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Primeiro-ministro de Belize chama fundador da McAfee de "maluco"; empresário está em fuga

Em foto de 8 de novembro de 2012, John McAfee faz apresentação durante cerimônia em Ambergris Caye - Ambergris Today Online-Sofia Munoz/AP
Em foto de 8 de novembro de 2012, John McAfee faz apresentação durante cerimônia em Ambergris Caye Imagem: Ambergris Today Online-Sofia Munoz/AP

Do UOL, em São Paulo

16/11/2012 15h04

O primeiro-ministro de Belize, Dean Barrow, chamou o empresário John McAfee de maluco e reforçou a importância dele se apresentar à polícia do país para depor. Com 67 anos, o fundador da empresa de antivírus fugiu no último domingo (11), depois de que seu vizinho Gregory Faull, 52, foi encontrado morto na ilha de Ambergris Caye. A McAfee foi vendida em 2010 para a Intel e, desde 2008, seu fundador mora em Belize.

Referindo-se a McAfee como "bonkers" (gíria para “maluco”), Barrow afirmou na quarta-feira (14): “Não quero soar indelicado, mas ele parece estar extremamente paranoico. Eu diria até maluco. Ele tem de se comportar como um homem, respeitar nossas leis e falar com a polícia”, disse, segundo a agência de notícias Reuters. McAfee nega ter qualquer relação com o crime.  

Em entrevista por telefone à revista “Wired”, publicação com a qual tem falado diariamente após sua fuga, McAfee rebateu o primeiro-ministro: “Eu acho que o louco é ele”, disse acusando Barrow de ser um ditador. Também à revista, o empresário afirmou ter pintado seu cabelo, sobrancelha, barba e bigode para se disfarçar. “Provavelmente ficarei parecido com um assassino, infelizmente.” Ele afirma não ter planos de se apresentar à polícia nem de deixar a ilha.

A revista – que antes da morte de Faull já estava coletando informações sobre McAfee para uma reportagem – afirma que pessoas ligadas ao empresário foram presas em Belize, para pressioná-lo a se entregar. O guarda-costas William Mulligan e a doméstica Cassian Chavaria foram detidos sob acusação de posse ilegal de armas.

“É exatamente o que aconteceu com os dissidentes soviéticos quando Stalin chegou ao poder. Se não conseguiam pegar alguém, iam atrás de seus amigos”, disse McAfee, segundo a “Wired”. O empresário disse estar convencido de que a polícia plantará evidências para associá-lo à morte de Faull. “Eles já foram à minha casa sete vezes. Acredito que eles vão descobrir um esconderijo cheio de armas automáticas, quatro toneladas de cocaína, talvez até um submarino soviético”, ironizou.

O primeiro-ministro Barrow classifica as declarações feitas por McAfee à imprensa como “sem sentido” e disse que a atenção da mídia para o caso oferece o melhor tipo de proteção ao empresário. “O fato de isso ter parado na imprensa internacional significa que a polícia terá de agir com extremo cuidado, sob os olhos atentos de todos.”

  • San Pedro Sun/Reuters

    O empresário americano Gregory Faull, em foto tirade em agosto. Ele foi encontrado morto 

De acordo com a agência de notícias Reuters, moradores da ilha de Ambergris Caye (a cerca de 10 km da cidade de San Pedro) consideram o fundador da empresa de antivírus um homem excêntrico e impulsivo, que vive rodeado de guarda-costas e jovens mulheres. Ele também é fã de ioga, tem diversas tatuagens e circula com armas na cintura.  Apesar das acusações contra as autoridades de Belize, ele já comprou um barco de US$ 1 milhão para a guarda costeira e doou equipamentos para a polícia local. 

Entenda o caso
No domingo, o corpo do norte-americano Gregory Faull foi encontrado em sua casa, em Ambergris Caye (Belize), com um tiro na cabeça. Ao lado do corpo, havia uma cápsula de revólver 9 mm. McAfee escapou quando viu a polícia chegando a sua casa: ele teria se enterrado na areia, com uma caixa sobre a cabeça para poder respirar. “Foi extremamente desconfortável. Mas eles me matarão se me encontrarem”, afirmou. 

Segundo a revista “Wired”, os dois vizinhos haviam entrado em conflito por causa dos cachorros que McAfee tinha em sua casa. Faull se queixava dos animais e fez uma reclamação formal na semana passada. McAfee diz que os cachorros foram envenenados na sexta-feira (9) à noite.

O empresário afirma não acreditar que Faull tenha matado seus animais. McAfee culpa pelo suposto envenenamento as autoridades de Belize, com quem está em confronto há alguns meses. “Não é algo que ele [Faull] faria. Ele era uma pessoa brava, mas jamais machucaria um cachorro.” Dessas acusações contra o governo vêm as afirmações das autoridades, de que o norte-americano seria maluco e paranoico.

McAfee afirmou estar preocupado, acreditando que quem matou Faull estaria na verdade atrás dele. “Eles se enganaram, entraram na casa errada. Ele está morto, matarem ele. Isso me assustou.” Em entrevista por e-mail à agência de notícias Associated Press, McAfee escreveu: “Suspeito ou não, acho que o governo me quer fora de seu caminho. Muitas pessoas já morreram quando estavam sob custódia [preso por autoridades para averiguações] neste país, então não ficarei sob custódia deles”.

Marco Vidal, responsável pela unidade de combate ao crime organizado, afirmou à revista “Wired” que McAfee é o “principal suspeito” do crime. Em abril, essa mesma unidade fez uma busca na casa de McAfee após acusá-lo de produção de metanfetamina e posse irregular de armas. As acusações foram retiradas, mas ele disse acreditar que o governo ainda está contra ele.

A morte dos cachorros, afirmou o empresário à “Wired”, foi apenas mais uma tentativa de fazê-lo deixar o país (ele não explica o motivo pelo qual as autoridades belizenhas querem isso). “Você pode dizer que sou paranoico, mas eles vão me matar. Não há dúvidas. Há meses eles tentam me matar. Querem me silenciar. Não sou querido pelo primeiro ministro, sou uma pedra no caminho de todos.”

(Com AP, Reuters e Wired)