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Coreia do Sul ensinará perigos de vício em internet para crianças de três a cinco anos

Park Jung-in, 11, recebeu bandeiras vermelhas em teste sobre vício em celular. ""Fico nervosa quando a bateria está abaixo dos 20%", disse a jovem - Ahn Young-joon/AP
Park Jung-in, 11, recebeu bandeiras vermelhas em teste sobre vício em celular. ''Fico nervosa quando a bateria está abaixo dos 20%", disse a jovem Imagem: Ahn Young-joon/AP

Do UOL, em São Paulo

13/12/2012 20h32

O governo da Coreia do Sul vai colocar em prática, a partir de 2013, um programa para prevenir o vício das crianças em internet e equipamentos eletrônicos. O objetivo é fazer com que 90% das crianças com idades entre três e cinco anos aprendam a se proteger do uso excessivo de gadgets e da navegação online. 

O governo também está revisando algumas leis, segundo a agência de notícias Associated Press, para tornar essas aulas obrigatórias da pré-escola até o colegial.

Como parte do projeto, as crianças de três anos serão apresentadas a atividades consideradas positivas na internet, como ouvir música. Dos quatro aos cinco, elas aprenderão sobre os perigos do uso excessivo e sobre como controlar seu desejo de usar o computador. Também serão ensinados jogos e brincadeiras off-line. Canções que fazem parte do programa reforçarão a importância de fechar os olhos e alongar o corpo depois de jogar no ambiente virtual. Por fim, novos contos de fadas tratarão do vício em internet.

Segundo a Agência Nacional da Sociedade da Informação, 160 mil crianças com idades entre cinco e nove anos são dependentes da internet no país – via smartphones, tablets ou computadores. Essas crianças ficam empolgadas quando usam seus gadgets, mas se distraem ou se irritam quando deixam de usá-los. Elas muitas vezes não comem ou vão ao banheiro, para que possam continuar online.

Smartphones na mira
Em um país onde 98% das residências estão conectadas, estima-se que 2 milhões de pessoas recebam tratamento psicológico por não conseguirem ficar off-line. Pessoas com esse problema e também os viciados em jogos online recebem aconselhamento, mas agora a preocupação se estendeu para o uso excessivo de telefones celulares.

O governo afirma existir 2,55 milhões de viciados em smartphones no país, que usam esses aparelhos diariamente por oito horas ou mais, segundo um estudo feito no início do ano (o primeiro oficial da Coreia do Sul relacionado ao vício em celular). Essas pessoas acham difícil viver sem os aparelhos e seu uso atrapalha o trabalho, além da vida social. Eles interagem principalmente pelo celular e, em alguns casos, apresentam sintomas como dor nos dedos, no pulso e pescoço constantemente posicionado para a frente.

Não é brinquedo, não
“Os bebês ficam no carrinho com smartphones. As crianças se sentam no carrinho de supermercado assistindo a filmes no tablet. Sou professora do jardim da infância há mais de dez anos, mas agora, em comparação com o passado, as crianças não conseguem mais controlar seus impulsos”, afirmou a professora Kim Jun-hee.

Ela fez uma pesquisa de oito meses sobre o uso seguro da internet e o vício entre as crianças. Sua conclusão: é importante começar essa educação desde cedo, porque os smartphones viraram os novos brinquedos dos pequenos. Kim também afirma que os pais devem se envolver nesse processo de educação. Em uma carta, uma garota de cinco anos escreveu: “Prometo jogar Nintendo por apenas 30 minutos. Meu pai promete jogar menos em seu celular e brincar mais comigo”.

A mesma reportagem conta a história de uma garota de 11 anos que já pode ter sido afetada pelo vício em smartphones: em um teste relacionado a vícios, Park Jung-in recebeu oito bandeiras vermelhas. Isso é suficiente, segundo a agência de notícias, para a criança ser considerada dependente do smartphone.

Park Jung-in dorme com seu aparelho Android e, quando acorda, a primeira coisa que faz ao colocar os óculos é visualizar as mensagens enviadas por seus amigos. Durante o dia, a jovem não desgruda do celular: na escola, no banheiro ou na rua, ela vive trocando mensagens. A cada uma hora, ela abre um aplicativo do aparelho para alimentar seu hamster digital. “Fico nervosa quando a bateria está abaixo dos 20%. Também acho estressante ficar fora das áreas de Wi-Fi por muito tempo”, contou a menina.

(Com Associated Press)