Perfil clonado no Facebook é criado geralmente por desafetos, dizem especialistas

Pode ainda não ter acontecido com você, mas provavelmente você conhece alguém que teve o perfil do Facebook “clonado”. Essas contas falsas usam a mesma foto e nome de perfil que as originais – e até mesmo copiam álbuns e posts da vítima. Especialistas alertam que a prática, cada vez mais comum no Brasil, tem motivação pessoal na maioria dos casos, como bullying ou vingança. A clonagem do perfil pode ser denunciada ao Facebook e, dependendo da gravidade, tem implicações criminais.

Casos de fraudes como uso de dados clonados já foram mais comuns no mundo corporativo: cibercriminosos utilizavam a engenharia social (golpes dados explorando a confiança das vítimas) para obter vantagens financeiras ou prejudicar os negócios de concorrentes. “Já nesses casos atuais, o fraudador quer de alguma forma atingir moralmente a vítima e, muito provavelmente, é alguém próximo dela”, afirma Wanderson Castilho, perito em crimes digitais e diretor da E-net Security.

Para dar mais “credibilidade” ao perfil falso, os fraudadores costumam adicionar a ele amigos e parentes da vítima. E pior: é comum eles dizerem que o perfil original no Facebook é o errado. 

Quem cria uma conta falsa com intuito de obter algum tipo de vantagem pode ser enquadrado no crime de falsidade ideológica, com pena de reclusão de um a três anos e multa, segundo especialista em Direito Digital, Leandro Bissoli, do PPP Advogados. Em casos mais graves, a pessoa deve registrar um Boletim de Ocorrência.

A vítima pode também entrar com uma ação cível para identificação da autoria daquele perfil. A rede social, caso a Justiça assim decida, terá de fornecer os dados de conexão de quem criou a conta falsa. "Mas quando são criados por cibercriminosos, esses perfis dificilmente terão seus autores identificados", ressalva Bissoli.  Caso descoberto o autor do perfil, ele poderá ser preso e a vítima também poderá pedir uma indenização por danos morais. 

Perfil clonado

Iberê Thenório, criador e apresentador do canal "Manual do Mundo" no YouTube, está entre as vítimas dessa nova modalidade. "Eu já tinha percebido a existência desse perfil com meu nome, mas ele não tinha foto, então não me preocupei. Mas, de repente, meus amigos começaram a avisar que essa conta estava dizendo que o meu perfil era o falso", lembra.

Com mais de 3.000 contatos, o apresentador viu, em poucas horas, mais de cem pessoas cancelando a amizade com seu perfil e aceitando a amizade com o “clone”. “Eu estava na rua naquele dia e, do aplicativo do Facebook pelo celular, não consegui denunciar a conta falsa." Depois, ele usou o próprio Facebook para alertar os amigos da fraude. "Mas algumas pessoas duvidaram de mim. Eu tive de lembrar detalhes muito pessoais das minhas amizades para convencê-los de que eu era eu”, conta.

O passo seguinte dele foi denunciar o perfil falso ao Facebook e pedir que os amigos também fizessem o mesmo. “Na hora que aconteceu eu fiquei com medo. Você não sabe a intenção da pessoa, se é brincadeira ou maldade.” A conta falsa, segundo ele, foi tirada do ar em 24 horas.

O problema é que nem sempre a exclusão do perfil denunciado ocorre tão rapidamente. Isso porque o Facebook analisa caso a caso. Por meio de nota, a empresa afirma que as denúncias são processadas pelo time de Operações, e essas informações são transmitidas aos sistemas de integridade do site.

“Esses sistemas detectam e bloqueiam potenciais contas falsas com base em nomes e atividades suspeitas e atuam juntamente com o time de Operações na investigação de denúncias, agindo sobre as mesmas sempre que necessário.”

Como denunciar no Facebook

Linhas do tempo falsas criadas para imitar pessoas reais ferem os termos de uso do Facebook, que mantém um botão em todos os perfis criados para que seja possível denunciá-los. A queixa é anônima e a rede social afirma não passar de forma alguma seus dados ao perfil denunciado. O andamento do processo pode ser checado na própria rede social.

Há também uma página específica para denúncias nos casos em que a vítima não tem um perfil na rede. 
 

O usuário pode solicitar informações sobre a conta que está se passando por ele, além de denunciá-la. O Facebook pede que seja enviada uma cópia digitalizada de um documento de identificação emitido pelo governo brasileiro, uma declaração registrada em cartório que confirme sua identidade e cópia de um boletim de ocorrência sobre sua solicitação. A rede observa que em situações específicas, no entanto, pode não recuperar ou divulgar informações solicitadas. 

Dá para evitar?

A facilidade com que um perfil falso pode ser criado tem origem justamente na falta de atenção às configurações de privacidade. “Outra questão é que o Facebook está na moda. A abrangência da rede social é imensa, com seu 1 bilhão de perfis”, alerta Castilho. Apesar de ser difícil impedir que isso ocorra, “fechar” o perfil ao máximo pode coibir a ação de pessoas mal intencionadas.

“Depois do que aconteceu, ‘matei’ meu perfil pessoal no Facebook. Tirei minha foto, não posto mais álbuns e só tem pessoas que conheço adicionadas ao perfil”, diz Iberê Thenório, do Manual do Mundo. A medida extrema, segundo o apresentador do canal no YouTube, atrapalha quem de fato precisa se comunicar com ele. "Quem não me conhece não consegue conversar comigo. Se quiser fazer alguma proposta ou contato profissional, não vai conseguir pelo Facebook”, lamenta.

Além de ajustar as próprias configurações de privacidade, é importante que seus amigos também adotem a boa prática. Caso contrário, dados sobre você podem ser colhidos pelos fraudadores no perfil das pessoas do seu círculo de amizade.

“Também é importante que você monitore seu nome constantemente na internet por meio de sites de buscas. Conversar com os amigos sobre o problema também ajuda, geralmente são eles os primeiros a notarem o perfil falso”, aconselha o especialista em segurança.