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Novos produtos da Apple facilitam uso de redes sociais e desafiam serviço de mapas do Google

Marion Strecker

De San Francisco, Califórnia

11/06/2012 20h00

  • Stephen Lam/Reuters

    Scott Forstall, vice-presidente do software iOS, demonstra funcionamento de sistema de mapas integrado ao sistema operacional móvel iOS 6

A Apple lançou nesta segunda-feira (11) nos EUA uma nova linha de computadores portáteis, do levíssimo MacBook Air ao potente MacBook Pro, mais velozes que os anteriores. Anunciou também detalhes do seu novo sistema operacional para computadores, o Mountain Lion, que chegará ao mercado em julho, e o novo sistema operacional para o iPhone, o iOS 6, que virá no segundo semestre.

Para mim, a melhor notícia é que em breve não precisarei mais atualizar aplicativo nenhum. Os aparelhos farão isto automaticamente, mesmo se estiverem no modo “dormir”. Um problema a menos no infernal e viciante mundo da tecnologia. Os computadores terão “Dictation”, de modo que falando você poderá acionar softwares, sites como o Facebook ou mesmo aplicativos de outras empresas como o Word da Microsoft.

O iCloud permitirá ver num computador específico as telas dos outros aparelhos que estiverem ligados à mesma conta, facilitando a vida dos que possuem diversos equipamentos da família Apple. Outra notícia é que o iPhone pretende funcionar melhor como um GPS, sem que o motorista precise tirar a mão do volante nem os olhos da estrada, já que o aparelho ouve e fala. Mas são promessas, a testar no futuro próximo.

O produto mais caro, o MacBook Pro com tela Retina (definição quatro vezes maior que a anterior), foi apresentado como o melhor computador portátil jamais fabricado. O computador é ¼ mais fino que o anterior e traz porta USB 3.0, dez vezes mais rápida do que a porta USB 2.0. Custa US$ 2.199 dólares em sua versão menos cara, fora imposto. “É o melhor computador para hoje e para o futuro”, disse em vídeo o britânico Jonathan Ive, designer-chefe da empresa. Comentário interessante, numa indústria que vive por tornar seus próprios produtos obsoletos.

Em linhas gerais, a Apple está facilitando a vida de quem usa Facebook e Twitter, está se apropriando das informações de restaurantes e outros negócios do Yelp, e quer bater de frente com o Google Maps, Google Street View e Google Earth, com um novo serviço de mapas, feito por eles mesmos num “esforço global”, já associados a 100 milhões de estabelecimentos comerciais que aparecerão nos mapas.

Conferência de desenvolvedores

Diferentemente do previsto, não foi o sucessor de Steve Jobs, Tim Cook, quem fez a abertura da WWDC (Worldwide Developers Conference) em San Francisco, Califórnia, onde as novidades foram anunciadas. Foi Siri, o software que faz as vezes de assistente pessoal no iPhone 4S, com sua voz feminina, quem reinou no telão do auditório.

Siri faz tanto sucesso nos EUA, onde melhor funciona por causa da língua e dos milhares de serviços que existem aqui, que ficou simpático Tim Cook ser apenas o segundo a falar. Aliás, se a Apple soubesse de antemão o sucesso que Siri faria talvez tivesse chamado o iPhone 4S de iPhone 5. Mas de iPhone 5 não se falou hoje. Desde o fim de semana um grande cartaz escrito iOS 6 estava na fachada do centro de convenções Moscone West. O software é o coração do iPhone, usado por 360 milhões de pessoas.

  • Justin Sullivan/Getty Images/AFP

    Tim Cook, CEO da Apple, apresenta evento de abertura da conferência WWDC, da Apple

O WWDC é a principal conferência técnica para profissionais que desenvolvem softwares para aparelhos da Apple. Dura cinco dias. Os 5 mil ingressos custaram US$ 1.599,00 por cabeça e se esgotaram em 1 hora e 43 minutos quando foram postos à venda, um recorde comparado com as 10 horas de venda do ano passado, ano em que Steve Jobs fez sua última aparição na WWDC e apresentou o iCloud (sincronização de dados entre computadores remotos), meses antes de morrer em outubro.

Uma grande novidade este ano foi a WWDC ter admitido a entrada de adolescentes de 13 a 17 anos entre o público pagante, atendendo a reivindicações. “A WWDC está em sua 23a. edição e é mais velha do que muitos de vocês”, disse Tim Cook para o deleite da rapaziada. Acho que isso diz muito sobre onde estamos em tecnologia hoje. Essa é a supernova economia!

“Fechamos a Apple por uma semana para trazer mais de mil engenheiros aqui”, disse Cook. Os engenheiros vão apresentar as características dos novos sistemas operacionais em 112 sessões e 125 “labs” (laboratórios) ao longo da semana.

Os 5 mil participantes, que fizeram filas desde as 4h da manhã para esperar a abertura do evento, estão ávidos para obter informações que facilitem o desenvolvimento de novos serviços (aplicativos ou apps, para os íntimos).

Nunca na história a influência da Apple foi tão grande, em particular no mundo móvel, apesar do constante crescimento do número de usuários de Android. O Android é o sistema operacional mais usado no mundo em telefones e tablets. Tem perto de 60% do mercado global e é um sistema aberto (pode ser modificado).

O Android é desenvolvido por uma aliança de empresas liderada pelo Google, que originalmente comprou a Android Inc. em 2005. Mas o fato é que quando se estuda audiência de internet a partir de aparelhos móveis, a Apple reina. E a maioria dos iPhones está com seu sistema operacional atualizado, enquanto a maioria dos Androids parou numa versão anterior.

Como em todos os eventos da Apple, o público vindo de 60 países urrou na plateia e os jornalistas literalmente correram para se posicionar na frente do auditório, tentando entender o grande número de informações técnicas reveladas.

“A App Store é o mais vibrante ecossistema do planeta”, disse Cook, mostrando que a loja que só existe na internet tem mais de 400 milhões de usuários que já fizeram 30 bilhões de downloads. A App Store oferece atualmente 650 mil aplicativos, dos quais 225 mil feitos só para iPad. E já repassou US$ 5 bilhões a terceiros, na divisão de receita com os criadores dos aplicativos.

“You guys rock” (algo como “vocês fazem acontecer”), disse Tim Cook à plateia, de quem se pode esperar os aplicativos que serão baixados em iPhones e iPads no futuro próximo.

Outros dados divulgados: 40% dos que usam Mac já usam o sistema operacional Lion. O novo sistema, Mountain Lion, virá com 200 novos recursos. O leitor dormiria se eu fosse enumerá-los. O iCloud está com 125 milhões de usuários registrados. O serviço veio para fazer atualização e sincronização automática dos principais conteúdos do usuário.

Quem usou o Mobile Me e quem já usa o iCloud, como eu, sabe que nem sempre tudo funciona perfeitamente para todo mundo muito menos em todo o mundo. Na biografia de Steve Jobs consta a demissão pública e humilhante do responsável pelo Mobile Me, acusado de manchar o nome da empresa pelos problemas do serviço, como duplicar listas de contatos ou dar sumiço nos detalhes de contatos, deixando um nome sem telefone nem e-mail relacionado. Claro que alguma coisa aprenderam com os erros, mas fazer cópia de segurança nunca faz mal a ninguém.

O fato é que tornar as coisas simples para o consumidor final não é uma tarefa fácil. Ainda mais quando a computação vive nas nuvens.

Para desenvolvedores, as melhorias em lembretes, mapas, trânsito, pass kit (pense numa pasta com documentos cruciais como o seu cartão de embarque no aeroporto, atualizado quando o portão de embarque muda) etc. abrem uma nova etapa do desenvolvimento de aplicativos que surgirão nos próximos meses no mercado, gostemos ou não.