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IDH 2013: Bill Gates defende uso de dados para acelerar melhorias

Fundador da Microsoft, Bill Gates, durante painel do Fórum Econômico Mundial - Jean-Christophe Bott - 24.jan.2014/AP
Fundador da Microsoft, Bill Gates, durante painel do Fórum Econômico Mundial Imagem: Jean-Christophe Bott - 24.jan.2014/AP

Do UOL, em São Paulo

24/07/2014 02h01

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) teve, em sua versão 2013, uma contribuição especial de Bill Gates, criador da Microsoft e da Fundação Bill & Melinda Gates. Nesse relatório do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), divulgado nesta quinta-feira (24), Gates defende o uso de dados como ferramenta para acelerar o ritmo das melhorias.

Confira abaixo, na íntegra, a contribuição especial de Bill Gates.

"Medindo o progresso humano

As realizações da era dos ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) têm sido notáveis: pegando apenas um exemplo, o número de crianças que morrem a cada ano foi reduzido quase pela metade, de mais de 12,4 milhões para 6,6 milhões. Isso não atinge a meta de dois terços incluída nos ODM 4, mas é muito bom para a humanidade.

Com a expiração dos ODM em 2015, a comunidade de desenvolvimento está começando a considerar o próximo conjunto de objetivos globais e como expandir o progresso atual. O secretário-geral da ONU convocou um painel de alto nível sobre o assunto, e uma das prioridades que destacou é uma "revolução de dados". Segundo o painel, para acelerar o ritmo das melhorias, as organizações de desenvolvimento e o governo dos países em desenvolvimento precisam ter acesso a mais e melhores dados.

Poucas pessoas acreditam no poder dos dados tanto quanto eu. Na verdade, eu escrevi a carta anual da Fundação Bill & Melinda Gates em 2012 sobre a importância da medição. De acordo com minha experiência, o slogan de gestão "o que é medido, é feito" é verdadeiro. O simples ato de monitorar indicadores-chave torna muito mais provável que as mudanças nesses indicadores serão positivas. Segundo, a análise das estatísticas de desenvolvimento produz lições que melhoram os resultados com o passar do tempo. Por exemplo: a recente proliferação de sistemas de saúde comunitários nos países em desenvolvimento tem muito a ver com a evidência clara de que os trabalhadores na linha de frente obtêm resultados.

Assim que houver um consenso sobre a importância dos dados e da necessidade de uma revolução de dados, o próximo passo é um maior debate sobre os conteúdos específicos dessa revolução.

Uma prioridade é racionalizar os processos contínuos de coleta de dados. Atualmente, a oferta de dados é extremamente fragmentada, de modo que agentes diferentes costumam contar as mesmas coisas múltiplas vezes, de formas ligeiramente diferentes, ao mesmo tempo que negligenciam a coleta de outras estatísticas úteis. A resposta não é coletar cada peça concebível de dados sobre desenvolvimento econômico e humano, o que aumentaria os custos e levaria a um congestionamento. Precisamos de um mecanismo de coordenação por meio do qual a comunidade de desenvolvimento e os países em desenvolvimento concordem com uma lista limitada de indicadores que valham a pena ser monitorados atentamente.

Uma segunda prioridade é investir na capacidade dos países em desenvolvimento de coletar dados a longo prazo: afinal, os dados de desenvolvimento só têm valor se forem usados nos países pelos autores de políticas. Não devemos lançar uma revolução de dados baseada em uma injeção imensa de dinheiro para coleta de uma grande quantidade de dados em um único ponto no tempo, enquanto o próximo conjunto de objetivos globais entra em vigor. Em vez disso, para uma revolução realmente duradoura, precisamos ajudar os países a contratar e treinar mais especialistas e a investir em seus próprios sistemas para monitoramento dos dados que interessam para eles por muitos anos. Parte disso envolverá considerar seriamente como a tecnologia digital pode melhorar a coleta de dados em países onde as técnicas atuais estão décadas defasadas. Por exemplo: usar um sistema de posicionamento global em vez de uma fita métrica e uma bússola, para estimar a produção agrícola, pode acelerar o trabalho em um fator acima de 10.

Uma terceira prioridade é assegurar que os dados sobre desenvolvimento humano estejam amplamente disponíveis, sirvam de base para as políticas públicas e aumentem a prestação de contas. Isso significa dar aos cidadãos, sociedade civil, doadores, empreendedores e parlamentares pleno acesso aos dados do governo, independente do que os dados sugerem. Também significa assegurar que os especialistas usem os dados disponíveis para tomarem melhores decisões a respeito das políticas.

O benefício de uma revolução de dados é que terá um impacto sobre cada prioridade individual no desenvolvimento e saúde globais. Com melhores dados, os países melhorarão em cada objetivo individual que estabelecerem, quer seja salvar a vida de crianças, melhorar a produção agrícola ou dar poder às mulheres. No final, melhores dados podem significar uma vida melhor para bilhões de pessoas.”