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"Canal do Otário": página no YouTube alerta sobre armadilha para consumidor

O idealizador e responsável pelos vídeos prefere ser identificado apenas como "Otário" - Reprodução/Youtube
O idealizador e responsável pelos vídeos prefere ser identificado apenas como "Otário" Imagem: Reprodução/Youtube

Flávio Carneiro

Do UOL, em São Paulo

07/02/2014 06h00

O “Canal do Otário” ou “OtarioAnonymous” é uma página do YouTube que utiliza a plataforma de vídeos para criticar empresas, políticos e órgãos do governo. O objetivo das filmagens, que alcançam até 700 mil visualizações, é denunciar casos em que supostamente exista propaganda enganosa por parte das companhias ou alertar para situações em que o consumidor pode ser enganado. O número de inscritos no canal já ultrapassa 330 mil.

Entre os temas abordados nas produções estão impostos excessivos, tarifas bancárias desreguladas e má qualidade de serviços, como de internet e telefonia. Os discursos também questionam situações específicas em que o consumidor teria seus direitos negados, como em casos de empresas que supostamente não cumprem determinações previstas em leis.

O idealizador e responsável pelos vídeos prefere ser identificado apenas como “Otário” – ele não revela nome, ocupação, cidade e sempre aparece com um saco de papel na cabeça. Em entrevista por e-mail ao UOL Tecnologia, contou que a ideia surgiu quando ele mesmo se sentiu lesado. “Eu me deparei com um biscoito de chocolate que não tinha nada a ver com a imagem apresentada na embalagem. Foi então que percebi que eu era enganado em praticamente tudo o que me cercava”, explica.

Os assuntos escolhidos, geralmente, são os campeões de reclamações. Quando surgiu o canal, em 2012, o criador procurava os temas em sites de defesa do consumidor. Com o crescimento da página, os próprios internautas passaram a sugerir assuntos.

Na hora de criticar as corporações, a preferência é pelas maiores. “Procuro as empresas líderes de mercado, que possuem maior público. Faço isso por uma simples razão: se eu falar de uma empresa qualquer, a maioria das pessoas não irá se identificar”, conta “Otário”.

Conflitos

Com o lema de “o pior pesadelo de empresas e pessoas que promovem propaganda enganosa”, as gravações citam nominalmente as companhias e, inclusive, mostravam logomarcas.

Essa postura fez com que dois vídeos, que falavam da Claro e da Net, foram retirados do ar pelo YouTube. As empresas não pediram o bloqueio por causa das críticas, mas sim pelo uso não autorizado de suas logomarcas, segundo “Otário”. Para contornar essa situação e evitar mais problemas no futuro, os logos agora passam por leves alterações.

Procuradas pela reportagem, a Net e a Claro não se manifestaram sobre o assunto. 

Pesquisas

Para sustentar suas críticas, “Otário” afirma que realiza pesquisas em áreas como órgãos de defesa do consumidor (Procon, IDC), sites das próprias empresas (para analisar relatórios de lucros), agência reguladoras (Anatel, Anac), sites do governo (Congresso e Senado) e institutos de pesquisa (IBGE, por exemplo). Em casos que envolvem alimentos, ele diz muitas vezes adquirir o produto para comparar com a embalagem.

  • Em um dos vídeos, o "Canal do Otário" explica como reúne informações

Custos

Os gastos para produzir os vídeos - como equipamentos, software, pesquisas e servidores - são financiados quase totalmente pelo idealizador, que juntou dinheiro antes de dar início ao projeto (ele afirma que hoje se dedica exclusivamente ao canal). “Agora estou buscando novas formas de tentar manter o ‘Canal do Otário’ de pé [...]. Caso eu não tenha êxito, infelizmente ele vai terminar.”

Otário acredita que a recepção dos usuários é positiva. Segundo o vlogueiro, o índice de aprovação dos vídeos é de 99,4% (taxa referente às “curtidas” no Youtube).

Ele também acredita que, de certa forma, suas produções já contribuíram para que mudanças acontecessem. “Coincidência ou não, após os vídeos, uma série de medidas favoráveis aos consumidores apareceram. O preço dos carros no Brasil foi tema de discussão no Senado e a Anatel puniu empresas de telefonia que desrespeitaram consumidores”, diz.