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Aplicativo WhatsApp ganha força como a nova versão do "grupo de e-mail"

WhatsApp é o software de mensagem em dispositivos móveis mais usado no Brasil, segundo pesquisa - Arte UOL
WhatsApp é o software de mensagem em dispositivos móveis mais usado no Brasil, segundo pesquisa Imagem: Arte UOL

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

03/12/2013 06h01

No início da popularização da internet no Brasil, a comunicação entre amigos era concentrada em serviços usados diretamente no computador (como os grupos de e-mail, as comunidades do Orkut ou o Windows Live Messenger). No entanto, com a popularização dos dispositivos móveis, essa forma de comunicação migrou para aplicativos de smartphone, principalmente o WhatsApp.

O WhatsApp funciona como um programa de mensagem instantânea com a possibilidade de criar grupos de contatos para o envio e recebimento de arquivos. Nos grupos de WhatsApp, como nas antigas discussões por e-mail, são compartilhados todos os tipos de conteúdos: piadas, fofocas, vídeos, avisos de encontro, boatos, etc.

O mais comum é que as pessoas se organizem no aplicativo em grupos de amigos e a interação é igual a de uma sala de bate-papo privada. Geralmente, são criados grupos por ocasião de algum evento e para reunir colegas de trabalho ou da escola.

  • Arquivo Pessoal

    Leonardo Cordelli, 29, participa de mais de seis grupos no WhatsApp

“O mais legal do WhatsApp é justamente o fato de ser prático para conversar, enviar links, fotos e arquivos de áudio. Tudo muito rápido e sem complicação”, afirmou o administrador de empresas Leonardo Cordelli, 29, que usa o aplicativo desde 2011.

Cordelli participa de seis grupos temáticos na rede social: amigos da faculdade, do bairro, do prédio, dos amigos mais próximos, de amigos da PUC [universidade paulistana] e um que foi criado para a despedida de solteiro de um amigo, mas que continua ativo após o evento.

“Gosto da facilidade e da zoeira do WhatsApp. Também acho legal o programa, pois você não precisa pedir mais o telefone de alguma menina, hoje em dia só peço o contato do WhatsApp”, disse o tecnólogo Luiz Fernando Caetano, 27, que usa o aplicativo há três anos e participa de dez grupos. “Temos de tudo na internet e com o WhatsApp não é diferente: tem conteúdo adulto, humor, coisas bizarras e sérias (bem poucas, mas são discutidas).”

Criado nos Estados Unidos, o aplicativo não tem o mesmo alcance do Facebook e não faz ações de marketing. Segundo uma pesquisa da empresa OnDevice, o WhatsApp é o aplicativo de mensagem instantânea mais utilizados em dispositivos móveis no Brasil. Ele é usado por 72% dos usuários contra 49% que usam o chat do Facebook e 30% que se comunicam com o Skype.

Casos envolvendo o WhatsApp

Um boato difundido no WhatsApp dizia que o Aeroporto de Brasília estava contratando 5.000 pessoas. Em função disso, dezenas de candidatos foram até o local entregar o currículo pessoalmente para as vagas
Em junho, um rapaz de 18 anos foi preso na cidade de Vigo (Espanha) por compartilhar uma imagem de sua ex-namorada nua. Apesar de o rapaz ter sido preso, outras seis pessoas foram interrogadas por terem difundido as imagens
O próprio WhatsApp já foi alvo de boato dentro de sua própria plataforma. Uma mensagem difundida no início de 2012 dizia que o serviço iria acabar por "excesso de uso". Se a pessoa não compartilhasse essa "corrente", a conta dela seria desativada em 48 horas
Uma senhora de 46 anos avisou o marido pelo WhatsApp, que havia sido vítima de um acidente de trem em Santiago de Compostela (Espanha). Apesar do susto, Susana Relaño saiu apenas com ferimentos leves do acidente.

Revenge Porn

O aplicativo WhatsApp ganhou notoriedade nos últimos meses na mídia por situações de revenge porn (pornô de vingança), quando alguém, geralmente um ex-namorado ou ex-namorada, espalha conteúdo privado do parceiro na internet.

Os personagens entrevistados admitiram que compartilham conteúdo adulto no WhatsApp, mas ressaltaram que isso só ocorre em grupos temáticos. “Isso acontece em grupos apenas para meninos. É importante manter o respeito com as meninas que temos nos grupos mistos”, explicou Caetano.

Recentemente, uma garota de Goiás teve suas imagens sensuais supostamente espalhadas no grupo de WhatsApp por um ex-namorado. Já no Piauí, uma adolescente acabou se suicidando após ter vídeos de sexo também divulgados por meio do aplicativo.

“Considero essas histórias muito sérias, pois isso poderia ter acontecido com qualquer um hoje em dia. Dá certo medo, pois as pessoas estão perdendo completamente a noção”, disse Cordelli, que inclusive afirmou ter recebido imagens do caso da garota de Goiás. “Somos a geração do ‘ter’ e abandonamos o ‘ser’. Então é vantajoso para o cara esbanjar um vídeo transando com a garota, sem pensar o que pode causar a ela.”

Compartilhar pode dar cadeia

O ato de compartilhar conteúdo privado por WhatsApp pode fazer com que o autor da ação responda por dois tipos de crimes, segundo Renato Opice Blum, advogado especializado em direito digital: danos morais e difamação.

O primeiro estabelece que o autor da ação pague uma indenização. Já o segundo tem pena máxima de um ano de prisão. No entanto, o tempo de encarceramento pode ser maior. Quando a difamação é feita em um meio de rápida difusão de conteúdo, como a internet, é comum que haja acréscimo de um terço da punição estabelecida.

Mesmo não sendo a primeira pessoa a compartilhar um conteúdo privado, uma pessoa pode ser punida nos mesmos artigos apenas por passar para frente arquivos sensíveis.

“Quem compartilha pode ser declarado coautor da ação, mas isso depende da percepção do autor de que aquele ato é ilegal. Por exemplo: se compartilhar imagens de nudez em situação privada [uma situação em que a pessoa claramente sabe que vai causar danos à imagem de alguém], o juiz pode considerar culpada a pessoa que ajudou a espalhar os arquivos. Já no caso de um boato, não.”

Exposição de fotos e vídeos íntimos na internet pode virar crime