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McAfee revela espionagem de autoridades do Belize com espiãs e computadores infectados

John McAfee, empresário criador da empresa de antivírus que leva seu sobrenome, concede entrevista em Miami (EUA) após ser deportado da Guatemala - Paula Bustamante/AFP
John McAfee, empresário criador da empresa de antivírus que leva seu sobrenome, concede entrevista em Miami (EUA) após ser deportado da Guatemala Imagem: Paula Bustamante/AFP

Do UOL, em São Paulo

07/01/2013 16h07

Apesar de ter sido deportado para os Estados Unidos, a história (bizarra) de John McAfee, empresário criador da empresa de antivírus que leva seu sobrenome, ainda não terminou. Em uma postagem em seu blog, o empresário informa as táticas que utilizou para espionar funcionários do Governo de Belize, policiais e executivos da principal companhia telefônica do país: de laptops infectados com vírus a espiãs.

De acordo com McAfee, ele decidiu fazer isso após a polícia de Belize ter entrado em sua casa em abril de 2012. Na ocasião, dezenas de agentes invadiram a mansão do empresário no país da América Central para apurarem uma denúncia de porte ilegal de arma e de que no local havia drogas.

Ele afirma ter comprado 75 netbooks, instalado programas de monitoramento e enviado para funcionários do governo, policiais e outras pessoas influentes do país. Dessa forma, quando quisesse, ele poderia acessar remotamente os computadores e até ativar a câmera deles. Para captar e administrar as informações digitadas (documentos de texto, e-mails, senhas do Facebook), McAfee informou que pagou quatro pessoas para estas funções.

Além disso, o empresário de 67 anos afirmou que contratou 23 mulheres e seis homens para se relacionarem com pessoas influentes do país. Os espiões de McAfee foram instruídos a instalarem sites de espionagem no computador das pessoas e até a instalar ferramentas de escuta nos celulares dos “inimigos” dele.

Apesar de a história ter sido apenas confirmada por ele, a saga de espionagem de John McAfee parece irreal. Em entrevista a um programa da rede de TV americana CNBC, ele disse que “adora fazer pegadinhas”. Enquanto estava preso na Guatemala, ele fingiu um ataque cardíaco com o objetivo de forçar sua ida para os Estados Unidos.

Durante o processo de espionagem, McAfee não revela se conseguiu informações relevantes sobre a suspeita de que o Governo de Belize conspirava contra ele. No entanto, ele revelou que descobriu incontáveis casos extraconjugais, que o Primeiro Ministro do Belize mandou matar Arthur Young (líder de um gangue do país) e que o Belize tem ligações com o Hizbollah, organização islâmica, considerada terrorista por alguns governos.

A história completa do método de espionagem de John McAfee está relatada, na íntegra, em seu blog (em inglês).

Entenda o caso

O fundador da empresa de antivírus (que foi vendida para a Intel em 2010) fugiu no dia 11 de novembro, depois que seu vizinho Gregory Faull, 52, foi encontrado morto na ilha de Ambergris Caye, em Belize -- ele mora no local desde 2008. Faull foi morto com um tiro na cabeça e, ao lado do corpo, havia uma cápsula de revólver 9 mm.

McAfee escapou quando viu a polícia chegando a sua casa: ele teria se enterrado na areia, com uma caixa sobre a cabeça para poder respirar. "Foi extremamente desconfortável. Mas eles me matarão se me encontrarem", afirmou.

Segundo a revista "Wired", os dois vizinhos haviam entrado em conflito por causa dos cachorros que McAfee tinha em sua casa. Faull se queixava dos animais e fez uma reclamação formal na semana passada. McAfee diz que os cachorros foram envenenados na sexta-feira anterior à morte de seu vizinho.

O empresário afirma não acreditar que Faull tenha matado seus animais. McAfee culpa pelo suposto envenenamento as autoridades de Belize, com quem está em confronto há alguns meses. "Não é algo que ele [Faull] faria. Ele era uma pessoa brava, mas jamais machucaria um cachorro." Dessas acusações contra o governo vêm as afirmações das autoridades, de que o norte-americano seria maluco e paranoico.

McAfee afirmou estar preocupado, acreditando que quem matou Faull estaria na verdade atrás dele. "Eles se enganaram, entraram na casa errada. Ele está morto, matarem ele. Isso me assustou." Em entrevista por e-mail à agência de notícias Associated Press, McAfee escreveu: "Suspeito ou não, acho que o governo me quer fora de seu caminho. Muitas pessoas já morreram quando estavam sob custódia [preso por autoridades para averiguações] neste país, então não ficarei sob custódia deles".

Marco Vidal, responsável pela unidade de combate ao crime organizado de Belize, afirmou à revista "Wired" que McAfee é o "principal suspeito" do crime. Em abril, essa mesma unidade fez uma busca na casa de McAfee após acusá-lo de produção de metanfetamina e posse irregular de armas. As acusações foram retiradas, mas ele disse acreditar que o governo ainda está contra ele.

A morte dos cachorros, afirmou o empresário à "Wired", foi apenas mais uma tentativa de fazê-lo deixar o país (ele não explica o motivo pelo qual as autoridades belizenhas querem isso). "Você pode dizer que sou paranoico, mas eles vão me matar. Não há dúvidas. Há meses eles tentam me matar. Querem me silenciar. Não sou querido pelo primeiro ministro, sou uma pedra no caminho de todos."

Em dezembro, McAfee, que foi preso na Guatemala, foi deportado para Miami (EUA).