Topo

Um ano sem Steve Jobs: veja o que mudou na Apple após a morte de seu cofundador

Steve Jobs apresenta a primeira versão do iPhone em janeiro de 2007 - Paul Sakuma/AP
Steve Jobs apresenta a primeira versão do iPhone em janeiro de 2007 Imagem: Paul Sakuma/AP

Do UOL, em São Paulo

05/10/2012 01h00Atualizada em 05/10/2012 09h07

A morte de Steve Jobs completa um ano nesta sexta-feira (5): o cofundador da empresa morreu aos 56 anos em sua casa, em Palo Alto (Califórnia). Neste ano em que Tim Cook trabalhou como diretor-executivo da empresa – cargo antes ocupado por Jobs --, a Apple enfrentou críticas relacionadas à falta de inovação, perdeu um grande apresentador dos lançamentos (o carisma de Jobs era marcante nesses eventos), mudou a forma de lidar com a cadeia de suprimentos e também de se desculpar por problemas. Abaixo, você confere os detalhes sobre cada um desses itens. 

Inovação
A cobrança aumentou diante da aparente falta de novidades nos últimos lançamentos – nenhum novo produto é radicalmente diferente dos anteriores, como aconteceu do iPhone 3GS para o iPhone 4, por exemplo. Mas analistas de mercado consultados pelo UOL Tecnologia discordam dessa visão: a Apple estaria mantendo o mesmo ciclo de lançamentos “bombásticos” dos últimos tempos, mas passa por uma “entressafra”.

Ao lançar o iPod, o iPhone e o iPad, a Apple causou grande impacto nos mercados. “Com esses movimentos, isso acaba criando uma expectativa alta de que o mesmo ocorrerá a cada lançamento”, explica Bruno Freitas, coordenador de pesquisas para dispositivos de consumo da consultoria IDC. “Os produtos não deixaram de ser inovadores, só estão passando por um processo de evolução natural”, complementa.

Para Van Baker, vice-presidente e diretor de pesquisas do Gartner, ainda há muita especulação sobre o impacto que a morte de Jobs poderá trazer para a Apple. “Se olharmos para a história da Apple, a cada cinco anos percebemos que há o lançamento de produtos únicos. O novo ciclo ainda não chegou”, afirma. Para Baker, mesmo que não haja mudanças radicais, alguma inovação ocorreu nos últimos lançamentos. “No iPhone 5, eles melhoraram a câmera, tamanho da tela e capacidade da rede. A nova linha de iPods também trouxe várias mudanças”, destaca.

Freitas, da IDC, acredita que a médio e longo prazo será possível avaliar se de fato a ausência de Steve Jobs fará da Apple uma empresa menos inovadora. “Existe sempre uma grande evolução nos produtos, mas não é tão simples causar uma ruptura”, diz.

Já Baker estima que são necessários ao menos cinco anos para fazer uma análise sobre o tema, bem como avaliar se as outras fabricantes também vão “desacelerar” o ritmo de inovação acompanhando a Apple. “Isso depende de como você define inovação. Se o foco são produtos radicalmente diferentes, então ninguém está inovando. Mas se você trata de mudanças como as apresentadas em smartphones, ultrabooks e tablets lançados recentemente, então a inovação está ocorrendo.”

Apresentações
Independente dos lançamentos da empresa, Steve Jobs sempre fez apresentações impecáveis de seus produtos: da luz às pausas, tudo era muito bem ensaiado. E o público ia ao delírio (confira abaixo trechos de apresentações históricas).

Tim Cook não tem tanto carisma no palco, mas vem mantendo um padrão imposto pelo antigo chefe durante os eventos da Apple. Além de usar “uniforme” (sempre camisa social preta), ele age como uma espécie de mestre de cerimônia: os produtos só são anunciados após ele chamar um especialista da área e, no fim, sempre faz algum rápido comentário.

O que talvez os fãs de Steve Jobs tenham saudade é das cutucadas nos competidores e o momento “one more thing” (mais uma coisa). O cofundador da Apple costumava dar sinais de que a apresentação havia acabado, quando ele dizia que havia mais alguma coisa a ser apresentada: geralmente, o melhor ficava para o final.

Já Cook segue uma linha mais moderada. Apesar de continuar usando diversos “amazing” (incrível) durante as apresentações, o atual diretor-executivo divide, muito mais que seu antecessor, os holofotes com outros executivos como Phil Schiller (vice-presidente de marketing da Apple), Scott Forstall (vice-presidente do iOS) e Eddy Cue (vice-presidente de software e serviços). Desde que Jobs deixou o cargo, em agosto de 2011, Cook já comandou quatro eventos da Apple (lançamento do iPhone 4S, novo iPad, iPhone 5 e WWDC 2012).


Cadeia de suprimentos
Outro aspecto em que Tim Cook difere de seu antecessor é na atenção que dá à cadeia de suprimentos da companhia. Contratado em 1998 para cuidar especificadamente dessa área, ao longo dos anos Cook colocou em prática melhorias no desempenho logístico da corporação.

De cara, quando ingressou na companhia, diminuiu o número de fornecedores da Apple de cem para 24, forçando as empresas a aumentarem a qualidade dos produtos para conseguirem o posto de fornecedoras da Apple. Cook também fechou dez dos 19 armazéns para evitar o excesso de produtos estocados, produzindo em uma quantidade mais próxima da demanda.

Em março deste ano, as fábricas da Foxconn na China, responsáveis por produzir os produtos da Apple, foram acusadas de condições de trabalho ilegal, incluindo horas extras excessivas e falta de segurança. Depois da acusação, Cook visitou pessoalmente as fábricas chinesas para averiguar a situação, algo que nunca havia sido oficialmente feito por Steve Jobs.

Ele disse em um comunicado aos funcionários da empresa que a Apple será criteriosa ao avaliar as condições de trabalho de seus fornecedores. A agência “Deutsche Welle”, no entanto, publicou uma entrevista com funcionário da Foxconn em setembro, em que ele classificava a declaração como “apenas belas palavras”.

''Erratas''
A Apple já pediu desculpas algumas vezes quando estava sob a tutela de Steve Jobs – no entanto, nunca havia adotado o tom da recente mensagem de Tim Cook, que se desculpou de forma enfática pela ferramenta de mapas e ainda sugeriu que os usuários adotassem as alternativas dos concorrentes.

“Sentimos realmente muito pela frustração que isso causou a nossos clientes e estamos fazendo tudo o que podemos para tornar o Maps melhor”, escreveu. “Enquanto estamos melhorando o Maps, você pode tentar alternativas, baixando aplicativos da App Store como o Bing, o MapQuest e o Waze, além de usar os mapas do Google e da Nokia indo a seus sites e criando um ícone na tela inicial [do seu iPhone]”, continuou.

A Apple e o próprio Steve Jobs já se desculparam antes, mas o tom era outro – bem mais ameno.

Em 2010, por exemplo, Jobs participou de uma entrevista coletiva em que minimizou os problemas da antena do iPhone 4, mas ofereceu gratuitamente uma capa protetora a seus usuários. "Nós somos humanos. Nós cometemos erros e os percebemos rapidamente. É por isso que nós temos os melhores e mais leais clientes em todo o mundo", foi o máximo que ele disso.

Em outra ocasião, em 2007, o então diretor-executivo divulgou um comunicado sobre o corte de preço no iPhone dois meses após seu lançamento. “Queremos fazer o melhor para nossos valiosos clientes do iPhone. Pedimos desculpas por desapontar alguns de vocês e estamos fazendo nosso melhor para atender às grandes expectativas em relação à Apple”, escreveu.

Em 2008, um comunicado assinado pela equipe do Mobile.me admitia que a transição do .Mac para esse serviço havia sido mais difícil do que esperado. E em 2009, um porta-voz da empresa pediu desculpas pelo atraso do iMac ao chegar nas lojas. Em nenhuma das situações, no entanto, a companhia sugeriu o uso de produtos da companhia após admitir problemas.