Após polêmica, Gabriela Pugliesi diz que reforçará sinalização de post pago
Gabriela Pugliesi, autora do blog sobre vida saudável Tips4Life, virou centro de uma polêmica envolvendo seu perfil no Instagram - a conta tem mais de 540 mil seguidores. Usuários criaram a hashtag #explicapugli para questionar se os posts sobre produtos recomendados por ela são pagos.
As pessoas envolvidas nas denúncias alegam que não há indicação de #publipost no conteúdo e reportaram a prática ao Conar (Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária). O órgão aceitou a denúncia e analisa a situação – por isso, ainda não pode comentar esse caso específico.
Ao UOL, Gabriela admitiu publicar conteúdo patrocinado no perfil no Instagram, mas alega que seu trabalho é “honesto, normal e deixou de ser novidade faz tempo”. Além disso, ela afirma que comenta apenas produtos que “realmente gosta, usa e consome”. A blogueira também disse que já está dando mais ênfase ao indicar o conteúdo patrocinado.
Apesar da polêmica, Gabriela brincou nesta semana com a situação. Em uma foto na qual ela aparece usando um computador da Apple, a blogueira usou as seguintes hashtags: #naverdade #tudoisso #foipara #fazerpubli #domacbook #eainda #quemMepagou #foiSteeve #laDocéu #PagouPormeioDeUmMédium.
Confira abaixo a íntegra da entrevista, concedida por e-mail:
UOL - Com você está se sentindo em relação às críticas envolvendo os posts publicitários?
Gabriela Pugliesi - Fiquei assustada no início. Há alguns meses postei no meu blog uma explicação de como é feito o meu trabalho, semelhante ao de todas as blogueiras que têm grande audiência e credibilidade, mas isso não foi suficiente para evitar a má fé e os julgamentos errados. O que eu faço é honesto, normal e deixou de ser novidade faz tempo.
Só falo no meu Instagram de produtos que eu realmente gosto, uso e consumo, mesmo quando é publicidade. Meu prazer está em motivar as pessoas a adotarem um estilo de vida mais saudável, e isso não envolve só uma boa alimentação e exercícios físicos. Se a mente não está boa, adoecemos do mesmo jeito. Mas, enfim, as críticas fazem parte, já me acostumei, confesso que no início sofria mais.
UOL - Qual é a sua atitude profissional como comunicadora em relação ao conteúdo patrocinado no seu blog e nas redes sociais ligadas a ele?
Gabriela – Minha atitude profissional é apenas fazer parcerias com empresas que tenham sinergia com o conteúdo do meu blog e principalmente com a minha filosofia de vida. Todas as empresas/produtos/marcas que eu divulgo, seja publicidade ou não, fazem parte da minha rotina ou eu acho a dica válida para outras pessoas. Exemplo: divulgo vários produtos sem glúten, pois tenho muitos seguidores intolerantes. Eu não sou intolerante, mas a dica é válida para muita gente, e claro que sempre são produtos que atesto a qualidade.
A minha responsabilidade como pessoa, e isso vem muito antes de ser profissional, é negar qualquer proposta que não esteja de acordo com meu estilo de vida, e com o que acredito. Recuso muito mais propostas do que aceito. Faço poucas e boas parcerias. No Instagram, mais de 90% do meu conteúdo é espontâneo, pois isso que movimenta as minhas redes e são dicas práticas que as pessoas buscam ali.
Se eu divulgasse apenas conteúdo patrocinado tudo perderia o sentido, pois eu comecei fazendo esse trabalho espontaneamente, por amar incentivar as pessoas e continuarei assim. Faz parte da minha essência.
UOL - Há sinalização de que são publiposts? Onde ela fica?
Gabriela – Há sinalização, sim. No blog sempre vem abaixo do post como "Parceiro "Tips4life" ou "publicidade". No Instagram, antes eu só colocava a hashtag #publipost. Agora para ficar mais ainda em evidência que é um conteúdo patrocinado eu marco na localização como "parceiroTips4life" ou " publicidade" e também uso a hashtag #publipost. Sou a favor de se criar normas mais claras para blogueiras, pois cada uma coloca uma coisa e tem muitas “menores” do que eu que não colocam nada. Se criarem normas claras, seria muito mais fácil para o leitor e para nós, com certeza.
Gabriela Pugliesi enviou algumas imagens para exemplificar como sinaliza a publicidade nos posts; a marcação vermelha foi feita pela reportagem
UOL - Como consumidora, como se sentiria ao visualizar um post pago que omite ser conteúdo patrocinado?
Gabriela – Na verdade, a minha questão não seria nunca “se o tal post é patrocinado ou não”. Seria, sim, se o conteúdo da informação me interessa ou não. Se ele tem qualidade ou não. Mesmo antes de ter o meu blog já seguia vários blogs, inclusive de amigas minhas que se tornaram grandes blogueiras. Jamais me passou pela cabeça se o vestido que ela postou e eu gostei foi pago por alguma marca para estar lá.
O que vale para mim como consumidora é a ética adotada. Eu não me sentiria bem em publicar um post mesmo com a indicação #publipost de um produto que não consumo ou não recomendo.
Publipost: sinalização obrigatória
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) ordena: “A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal”. |
O código de ética do Conar recomenda: “O anúncio deve ser claramente distinguido como tal, seja qual for a sua forma ou meio de veiculação.” |
Posts patrocinados em blogs devem vir sinalizados como publicidade logo no início do texto, de preferência antes do título. |
No Instagram, posts patrocinados devem vir sinalizados também logo no início, ou seja, com a indicação de publicidade no alto da própria imagem. |
No Instagram, apenas o uso de hashtags como #publipost, #postpatrocinado ou similares é insuficiente para atender à lei exposta no CDC. Isso porque a hashtag, em geral, é visualizada apenas no fim do post. |
No Facebook e Twitter, a sinalização de publicidade deve ocorrer no início da mensagem do post patrocinado. |
Denúncias sobre publicidade velada devem ser feitas ao Procon de sua cidade e ao Conar. |
UOL - Circula na internet uma tabela de preços que você cobra para publicar posts no blog (R$ 6.800) e no Instagram e Facebook (R$ 3.600). Essa tabela é verdadeira? Esse conteúdo patrocinado fica sinalizado no blog?
Gabriela – Tenho um “mídia kit”, sim, como todas as blogueiras de grande audiência e credibilidade. Isso não é novidade. Agora, quanto eu ganho é uma informação que eu tenho o direito de preservar. Ninguém é obrigado a sair por aí anunciando quanto recebe de salário. Meu trabalho é honesto e eu faço de coração. Se estou ganhando dinheiro com isso? Sim. E não tenho do que me envergonhar.
Hoje tenho uma empresa, pessoas que trabalham no meu projeto e que recebem para isso. Pago impostos. Não vou deixar de ser quem eu sou e nem vou deixar de postar nada por acharem que pode ser publicidade. O conteúdo sempre que for patrocinado estará sinalizado no blog "parceiro Tips4Life" e no Instagram " #publipost " ou publicidade. São as formas que uso para identificar.
UOL - A respeito do processo ético nº 027/14 do Conar devido ao post “Perder os quilinhos extras sem perder a saúde”, você já foi notificada pelo órgão a apresentar defesa?
Gabriela – Ainda não recebi qualquer notificação do Conar referente a este assunto. Mas acho que o Conar está na sua função, como o órgão que autorregulamenta a publicidade no Brasil, em averiguar denúncias. E cabe a mim mostrar que não estou fazendo nada de errado.
UOL - Dada a repercussão do caso, você pretende tomar alguma medida no sentido de sinalizar mais claramente quais conteúdos, tanto no blog como no Instagram e Facebook, são posts pagos?
Gabriela – Sim, estou dando mais ênfase, pois para mim a sinalização não muda a intenção. Meu blog cresceu muito rápido e o que chamou a atenção das pessoas foi o compartilhamento da minha rotina: meus exercícios físicos, produtos e marcas que eu consumo, onde compro. Se eu não mostro marca, onde compro, recebo várias perguntas sobre isso. Portanto não vou perder minha espontaneidade e nem deixar de postar produtos que uso mesmo as pessoas achando que é publicidade. Mais uma vez: o que for [publicidade] vai estar sinalizado.
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