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Casais usam cada vez mais redes sociais e torpedos para terminar relação

Enquanto uns aproveitam a "facilidade" em dizer adeus por mensagens privadas online, outros escancaram na internet o fim da relação. São os "barracos digitais" - Getty Images
Enquanto uns aproveitam a 'facilidade' em dizer adeus por mensagens privadas online, outros escancaram na internet o fim da relação. São os 'barracos digitais' Imagem: Getty Images

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

19/05/2014 06h03

Terminar um relacionamento amoroso nunca é fácil, mas parece ainda mais doloroso quando você é vítima de um “fora digital”. A prática será cada vez mais comum (e aceitável) com as gerações mais novas se relacionando intensamente pelas redes sociais e aplicativos. Enquanto essa “nova era” não chega, há modos mais ou menos rudes de terminar. Segundo psicólogos, quanto maior a exposição na internet, maior é a dor causada a seu ex.

“A tecnologia não traz nada de novo, só potencializa o término do relacionamento. Vai doer sempre, porém digitalmente dói mais porque muitas vezes você não ouve nem a voz do outro”, explica Luciana Ruffo, psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática) da PUC-SP.

Em comum, o autor do “fora digital” é aquele no relacionamento com maior dificuldade de lidar com conflitos. “Para quem dá o fora, fazer isso virtualmente é mais fácil. Pela internet, ele não vai precisar lidar com choro, cara feia nem discussão.”

Ainda assim, segundo a psicóloga, quem está abaixo dos 25 anos já tende a achar “mais normal” terminar um relacionamento por meios como Facebook e WhatsApp. Isso porque elas já consideram a internet uma extensão das próprias vidas. “Os mais velhos veem a internet com uma conotação diferente. Para eles, ela é mais um ‘canal de comunicação’”, explica.

Estudos
Ilana Gershon, professora da Universidade Bloomington em Indiana (EUA), é autora de um estudo que ilustra essa diferença para gerações mais velhas. O levantamento foi feito entre 2007 e 2008, época em que Facebook e Twitter já eram populares entre jovens, mas ainda não desempenhavam um papel central na vida deles.

A pesquisadora entrevistou universitários com idade em torno de 20 anos naquela época (hoje na casa dos 30 anos), que afirmaram ter ficado com raiva ou ofendidos após levar o “fora digital”. “A grande maioria das pessoas [daquela época] me disse que terminar de forma online era algo covarde e que a única maneira aceitável seria terminar pessoalmente”, lembra Ilana.

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  • http://tecnologia.uol.com.br/enquetes/2014/05/16/voce-ja-viveu-um-fim-de-relacionamento-anunciado-por-meios-digitais-sms-facebook-twitter-whatsapp-e-mail-etc.js

O estudo deu origem ao livro “The Breakup 2.0: Disconnecting over New Media” (“O Término 2.0: desconectando-se pela nova mídia”, em tradução livre), ainda não lançado em português.

Outras pesquisas mais atuais (porém mais “informais”) já demonstram uma maior tolerância à prática, embora a dor de ser vítima dela ainda persista.

Uma delas foi feita pela Vouchercloud.net com 2.712 pessoas entre 18 e 30 anos. Ela mostrou que 56% dos entrevistados terminaram via redes sociais, mensagens de texto ou e-mail no último ano.  Porém, três em cada quatro deles disseram que ficariam aborrecidos se alguém fizesse o mesmo com eles. 

“Barraco digital”
Embora a aceitação da prática varie entre gerações diferentes, a maneira como ocorre o término digital ainda é decisiva para causar maior (ou menor) dor ao ex. Enquanto uns aproveitam a “facilidade” em dizer adeus por mensagens privadas em redes sociais e aplicativos, outros escancaram para o mundo o fim da relação.

“Terminar é terminar. No fim do dia, você não está mais em um relacionamento. Mesmo assim, as pessoas frequentemente se concentram em como o término ocorreu [em vez dos motivos]”, afirma a professora Ilana.     

São os “barracos digitais”: a mudança surpresa do status para “solteiro” no Facebook, o post no Instagram com o ex “cortado” da foto ou o tuíte anunciando a separação devido à traição do parceiro.

“Isso não é um término, é uma exposição. É avisar ao mundo que ‘estou solteiro’. Mostra que quem termina não está muito preocupado com o outro e quer atingi-lo de alguma forma”, avalia Luciana, psicóloga do NPPI.$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-lista','/2014/leia-mais-sobre-vida-digital-1400263570196.vm')

É o fim
Terminar digitalmente pode ser mais fácil do que presencialmente, mas também há contras nessa prática. A “cicatrização do coração” do seu ex tende a ser mais rápida se o fim ocorre cara a cara – isso pode ser muito mais vantajoso para quem não deseja lidar com pedidos de segunda chance ou “barracos” (digitais ou tradicionais mesmo).

“Quanto mais presencial esse processo, mais fácil ele será entendido por quem tomou o fora”, destaca Luciana.

Quando o fim chega, é recomendável cortar as relações digitais com o ex, ainda que isso seja difícil em alguns casos (por exemplo, o casal tem muitos amigos ou colegas em comum nas redes sociais).

“O ideal é não saber mais dessa pessoa até ‘cicatrizar’. Quanto menos eu sei, menos eu sofro. Você não fica sabendo se o ex saiu com outra pessoa, o que anda fazendo da vida, evitando uma série de ligações e fantasias na sua cabeça que nem sempre são verdades.”