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Uso do WhatsApp por crianças impõe desafio aos pais; saiba como lidar

Com proliferação de smartphones, pais sabem pouco o que passa na vida virtual dos filhos - Getty Images
Com proliferação de smartphones, pais sabem pouco o que passa na vida virtual dos filhos Imagem: Getty Images

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

02/07/2014 06h01

O uso de eletrônicos (realmente) pessoais tem tornado cada vez mais difícil a missão de saber o que os filhos fazem na internet. Para piorar a situação, as crianças têm usado aplicativos de comunicação cada vez mais restritos, deixando os adultos fora da conversa. Apesar de estarem no Facebook (onde seus pais também têm conta), a conversa entre os mais novos ocorre principalmente em apps de comunicação privados, como WhatsApp e Snapchat.

Esse processo foi gradual. Antes, os computadores eram instalados no ambiente doméstico em áreas de livre acesso. Com o tempo, os dispositivos entraram no quartos das crianças. Mais recentemente, os PCs “encolheram” e viraram smartphones ou tablets, que vão direto para os bolsos e mochilas dos pequenos.

“As estatísticas mostram que cada vez mais as crianças usam tablets e celulares. E esse uso privado escapa do domínio dos pais”, explica Rodrigo Nejm,diretor de prevenção da Safernet, ONG (organização não governamental) que trabalha na promoção de direitos humanos na internet.

Segundo o levantamento TIC Domicílios, feito pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), a segunda faixa etária que mais navega na web por smartphone vai de dez a 15 anos (45%), só perdendo para a faixa de 16 a 24 anos (61%). 

Para tentar solucionar esse “ponto cego” com os filhos, alguns pais optam pela restrição total no uso de aparelhos. No entanto, segundo especialistas, isso pode ser pior, pois as crianças darão algum jeito de burlar as imposições.

Como lidar

Não há uma fórmula pronta de como lidar com o que os filhos fazem no ambiente (virtual) privado. No entanto, há diretrizes que os pais podem seguir para auxiliar seus filhos no universo digital, durante essa fase de transformações - as dicas para aplicativos restritos são bem parecidas com aquelas válidas para computadores.

“O melhor a fazer é ajudar os filhos a criarem uma consciência crítica sobre como devem usar eletrônicos e redes sociais”, explica Nejm.
Para ele, os pais, mesmo que não tenham conhecimento de tecnologia, devem estar próximos aos filhos. “Nenhum pai deixaria seu filho sozinho em uma praça, sem ter certeza de que ele consegue discernir os perigos. O mesmo ocorre com a rede. Os filhos devem ter noção que o conteúdo postado ou compartilhado pode ficar lá para sempre.”

A psicóloga Katty Zuñiga, do NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática) da PUC-SP, reforça a importância de alertar para os perigos e ficar perto dos filhos. No entanto, ela ressalta que esses jovens devem ter seu espaço próprio respeitado."A adolescência é uma fase de construção de identidade, um momento em que ocorre certo distanciamento dos pais", comentou a psicóloga.

Para Katty, os adultos devem trabalhar para estabelecer uma relação de confiança com os filhos, o que envolve limites no uso de tecnologia. Essa tarefa traz a obrigatoriedade de os pais proporem atividades para passar tempo com os filhos, como ir a um parque, fazer exercícios ou praticar algum hobby que as crianças também gostem de fazer.

“Quando existe confiança, os filhos naturalmente comentam. Nessa hora, os pais têm de tomar cuidado para não criticarem. É preciso saber ouvir, envolver-se, entender e conversar”, explica.

Essa forma de agir tem dado resultado com a professora Kellen Bittencourt, 43. Ela diz que a proximidade com a filha de 14 anos tem ajudado a saber mais sobre a vida digital da garota. “Ela mesma pede ajuda em alguns momentos. Em época de prova, por exemplo, ela me entrega o celular e pede para que só devolva o dispositivo após determinado horário”, explicou.

A professora explica que tenta fazer um trabalho de conscientização com a filha, mostrando que a vivência exagerada do ambiente virtual pode trazer graves consequências. A mãe também incentiva que ela faça outras atividades, como praticar esporte ou aprender uma língua.

“Se os pais não procurarem fazer parte do universo desse filho, apenas restringir não vai surtir efeito. Hoje em dia os pais proíbem as crianças, mas acabam ficando longe dos filhos”, disse.

Serviços

Para casos de uso compulsivo de internet, o NPPI, da PUC-SP, oferece um sistema de orientação para os interessados via e-mail (nppi@pucsp.br)

A ONG Safernet conta com um canal de ajuda com plantão especializado. A entidade atende via e-mail ou chat. Os detalhes dos contatos estão disponíveis na página helpline.org.br.