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Google tem a "receita para a tirania na internet" e faz usuários de idiotas, diz especialista

Capa do livro ""Busque e Destrua - Por que você não pode confiar no Google"", de Scott Cleland - Divulgação
Capa do livro ''Busque e Destrua - Por que você não pode confiar no Google'', de Scott Cleland Imagem: Divulgação

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

03/07/2012 14h20

“Este é o outro lado da história do Google”. A frase inicial do livro de Scott Cleland, “Busque e Destrua – Por que você não pode confiar no Google”, aliada à imagem cômica da capa (um tiranossauro vestido em pele de cordeiro), define bem a missão do autor americano. Ele quer mostrar que a gigante de internet, apesar de se dizer ética e “do bem”, utiliza práticas de negócios escusas e faz seus usuários de bobos ao lidar com suas informações privadas.

“O Google é uma das empresas mais poderosas do mundo. Milhares e milhares de pessoas usam seus serviços; mas toda a história tem dois lados”, alerta Cleland. Segundo o autor, o Google se apresenta como uma empresa ética, enquanto o que faz é “desrespeitar a privacidade das pessoas, a propriedade intelectual e as leis dos países” há dez anos – e sem freios.

“Ninguém é perfeito, nenhuma companhia é perfeita. Mas os problemas do Google são consistentes e vem se desenrolando ao longo de dez anos. O que dizer de uma empresa que usa como símbolo Stan [não-oficial], um Tiranossauro Rex? O que ela quer inspirar em seus funcionários?”, questiona.

Cleland defende que o Google não é confiável porque não deixa claro aos seus usuários que destino dá aos dados privados colhidos toda vez que eles se inscrevem em algum de seus serviços online. “Eles dizem que não fariam nada que não fosse do interesse dos usuários, enquanto cedem todos dados a anunciantes. A empresa diz uma coisa e faz outra”, destaca o autor.  O Google detém, conforme dados citados por Cleland, quase metade de toda a publicidade online mundial.

Googlepólio

Além do problema no tratamento dos dados coletados dos usuários, Cleland chama a atenção para o “Googlepólio”, monopólio da empresa sobre o mercado de buscas mundial – 82% das buscas em computadores e 92% das feitas em dispositivos móveis são pelo Google.

“A quantidade de informações coletadas é inimaginável. São 5 petabytes de informação coletada a cada dois dias. Isso é a quantidade total de informação online que foi criada durante todo o ano de 2000”, explica o autor, ressaltando o “imenso poder” que o Google possui ao armazenar e organizar todos esses dados, em lugares e de formas que desconhecemos.  O pior é que a maioria das pessoas desconhece tais práticas, acham que as buscas são privadas. “Nasce um idiota a cada minuto, isso está no código do Google”, ironiza.

O Brasil deveria estar alerta a esse “monopólio”, já questionado em países como Estados Unidos, Inglaterra, Índia, Coreia do Sul e Argentina. “É a receita para a tirania, eles vão se tornar os ditadores da internet. Não acredito que nenhum país gostaria de ter só uma fonte de informação”, citando o exemplo do Brasil, onde o buscador detém 92% do mercado. “É o Google organizando a cultura brasileira. E de uma única forma”.

A empresa também é um caso extremo de “conflito de interesses”. Enquanto mostram resultados para buscas, o Google posiciona melhor seus próprios serviços, impedindo a livre concorrência, diz o autor americano. Desde 2008, o governo americano aplicou ao menos cinco sanções antitruste à companhia por essa e outras práticas desleais.

Questionado se esse não seria um comportamento já “comum” entre empresas de tecnologia, Cleland disse que, apesar de companhias como Microsoft, Apple e Facebook também terem seus problemas, elas “nem de longe” se comparam ao Google, um caso “crônico”.

 

E quem pode salvar as pessoas de todo esse mal praticado pela gigante de internet? Segundo Cleland, os próprios usuários deveriam estar atentos à maneira como a empresa lida com seus negócios. Mas além deles, os governos também deviam atuar, porém até o momento têm falhado em impor limites às práticas do Google.

Cleland, ex-assessor adjunto do Departamento de Estado dos EUA para Políticas de Informações e Comunicação, esteve em São Paulo para o lançamento do livro em português. É um dos maiores críticos do Google -- já testemunhou três vezes no Congresso americano contra a empresa. Ele conta que decidiu escrever esse “outro lado” da história ao ver vários títulos sobre o Google falando de como a empresa revolucionou o mercado de internet, sem abordar a questão do “monstro imenso” em que a companhia se transformou.

Serviço:

Busque e Destrua – Por que você não pode confiar no Google Inc.

Editora Matrix

348 páginas

R$ 39,90