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Após perder audição, padre passa a usar Facebook para confissão de fiéis

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

18/04/2014 06h00Atualizada em 21/04/2014 09h18

Após sofrer com a perda da audição, o padre Angelo Rossi, 62, morador de Descalvado (243 km de São Paulo), passou a utilizar a internet, e mais notadamente o Facebook, como ferramenta de evangelização. Pela rede social, ele aconselha e conversa com fiéis, indica textos bíblicos e até recebe confissões à distância. Em seu perfil, ele possui mais de 4.000 amigos.

“Há muita gente precisando de ajuda e que precisa de alguém para ouvir, para oferecer socorro nos momentos difíceis momento”, disse o religioso, em entrevista do UOL.

Até o fim de 2013, o religioso não utilizava o Facebook e mal sabia ligar um computador. Mas ele conta que, depois de ter uma meningite que o fez perder a audição em 2010, ele chegou à conclusão que a internet poderia ser utilizada como forma de evangelização. A partir de então, aprendeu informática e começou seu trabalho. Atualmente, ele conseguiu recuperar parte da audição com uso de um aparelho auditivo coclear e reza missas apenas ocasionalmente.

“Com a doença e a surdez, encontrei dificuldades de continuar o meu trabalho como sacerdote à frente de uma paróquia”, conta ele, que atuava em Americana (100 km de São Paulo). “Então, decidi me aposentar e voltei a Descalvado, onde sou pároco.”

O religioso disse ainda que utilizar o Facebook foi a forma que encontrou para continuar pregando a palavra de Deus. “Eu temi que não pudesse mais evangelizar. Mas, depois de muito tempo, vi que o computador e a internet eram opções para continuar meu ministério”, explica.

Padre Angelo Rossi - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
''Vi que o computador e a internet eram opções para continuar meu ministério'', diz o padre
Imagem: Reprodução/Facebook

Confissão sem sacramento

Segundo Rossi, a procura pelo aconselhamento é grande. “Tenho muitos amigos na região de Campinas, pessoas com as quais convivi por muito tempo. Então, converso muito com eles.” Ele afirmou ainda que, quando se depara com uma confissão, tenta chamar o fiel para uma conversa pessoalmente.

Ele ressaltou que, embora as leis da Igreja não permitam a confissão de outra forma que não seja a presencial (para que o padre possa escutar, pessoalmente, as palavras do fiel), a Igreja tem ciência de sua atividade e que, até o momento, não houve nenhum comentário contrário.

“Eu não faço o sacramento, mas tento orientar. Para os que estão longe, encaminho ao padre mais próximo. Basicamente, eu ouço as pessoas em suas dificuldades e problemas para tentar ajudá-las”, detalha o religioso. Ele afirma acreditar que a Igreja não vá se opor ao trabalho, a menos que ele faça algo que não seja permitido.

A reportagem entrou em contato com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para que a instituição comentasse o caso, mas foi informada que ninguém poderia falar pela entidade até terça-feira (22) em razão dos feriados de amanhã e de segunda-feira. A Diocese de Limeira, que responde por Descalvado, também foi procurada, mas ninguém foi encontrado para comentar.

“Vício” na fé

O padre Angelo Rossi afirma ainda que costuma permanecer online muitas horas por dia -- já ficou até às 4h da madrugada atendendo fiéis. “É quase um vício, mas, nesse caso, é para a evangelização, para o bem. Senti no meu coração um desejo de alcançar os que estão mais distantes.”

Segundo o sacerdote, o contato pelo computador também ajuda as pessoas a falarem com menos reserva sobre seus problemas. Isso porque as pessoas sentem-se mais à vontade para conversar, contar seus problemas e dúvidas. 

“Às vezes a pessoa está em casa e precisa de um conselho, uma bênção, uma palavra amiga naquele momento. Eu sempre estou aberto para que as pessoas venham falar comigo. Elas pedem mensagens de apoio e carinho e a gente tem essa troca, é bem rápido. O Facebook é uma graça e é mais um caminho para encontrar Deus e sua palavra”, conclui.