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Teste mostra desempenho do 4G nas seis cidades-sede da Copa das Confederações

Ana Ikeda*

Do UOL, em São Paulo

13/05/2013 06h01

A internet 4G, quarta geração da telefonia móvel, começou a funcionar nas seis cidades que sediarão a Copa das Confederações, conforme estabelecido pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O UOL Tecnologia realizou testes em Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA).

O serviço 4G aguenta tarefas bem mais pesadas do que o 3G, como baixar aplicativos e arquivos grandes. Essas tarefas, além de serem cumpridas mais rapidamente, podem ser feitas sem receio de "estourar" cedo a franquia de dados. A rede, no entanto, ainda não tem cobertura uniforme dada a própria natureza da tecnologia, e fez pouca diferença para tarefas simples, como tuitar ou usar o Facebook. 

As operadoras Claro, Oi, Tim e Vivo tinham até dia 30 de abril para implantar a tecnologia nas seis cidades da competição. Até 31 de dezembro deste ano, o 4G tem de chegar a mais seis cidades, que compõem o grupo que sediará as competições da Copa do Mundo de 2014: São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Manaus (AM) e Natal (RN).

Os testes nas seis cidades-sede da Copa das Confederações ocorreram entre 2 e 9 de maio com a rede da Claro, operadora que foi a primeira a iniciar a venda de planos do serviço – o período de teste em cada cidade foi de um dia. A avaliação foi realizada com o smartphone Motorola Razr HD.

Em cada uma das cidades, foram feitos testes em três locais diferentes. Os arredores dos estádios onde vão ocorrer os jogos estavam obrigatoriamente na lista -- a exceção ficou com a Arena Pernambuco, em Recife, onde essa conexão ainda não está disponível. Os demais foram selecionados pela relevância em cada cidade, como áreas comerciais e de grande circulação de pessoas.

Resultados gerais

A conexão 4G promete velocidade de download de 50 Mbps, enquanto no 3G a média fica em 1 Mbps. A velocidade máxima atingida com o 4G durante os testes foi um pico de 70 Mbps (megabits por segundo), registrada no bairro de Boa Viagem, em Recife. A velocidade mínima de download registrada foi nas proximidades do Estádio Nacional, em Brasília, com 0,6 Mbps.

Nos arredores dos estádios onde serão realizadas as competições, apenas dois locais alcançaram velocidades satisfatórias: o Mineirão, em Belo Horizonte, com 33 Mbps para download, e o Arena Fonte Nova, em Salvador, com 20 Mbps. No Maracanã, a Claro informou estar em processo de implantação da tecnologia e que "deverá liberar a cobertura em breve". 

Segundo a Claro, a velocidade mínima do serviço é 5 Mbps. Em alguns locais durante os testes, esse mínimo não foi atingido. A explicação da operadora é que essas áreas não faziam parte dos 50% de área de cobertura da nova tecnologia.

A operadora afirmou ainda que trabalha na ampliação da cobertura gradativamente e que tem realizado testes constantes para medir a qualidade do sinal. "Com isso, esta faixa de velocidade atingida pode ser superior, dependendo da demanda de utilização e da região com a cobertura de rede 4GMax."  

Velocidade do 4G

LocaisDownload (Mbps)Upload (Mbps)
Brasília - Estádio Nacional3224
Brasília - Setor Hoteleiro Norte2720
Brasília - Aeroporto Internacional0,64
Belo Horizonte - Estádio Mineirão3322
Belo Horizonte - Mercado Central25,37,7
Belo Horizonte - Praça da Savassi4112,8
Fortaleza - Estádio Castelão3,51,4
Fortaleza - Av. Beira Mar3,72,1
Fortaleza - Shopping Iguatemi3,31,4
Recife - Boa Viagem3929
Recife - Recife Antigo3,70,7
Rio de Janeiro - Estádio do Maracanã20,22
Rio de Janeiro - Praia de Copacabana5319
Rio de Janeiro - Aeroporto Tom Jobim2,60,2
Salvador - Estádio Arena Fonte Nova202,8
Salvador - Bairro Rio Vermelho282,4
Salvador - Shopping Salvador7,40,3

Também foi medida a intensidade do sinal durante a avaliação. Na maioria dos locais, ela se manteve constante, mesmo quando o repórter se afastava do ponto inicial do teste, e ficou com intensidade boa ou ótima.

Em Belo Horizonte, no entanto, a cerca de 6 km do Estádio Mineirão não havia sinal. O mesmo ocorreu a 6 km da Praça da Savassi. Em Brasília, no Aeroporto Internacional, o sinal estava regular e tinha alguns pontos cegos.  

Intensidade do sinal da rede celular

LocaisOrigem do testeA 1 kmA 6 km
Brasília - Estádio NacionalÓtimoÓtimoÓtimo
Brasília - Setor Hoteleiro NorteÓtimoÓtimoÓtimo
Brasília - Aeroporto InternacionalRegularÓtimoÓtimo
Belo Horizonte - Estádio MineirãoBomBomSem sinal 3G/4G
Belo Horizonte - Mercado CentralBomBomBom
Belo Horizonte - Praça da SavassiBomBomSem sinal 3G/4G
Fortaleza - Estádio CastelãoBom----
Fortaleza - Av. Beira MarÓtimo----
Fortaleza - Shopping IguatemiBom----
Recife - Estádio Arena PernambucoBom (3G)/Sem sinal 4GBom (3G)/Sem sinal 4GBom (3G)/Sem sinal 4G
Recife - Boa ViagemÓtimoÓtimoÓtimo
Recife - Recife AntigoBomBomBom
Rio de Janeiro - Estádio do MaracanãÓtimoÓtimoBom
Rio de Janeiro - Praia de CopacabanaÓtimoÓtimoBom
Rio de Janeiro - Aeroporto Tom JobimBomBomBom
Salvador - Estádio Arena Fonte NovaBomBomBom
Salvador - Bairro Rio VermelhoBomBomBom
Salvador - Shopping SalvadorBomBomBom

Para comparar o desempenho da novidade em relação ao 3G, simulamos tarefas comuns dos usuários de smartphones e quanto tempo demoravam nos dois tipos de redes. Entre elas, estava acessar notícias, assistir a um vídeo, usar o Skype, postar status no Facebook e Twitter e publicar uma foto no Instagram. Além disso, foram feitas tarefas mais pesadas, como baixar um jogo de 148 MB e uma foto de 10 MB do e-mail.

Quanto mais simples as atividades, menor foi a diferença de tempo entre o 3G e o 4G. Portanto, a adoção da nova tecnologia não compensa tanto para quem não faz uso intenso da internet nos smartphones (em geral, usuários acostumados a visitar sites via navegador ou checar atualizações em redes sociais).

Por outro lado, nas cidades onde a velocidade se manteve constante, é nítida a diferença entre o 3G e o 4G quando a ação envolve um tráfego maior de dados. O 4G atende quem gosta de publicar fotos no Instagram ou assistir a vídeos online. Ele também é vantajoso para baixar aplicativos (algo que em geral evitamos no 3G para não “estourar” o limite de dados) e lidar com anexos pesados em e-mails.

Obstáculos contra o sinal do 4G

O usuário que pensa em contratar o serviço de 4G deve levar em consideração, nessa etapa, que a tecnologia funcionará em complementariedade ao 3G já implantado. Por enquanto, a Anatel exige que até 50% da área urbana das seis cidades-sede da Copa das Confederações tenha cobertura do 4G.

Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, acredita que essa porcentagem de cobertura possa ser ultrapassada caso a demanda pelo novo serviço cresça. “Mas nesse início é muito difícil ter uma cobertura mais alta”, diz.

Os testes mostram que há grande diferença entre a velocidade de upload (dados do celular para a antena de comunicação) e download (dados da antena para o celular). Esse fenômeno é normal, segundo Tude. “As redes são projetadas para que essa velocidade de download seja maior. Por enquanto, com poucos usuários, ela vai ser bem alta. A expectativa é que a média fique entre 10 a 12 Mbps”, explica.

Essa velocidade máxima de download, prossegue Tude, é comumente ajustada pelas operadoras. A rede 3G, por exemplo, atinge em média 1 Mbps em razão disso. “Se a operadora opera em uma faixa de menos banda, provavelmente vai limitar a velocidade máxima de download.”

Outro obstáculo ao sinal do 4G é a faixa de frequência escolhida no Brasil para ofertar o serviço, que vai de 2500 a 2600 Mhz. “Essa frequência mais alta implica em um comprimento de onda menor. Quando você espalha essa onda, ela tem consequentemente um alcance menor, há mais perda de sinal em espaços livres”, detalha. Em shoppings e estádios, por exemplo, é necessário a instalação de antenas internas.

Essa característica também faz com que o sinal do 4G tenha maior dificuldade em penetrar em espaços fechados, como prédios e casas. “Quanto mais alta a frequência da rede, mais difícil é para o sinal atravessar obstáculos físicos”, afirma Tude. Com isso, o especialista acredita que o usuário do 4G vai acabar sentido mais dificuldade de usar o serviço dentro de casas e prédios. “Mesmo que no bairro dele haja cobertura, dentro dos prédios o sinal pode não conseguir penetrar.”

(Colaboraram Carol Guibu, Fernanda Calgaro, Julia Affonso, Kamila Fernandes, Luana Cruz e Luiz Francisco)