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Jovens dos EUA deixam Facebook; fatores sociais devem 'segurar' brasileiros

Flávio Carneiro

Do UOL, em São Paulo

24/02/2014 06h01

Recentemente, duas pesquisas colocaram em xeque a popularidade do Facebook entre os usuários de até 17 anos. Uma consultoria afirmou que a rede social perdeu 3 milhões de adolescentes nos EUA e outra disse que eles estão debandando para outras plataformas, por causa da presença dos parentes na rede social. Mas especialistas e usuários ouvidos pela reportagem indicam que essas preocupações citadas nos EUA ainda não se repetem por aqui.

MUDANÇAS NO FACEBOOK NOS EUA*

 20112014
Usuários com até 17 anos 13,1 mi9,8 mi
Usuários com mais de 55 15,5 mi28 mi
  • *Dados da consultoria iStrategy

Referências sobre a internet no Brasil, estudos realizados pelos institutos Ibope Nielsen e a Serasa Experian não analisam como os adolescentes locais utilizam a rede.

Já uma pesquisa da consultoria ComScore, divulgada pela própria filial brasileira do Facebook, indica que o número de usuários com idade entre 15 e 24 anos mais que dobrou por aqui entre os anos de 2012 e 2013.

O psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas, vê uma diferença na relação de jovens brasileiros e norte-americanos com a rede social – causada, segundo ele, por uma questão cultural.

“Faz parte da vida dos americanos se afastar um pouco da família quando atingem a adolescência e isso se reflete na vida digital. No Brasil, essa característica é diferente. O jovem continua próximo à família mesmo durante a faculdade”, explicou.

O paulista Lucas da Silva Clemente, 16, é um exemplo disso. Ele tem a mãe e praticamente toda a família no Facebook, mas diz não se preocupar com a privacidade. “Quase sempre deixo meus posts públicos. Só em alguns casos tenho uma lista de amigos específicos”, conta.

Thales Augusto, 14, de São Paulo, se comporta de um jeito parecido. “Quando compartilho algo no Facebook, não me preocupo com o que vão pensar. A única coisa que avalio é se o conteúdo é ofensivo, como piadas de mau gosto”, afirma. Augusto é amigo de diversos familiares na rede social, como a mãe, os primos e tios.

A mineira Maria Clara Lopez, 17, já até percebeu que o Facebook pode atrapalhar suas tarefas, mas nunca conseguiu abandoná-lo – e, se o fizesse, não seria por causa da família. “Eu vi que ele [o Facebook] ocupava muito meu tempo e eu estava deixando de lado minha vida real pra viver a virtual, mas nunca consegui sair. Preciso do site para conversar com as pessoas, por exemplo”, conta.

Ascensão social

A tendência de os jovens brasileiros continuarem e até aderirem à rede social se dá também por fatores econômicos, segundo Andréa Jotta, psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática), da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “As classes C, D e E ainda estão acessando as redes sociais pela primeira vez, o que estimula o uso. Nos EUA, os jovens da geração atual já nasceram com a tecnologia ao seu redor e estão em outro momento”, afirma.

Outra questão abordada pela psicóloga é o fato de que, enquanto essa rede social for febre no Brasil, dificilmente os jovens sairão da rede. Segundo ela, isso acontece porque essas tendências são coletivas e os usuários permanecem onde está o seu circulo social.

É justamente por isso que Razê Almeida Dias, 17, de Santo André (SP), decidiu sair do Orkut. “Quando Facebook surgiu, eu não tinha muita vontade de criar um perfil, pois achava a rede social fraca. Mas como todos meus amigos trocaram o Orkut pelo ‘Face’, fui meio que obrigado a mudar também”, relembra.