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Leilão de centavos é confiável? Entenda as regras antes de entrar no jogo

Parece irresistível: dando lances centavo por centavo, você arremata um tablet, um carro ou até uma casa - Getty Images/iStockphoto
Parece irresistível: dando lances centavo por centavo, você arremata um tablet, um carro ou até uma casa Imagem: Getty Images/iStockphoto

Carina Brito

Colaboração para Tilt

18/09/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • O site não lucra com a compra de itens, mas com lances
  • O consumidor paga R$ 1 para dar um lance
  • Cada lance aumenta em R$ 0,01 no valor do produto
  • O leilão de centavos ainda não é legalizado
  • Se fosse considerado jogo de azar, seria crime
  • Teve um crescimento durante a pandemia da covid-19

Um produto que custa milhares de reais vendido por um preço muito mais em conta. Essa é a proposta dos leilões de centavos, que chamam atenção por oferecerem produtos tão baratos que você até desconfia se aquilo é verdade mesmo.

Esse tipo de leilão virou uma febre quando surgiu no Brasil por volta de 2010 e, desde então, muitos já até deixaram de existir. No entanto, ainda existem diversos sites que disponibilizam esse serviço —e uma simples busca na internet já redireciona para dezenas de opções. Mas será que é realmente confiável?

Como funciona

Os leilões de centavos podem oferecer todo tipo de produto, como iPhones, smart TVs, notebooks e pen drives. O diferencial é que o site não lucra quando os clientes compram o item, mas sim com as vendas dos lances para o leilão. Já o usuário não compra o produto em si —mas a chance de concorrer a ele.

"Vão ter várias pessoas disputando a mesma coisa e uma só vai arrematar", diz Ricardo Lastoria, executivo-chefe do Lance 24h, um dos maiores sites de leilões de centavos do Brasil. "Então o cliente corre o risco de participar e não arrematar, mas isso já está especificado nos termos de uso do site".

Lastoria viu o crescimento de seu negócio durante a pandemia da covid-19: o site quase quadruplicou o número de usuários e agora já está com quase 200 mil. "As pessoas estão passando mais tempo em casa e isso é uma forma de distração. Por mais que o cliente não arremate, ele se distrai", afirma.

Grande parte dos sites de leilão de centavos usa a mesma fórmula. O consumidor paga R$ 1 para dar um lance, e cada um desses lances acrescenta R$ 0,01 ao valor final do produto. No caso do Lance 24h, o cronômetro de 15 segundos é reiniciado toda vez que um cliente faz uma oferta. Ganha o usuário que tiver dado o último lance.

Por exemplo: um iPhone arrematado por R$ 70 teve o total de 7.000 lances. Como cada um deles custa R$ 1, o valor arrecadado pelo site é R$ 7.000 — valor suficiente para que a empresa compre o aparelho e mande para o cliente, e o restante do dinheiro fica com o site.

O sucesso do leilão depende do produto que está sendo ofertado, e geralmente são os mais caros (como iPhones e Macs) que chamam mais atenção. Por serem os mais concorridos, esses leilões são os que duram mais tempo, com alguns se estendendo por dias.

Lance24h é um entre dezenas de sites de leilão de centavos; falta regulação na atividade - Reprodução - Reprodução
Lance24h é um entre dezenas de sites de leilão de centavos; falta regulação na atividade
Imagem: Reprodução

É confiável e legal?

Segundo Ricardo Freitas Silveira, advogado especialista em direito digital, o leilão de centavos ainda não é legalizado porque não existe um consenso sobre como definir essa atividade —se é compra, competição ou jogo de azar. "Se for considerado um jogo de azar, seria uma contravenção penal", explica.

Para os internautas que querem participar, Silveira explica que o primeiro passo é ter conhecimento das regras do jogo e entender que a compra dos créditos não garante que um produto será adquirido. "Também é importante buscar conhecer outros consumidores que participaram e ganharam algum leilão oferecido por aquele site", afirma o advogado.

Além disso, Silveira recomenda pesquisar no Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e nos sites dos Tribunais de Justiça sobre eventuais reclamações e processos de cada site.

Também é importante que o usuário entenda como funciona o ambiente dentro dos leilões. Isso pode ser feito no próprio site, ao assistir a atividade sem dar lances, para ver como são as jogadas das pessoas interessadas em arrematar.

Às vezes, tem bots na área

Um outro problema é que sites podem usar robôs para dar lances, especialmente quando não têm tantos clientes e precisam de uma ajuda da tecnologia para não deixar que o produto seja levado por um preço muito baixo.

Às vezes os robôs são usados pelos próprios clientes, que usam a tecnologia para ofertar lances mais rápidos. "Quando suspeitamos que é um lance automático, rapidamente identificamos e bloqueamos o IP do cliente para que ele não consiga mais acessar o site. Infelizmente tem muito disso no ecommerce e temos que nos precaver", diz Lastoria, do Lance 24h.

Jogo com riscos

Depois de escolher o site mais confiável, o internauta pode optar por alguns métodos que o ajudam a arrematar um produto mais rapidamente. Segundo o chefe do Lance 24h, a melhor estratégia é a que as pessoas menos usam.

"Muitas pessoas compram o pacote de 100 lances e focam em apenas um produto que, normalmente, é o mais disputado, gastando todos os lances. A melhor estratégia é dar lances em produtos com um valor menor, que são menos disputados e saem em poucos minutos de leilão", afirma Lastoria.

Desta maneira, a pessoa gasta menos lances e consegue, de fato, arrematar um produto. "Se ela quiser recuperar um investimento de R$ 1.000, ela pode comprar cinco produtos de R$ 200 que são muito mais fáceis de arrematar."

Mas, como esses sites são muito concorridos, os clientes precisam estar preparados para não arrematarem. É o caso de um morador de São Paulo que prefere não se identificar e se frustrou usando um site de leilão.

"Comprei 150 lances mas sempre que o leilão estava próximo de fechar, um usuário estranho dava um lance e me cobria. Foi assim até acabar todo o meu dinheiro com esses lances", afirma. Depois de não conseguir arrematar nenhum produto, ele decidiu que não vai mais apostar neste tipo de site.

Ainda assim, o cliente pode tomar medidas em casos no qual se sinta lesado. Basta procurar entidades de defesa e proteção ao consumidor, como o Procon e o Reclame Aqui.