Jonathan Ventura em frente a uma propriedade privada em Massachussets que se tornou um "ginásio" Pokémon Imagem: Matthew Cavanaugh/The New York Times

Nick Wingfield e Mike Isaac

Em San Francisco

13/07/2016 06h00

Existem games que viralizam da noite para o dia, fazendo com que as pessoas se enfurnem em casa durante dias para jogar. Mas o contrário aconteceu com “Pokémon Go”, um jogo gratuito para smartphones que foi parar no topo da lista dos jogos mais baixados, mandando pessoas para as ruas e parques, praias e até mesmo para o mar em caiaques na semana em que foi lançado.

O jogo, no qual os jogadores tentam capturar monstros exóticos do Pokémon, a franquia do desenho japonês, usa uma combinação de tecnologias comuns embutidas em smartphones, incluindo geolocalização e câmeras, para incentivar as pessoas a visitarem pontos famosos da cidade, ao procurarem itens virtuais e personagens colecionáveis.

Boon Sheridan, de Holyoke, Massachusetts, viu a atividade em primeira mão. Sem saber, sua casa, uma antiga igreja que um dia atraiu fiéis, foi designada como um “ginásio” Pokémon, um lugar onde os jogadores que atingem o Nível 5 no jogo devem ir para treinar seus personagens do Pokémon.

Boon e Caro Sheridan, cuja casa --uma antiga igreja em Holyoke, Massachusetts--, foi designada como um "ginásio" Pokémon no jogo "Pokémon GO" - Matthew Cavanaugh/The New York Times - Matthew Cavanaugh/The New York Times
Boon e Caro Sheridan, cuja casa foi designada como um "ginásio" Pokémon
Imagem: Matthew Cavanaugh/The New York Times

Na semana passada, à medida em que o jogo foi se tornando o aplicativo mais baixado e com maior receita das listas, ele começou a pensar em como explicar para os vizinhos sobre todas as pessoas que estavam se reunindo na calçada e aparecendo em horários inesperados.

“Quero que eles saibam que não sou um traficante de drogas”, disse Sheridan. “Sei que tem gente aparecendo na frente de minha casa o tempo todo, mas juro que não tenho nada a ver com isso.”

No domingo, os parques e o centro de San Francisco estavam fervilhando de jogadores de “Pokémon Go”, enquanto em Washington, a Casa Branca e o Pentágono foram designados como academias oficiais Pokémon. Um bar em Harrisonburg, Virginia, ofereceu um desconto de 10% para jogadores de “Pokémon Go” em uma equipe específica, enquanto uma loja de chás em Japantown em San Francisco criou uma promoção “compre um chá, leve dois” para jogadores do Pokémon Go.

O número de usuários diários ativos em aparelhos Android só nos Estados Unidos estava se aproximando do de usuários do Twitter, calcula a empresa de análise de dados SimilarWeb.

O “Pokémon Go” representa um desses momentos quando uma nova tecnologia—nesse caso, realidade aumentada ou "AR", que mistura tecnologia digital com o mundo físico—deixa de ser um brinquedo para poucos usuários pioneiros e passa a ser algo muito maior. A ideia por trás da tecnologia é sobrepor imagens digitais sobre a visão do mundo real de uma pessoa, usando uma tela de smartphone ou óculos.

No caso do “Pokémon Go”, os jogadores atravessam o mundo físico seguindo um mapa digital, procurando por criaturas do desenho que vão surgindo aleatoriamente. As pessoas olham através das câmeras de seus smartphones para encontrar o Pokémon. Quando uma criatura animada aparece, eles jogam Pokébolas nela até vencê-la.

Pokémon GO - Pikachu - Reprodução/Polygon - Reprodução/Polygon
Imagem: Reprodução/Polygon

Mas o aspecto público do jogo também está causando efeitos secundários não previstos, levando multidões para casas e perturbando seus proprietários, além de criar oportunidades para que criminosos atraiam jogadores até áreas remotas onde podem ser assaltados. Na Austrália, a polícia divulgou dicas para como jogadores errantes de “Pokémon Go” podem jogar em segurança.

Muitas empresas de tecnologia achavam que a AR iria primeiro decolar através de aplicativos empresariais especializados, como um que permite que arquitetos visualizem projetos finalizados no local. Mas afinal foi um jogo baseado em uma adorada franquia de entretenimento dos anos 1990 no Japão que ajudou a popularizar a tecnologia.

Pokémon, um híbrido das palavras “pocket” (bolso) e “monsters” (monstros), pertence à Pokémon Co.  e parcialmente à Nintendo, a pioneira japonesa dos games, que teve dificuldades para se adaptar à era dos jogos em dispositivos móveis como smartphones e tablets. No desenho, os treinadores Pokémon usam personagens para lutar uns com os outros por esporte.

A aceitação do “Pokémon Go”, que até o momento está disponível somente nos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, foi tão intensa que elevou em US$ 9 bilhões o valor de mercado da Nintendo nos últimos dias.

No entanto, o “Pokémon Go” é na verdade o trabalho de uma startup, a Niantic Inc., que foi criada dentro do Google e saiu da empresa no ano passado. O primeiro jogo da Niantic, um thriller de conspiração e ficção científica chamado “Ingress”, tornou-se possível graças ao serviço de mapeamento digital do Google. Cerca de 15 milhões de usuários baixaram o Ingress, e este tem pouco mais de 1 milhão de jogadores ativos por mês, diz John Hanke, diretor executivo da Niantic.

A Niantic fez uma parceria com a Pokémon Co. para criar o “Pokémon Go”. Hanke disse que não tinha o número exato de jogadores, mas que era seguro dizer que será “razoavelmente maior” que o número de jogadores que o Ingress atraiu.

Temos que pegar! Um resumo de como funciona Pokémon Go!

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Os downloads têm sido tão frequentes que os servidores da Niantic tiveram dificuldades para lidar com o tráfego e a companhia está lutando para aumentar sua capacidade. Hanke disse que a Niantic estava adiando a introdução do game em outros países por alguns dias para conseguir dar conta da demanda.

“Nós esperávamos que fosse ser popular, mas não a esse ponto”, ele disse. “Estamos tentando nos situar.”

Assim como a maior parte dos games para celular, embora o “Pokémon Go” seja gratuito, ele dá aos jogadores a oportunidade de comprar itens virtuais por alguns dólares para acelerar seu progresso. O aspecto de mundo real do jogo também dá à Niantic outra curiosa possibilidade para fazer dinheiro, ao cobrar de lanchonetes de fast-food, cafés e outros estabelecimentos de varejo para que se tornem pontos patrocinados onde as pessoas são motivadas a ir para coletar itens virtuais.

A Niantic fez acordos do tipo para o “Ingress”, e Hanke disse que a empresa anunciaria pontos patrocinados para o “Pokémon Go” no futuro.

Brad Enswort, um estudante da Universidade Estadual de San Francisco que jogou o jogo durante o fim de semana, disse nunca ter sido fã de jogos em realidade aumentada antes do “Pokémon Go”, mas que foi seduzido pelo aspecto surpreendentemente social do game.

“Você encontra pessoas e começa a conversar imediatamente”, ele disse enquanto jogava no Golden Gate Park. “Nós conhecemos esse cara que veio dirigindo de San José para pegar Pokémons no parque, e ele conhecia mais sobre esse jogo do que qualquer outra pessoa que encontramos até agora. Chamamos ele de Guru.” 

Reuniões do “Pokémon Go” também estão previstas. Sara Witsch, uma estudante de teatro na Universidade Estadual de San Francisco, organizou um grupo de Facebook para uma “caminhada Pokémon Go”, provisoriamente marcada para dia 20 de julho. Até a noite de segunda-feira, mais de 18 mil pessoas haviam demonstrado interesse no evento, e mais de 3.700 confirmaram presença.