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Especialistas reconhecem que internet dá força, mas não é principal agente dos protestos

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

18/06/2013 07h53

Poucos protestos na história recente repercutiram tanto na internet como as manifestações pela redução do transporte público em várias cidades brasileiras. Apesar de todo o burburinho sobre os acontecimentos e do importante papel do mundo virtual, especialistas ouvidos pela reportagem do UOL Tecnologia dizem que o papel da rede é turbinar os protestos. O universo virtual reforça a ação, mas não é responsável por ela - como pode parecer, quando sua timeline no Facebook  fica monotemática tratando apenas das manifestações.  

“As redes sociais têm a função de popularizar discussões que ocorrem na internet, mas dizer que apenas elas fazem tudo é exagero”, disse Pollyana Ferrari, professora do departamento de jornalismo da PUC-SP e pesquisadora na área de mídias sociais.

O cientista político Pedro Arruda concorda e ressalta a importância do compartilhamento de protestos na rede. “A divulgação desses eventos pela internet acaba despertando uma consciência crítica nas pessoas e, em muitos casos, resulta em mobilização”, afirmou Arruda.

Outros protestos (também virtuais) pelo mundo

Occupy - movimento que começou em 2011 nos Estados Unidos contra a corrupção e pela desigualdade social e econômica. O grupo, que iniciou com jovens, foi ganhando adesão de diversos setores da sociedade. Eles alegam não ter uma liderança e muitas ações do grupo são feitas por redes sociais.
Primavera Árabe - levante que começou em 2010 em diversos países árabes pedia o fim de regimes ditatoriais no norte da África e no Oriente Médio. A manifestação, encabeçada por jovens insatisfeitos, conseguiu derrubar o presidente da Tunísia e forçar a renúncia do presidente do Egito em 2011. Até hoje, a onda de protestos afeta a região. Os manifestantes usaram redes sociais para reportarem os eventos.
Indignados - em 2011, jovens espanhóis criaram o movimento "Indignados" para protestar contra a falta de emprego no país. Os manifestantes tomaram praças de várias cidades do país para mostrar insatisfação com a situação financeira do país. A maioria das ações do grupo foi propagandeada via redes sociais.

Outro fator que contribui para o crescimento do assunto no ambiente virtual é o público que participa deste tipo de iniciativa.  “São jovens que ‘abandonaram’ os veículos de comunicação tradicionais. Eles já usam a internet para se informarem, então nada mais natural do que a rede ser também um espaço para manifestação”, disse Pollyana.

Segundo a pesquisadora, o perfil do manifestante engajado nos protestos em redes sociais é de pessoas com menos de 30 anos e que sofrem de alguma forma com os problemas de cidades grandes. Os dados são de um levantamento preliminar do grupo de pesquisa “webativismo”, que tem como objetivo analisar como os grupos políticos se organizam na rede.

Esses aspectos sociais e econômicos, combinados com o uso de redes sociais, aproximam as ações realizadas no Brasil àquelas de outros países como a Primavera Árabe, o Occupy (nos Estados Unidos) ou dos Indignados (na Espanha). Porém, nos casos estrangeiros, os problemas eram outros: falta de emprego e falta de democracia. No Brasil, os protestos tiveram início com o aumento da tarifa do transporte público e ganharam proporções maiores, passando a incluir gritos de descontentamento com causas diferentes.

Cobertura alternativa

Além da divulgação, o caso dos protestos contra o aumento de passagem ganhou uma espécie de cobertura alternativa por parte dos internautas. “A rede cumpre o papel de furar um bloqueio a certos temas impostos por alguns meios de comunicação”, disse Arruda.  Ele se refere aos relatos feitos por usuários em redes sociais na última quinta-feira (13) durante manifestações em São Paulo e de como alguns veículos de mídia trataram os protestos.

“A combinação do aumento da violência da polícia e da postagem em redes sociais fizeram com que o público apoiasse os manifestantes”, analisou Raquel Recuero, especialista no estudo de redes sociais, em um post no blog “Digital Media and Learning” (em inglês).

Foram feitos vários tipos de postagens: relatos, imagens de pessoas feridas pela polícia e vídeos. Um dos mais populares capta a cena de um policial quebrando o vidro de uma viatura – supostamente para culpar os manifestantes pelo estrago. Após a repercussão, a polícia informou que o vidro já estava quebrado e que o soldado só estava tirando os estilhaços.

Antes do incidente que deixou centenas de manifestantes feridos na última quinta-feira em São Paulo, alguns veículos de mídia chegaram a usar o termo “baderneiros” para definir os participantes. Após a repercussão negativa, o termo mudou para “ativistas”. Essa mudança foi tratada na coluna "Faroeste urbano" da ombudsman Susana Singer, da Folha de S.Paulo

Ativismo de sofá

Uma crítica comum aos manifestantes virtuais é o ativismo de sofá, termo que descreve o sujeito que faz barulho nas redes sociais, mas não vai às ruas para protestar.

“É um termo pejorativo, mas o ativista de sofá tem sua importância. Várias pessoas marcam presença em eventos criados no Facebook, mas não podem comparecer por diversas circunstâncias. O ato de confirmar presença é uma forma de prestar solidariedade e de impulsionar o movimento nas ruas”, falou Arruda.

Para o cientista político, as pessoas devem se acostumar a esse tipo de protesto organizado pela internet, que ajuda a população a discutir política. “Isso é uma nova forma de participação. As pessoas estão cansadas da ‘política eleitoral’, que só ouve os eleitores durante os períodos de votação.”

OS PROTESTOS EM IMAGENS (Clique na foto para ampliar)

  • PM espirra spray de pimenta em manifestante durante protesto no Rio

  • Em Brasília, manifestantes conseguiram invadir a área externa do Congresso Nacional

  • Milhares de manifestantes tomam a avenida Faria Lima, em SP

  • Após protesto calmo em SP, grupo tenta invadir o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo

  • Manifestantes tentam invadir o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio

  • Um carro que estava estacionado em uma rua do centro do Rio foi virado e incendiado

  • Jovem é detida pela Brigada Militar durante protesto realizado em Porto Alegre

  • Cláudia Romualdo, comandante do policiamento de Belo Horizonte, posa com manifestantes

  • Estudante é preso dentro diante do Congresso Nacional

  • Manifestantes levam faixa alusiva a 1964 em Porto Alegre

  • Protestos pelo mundo, como este em Berlim, manifestam apoio aos atos no Brasil

  • Fotógrafos protestaram contra a violência da PM em relação aos jornalistas

  • Manifestante preso no protesto no dia 11 é solto em SP

  • Policial atinge cinegrafista com spray de pimenta

  • PM agride clientes de um bar na avenida Paulista

  • Policial atira bombas contra manifestantes

  • Cartaz faz referência à música Cálice, de Chico Buarque, escrita durante a ditadura

  • Manifestantes se ajoelham para tentar se proteger de ação policial

  • Mulher anda de bicicleta em meio a confronto entre policiais e manifestantes

  • Garota segura flor enquanto usa orelhão pichado durante protesto

  • Mulher é ferida na cabeça ao passar por confronto entre polícia e manifestantes

  • Policial atira contra manifestantes em rua do centro de São Paulo

  • Vídeo mostra policial quebrando o vidro do próprio carro da polícia em SP

  • Manifestante faz sinal da paz para policiais

  • Policial Militar aponta arma para se defender de agressores

  • Manifestantes se ajoelham diante de PMs durante protesto na avenida Paulista

  • Policial tenta apagar fogo provocado por manifestantes

  • Manifestantes fazem fogueira durante protesto contra o aumento das passagens

  • Manifestantes tomam a avenida Paulista no segundo protesto

  • Multidão participa do primeiro protesto contra a aumento na tarifa de ônibus