Binge-watching: vício em conteúdo online faz usuário ignorar até Réveillon

Você já passou horas em frente à TV ou computador assistindo a uma série inteira, episódio após episódio? Saiba que esse comportamento tem nome: binge-watching.

O termo binge, em inglês, significa compulsão e foi adaptado para o hábito de assistir a muito conteúdo sem intervalos. Apesar de não ser "oficialmente" um vício, esse comportamento muitas vezes se repete sem que o usuário consiga parar.

A mania surgiu quando as empresas passaram a comercializar temporadas inteiras de séries em DVD. No entanto, ela ganhou força com os serviços de TV pela internet, como o Netflix e o Now, da Net.

Em uma pesquisa realizada pelo site “Slate”, especializado em entretenimento, cerca de 75% dos participantes afirmaram que já praticaram binge-watching. O portal ouviu 556 internautas que assistem a conteúdo online. Entre as séries mais populares neste contexto estão “Game of Thrones”, “Breaking Bad” e “Homeland”.

Esse comportamento, segundo o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas, é causado pelo grande volume de informações a que somos submetidos diariamente. “No ritmo moderno de vida, você se acostuma a receber muitas informações o tempo todo, como na internet. O cérebro procura esse comportamento em outras áreas da vida, como na hora de ver séries, por exemplo”, explicou Nabuco.

A publicitária Mônica Vanzillotta, 45, Rio de Janeiro, se encaixa nesse perfil acima. Ela assiste a 96 séries diferentes e já passou até a noite de Réveillon assistindo a uma maratona de “Mad Men”. “Eu agradeci os convites das festas e disse que preferia ficar só. Acho que ninguém acreditou que eu estava realmente sozinha e que os 'Mad Men' estavam na telinha”, contou.

Mesmo sendo fã das produções, Mônica diz que isso não atrapalha sua rotina. “Quando você se organiza, não é difícil conciliar a vida social com as séries. Em um fim de semana que tem várias festas, acaba enrolando tudo. Mas pode apostar que o vício fala mais alto e vai ter dia no meio da semana em que dormirei bem tarde assistindo a séries. E durante a semana, só depois do expediente. Ou na hora do almoço”, relatou.

Mas o hábito de consumir grande quantidade de conteúdo não está restrito ao mundo das séries. Nos games também é comum encontrar jogadores que passam horas e horas na frente da TV, até terminar o jogo.

Esse é o caso do estudante Erick Souza, 16, Balsas (MA), que gastou centenas de horas (espalhadas em alguns dias) para terminar os jogos “Final Fantasy VII”, “Final Fantasy VIII” e “Final Fantasy Tactics”, todos da mesma franquia. “Somente o Final Fantasy VIII demorou mais de 84 horas para ser completado”, disse.

Essa maratona de games contou, inclusive, com a participação do pai de Souza. “Jogamos nas férias do meu pai. Eu ficava acompanhando e jogando. Pela tarde eu ia para a escola e ele continuava. Quando eu voltava, ele ainda estava lá e nós continuávamos. Começamos a jogar sério e tivemos dificuldade, pois o jogo era em inglês e tinha muito quebra-cabeça”, afirmou.

Rafael Rodrigues, 20, que é desenvolvedor de sistemas, também gosta de fazer maratonas de videogames. A façanha dele, assim como a de Souza, foi terminar diversos jogos de uma mesma franquia. Nesse caso, são mais de dez títulos.

“Joguei um ‘Assassin's Creed’ seguido do outro, mas apenas nos fins de semana, por causa da faculdade, então levei alguns meses. Nunca tinha jogado todos completamente, sempre largava no meio. Mas resolvi tomar vergonha na cara e seguir a história. Desde o primeiro game da saga até o 'Black Flag', último que já foi lançado até agora”, explicou.