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Autores de livros aderem ao e-book para divulgar sua obra; veja como publicar

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

28/05/2013 06h00

O mercado de software foi revolucionado com a popularização de lojas virtuais (como App Store e Google Play). Algo parecido tem ocorrido no mercado de livros a partir de ferramentas que permitem ao autor publicar sua obra, com alguns cliques. Para os escritores, a vantagem do processo é a independência – não é necessário uma editora – e o controle (e acesso fácil) sobre o faturamento do livro virtual comercializado em plataformas como o Writing Life (da Kobo), o iBooks (da Apple) e a loja Kindle (da Amazon).

Independência

A vantagem da autopublicação é não depender de ninguém para o processo, sem contar que não há custos com material. "Publicar um livro físico exige muita mão de obra. É necessário enviar para uma gráfica, imprimir, fazer um lote, etc", disse Vladimir Campos, 40, economista e autor de e-books.

  • Arquivo Pessoal

    Vladimir Campos, 40, é autor de e-books; seu título de mais sucesso é "Organizando a vida com o Evernote [programa de organização pessoal]"

Depois da experiência malsucedida de publicar um livro impresso, Campos só tem feito títulos específicos para plataformas digitais e conta com e-books em três lojas virtuais (Kobo, iBooks e Kindle).

Seu título de maior sucesso, "Organizando a vida com o Evernote [software de organização pessoal]", chegou a figurar no top 10 de mais vendidos da loja da Apple (iBooks) e em primeiro lugar por duas semanas na Kindle Store. "Não sou fanático defensor dos livros digitais. Porém, goste ou não, o fato é que este formato veio para ficar".

A autora Vanessa Bosso, 36, também passou pela experiência inicial de publicar livros físicos. No entanto, após ter enfrentado dificuldades em publicar obras em editoras tradicionais e gasto uma alta quantia com publicações, ela aderiu aos livros digitais pelo baixo custo e pelas "chances de sucesso e vendas de um autor consagrado do mercado".

"Eu mesma gero o e-book e faço minhas capas. A única despesa é com a revisão da obra, que acabo terceirizando e acredito ser extremamente necessária", disse Vanessa, que tem sete títulos disponíveis na loja de livros virtuais da Amazon. Dentre os livros feitos por ela estão: “Possuída”, “A aposta” e “O homem de todas as minhas vidas”.

Preço da independência

Apesar das facilidades da autopublicação, este processo também faz o escritor acumular funções (como revisão, edição e formatação), pois todo o trabalho que caberia a uma editora fica nas mãos dele. Segundo Karine Pensa, presidente da CBL (Câmara Brasileira de Livros), um livro tradicional passa por várias etapas antes de ser publicado.

“A editora verifica se o título tem relação com o público dela. Após receber os originais, a empresa faz uma leitura do livro e um trabalho de edição de texto com o autor para formatar o conteúdo para o público-alvo”, disse. “Quando o escritor faz todo este processo sozinho, existe a possibilidade de que não saia um trabalho perfeito.”

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Ainda que a autopublicação traga mais responsabilidade ao escritor – pois é o nome dele que está em jogo –, Karine considera positiva a iniciativa dos autores conseguirem publicar seus livros. “Existe uma oferta tão grande de escritores que as editoras não conseguem suprir essa necessidade.”

Para publicar um livro digital, o usuário, basicamente, precisa de um arquivo de texto e procurar ferramentas online como a Writing Life (da Kobo) ou o KDP (da Amazon). Os dois serviços são gratuitos e permitem pré-visualizar o arquivo do e-book antes de submetê-lo às lojas.

A Apple tem uma ferramenta específica chamada iBooks Author para criação de livros e exige um cadastro no iTunes Connect. A vantagem de criar uma obra no programa é a facilidade de incluir recursos multimídia formatados para o tablet iPad.

Maior participação nos lucros

A lógica de micropagamentos dessas plataformas virtuais é bem parecida com a das lojas de aplicativos. Em troca de valores baixos pelas publicações (geralmente um valor de até US$ 10 -- aproximadamente R$ 20), as companhias oferecem um grande volume de usuários de suas lojas virtuais. O autor submete sua obra a um desses ecossistemas (Apple, Kobo ou Amazon), define um preço e divide os lucros com a companhia.

  • Arquivo Pessoal

    Após tentativas malsucedidas de publicar livros físicos, a autora Vanessa Bosso, 36, passou a fazer e-books na plataforma da Amazon

Dependendo da plataforma utilizada, a porcentagem embolsada pelo autor pode variar entre 35% e 70% do valor do livro. Em alguns casos, o escritor pode ainda ter benefícios (como um maior lucro sobre a venda) se ele deixar o título de forma exclusiva em determinada loja.

“O interessante é que consigo ganhar mais com a venda de e-books comparado a livros impressos. As editoras pagam apenas 10% dos royalties ao autor, já que os custos de publicação do livro físico são muito altos”, afirmou a escritora Vanessa Bosso.

Questionado sobre o quanto ganha com a venda de livros, Vladimir Campos apenas comentou que é uma boa quantia, mas ainda não é o suficiente para pagar todas as contas. "Ajuda bastante o dinheiro ganho com a venda de livros digitais. É um bom complemento para a renda."

No caso de uma loja virtual que dê ao autor 70% do valor do livro, é possível ter uma noção de quanto dá para ganhar neste ramo. Pegando como exemplo um livro que custe R$ 10, o escritor ganhará R$ 7 por cada venda. Após cem exemplares, é possível faturar R$ 700.

Há várias formas de se ler um e-book. É possível acessar os títulos na versão virtual em aparelhos específicos (como o Kindle e o Kobo), por meio de aplicativos para tablets, smartphones e até computadores.