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Swarm, Messenger, Hyperlapse: saiba por que surgem os 'filhotes de apps'

Mensagem de alerta no Foursquare informa que usuário tem de baixar o Swarm para fazer check-ins - Reprodução
Mensagem de alerta no Foursquare informa que usuário tem de baixar o Swarm para fazer check-ins Imagem: Reprodução

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

08/09/2014 08h01

Fazia um tempão que você não “dava um check-in” com o Foursquare e, bem no dia em que resolveu mostrar para os amigos aquele lugar bacana, veio a surpresa: “Agora você deve baixar o Swarm para fazer check-ins”.

O que mais parecia uma pegadinha (do tipo “Rá! Volte duas casas” para fazer algo que antes estava a um toque na tela) é, na verdade, uma tendência entre as grandes empresas de tecnologia. Além do Foursquare, companhias como Facebook, Twitter, Instagram e Google também lançaram seus próprios aplicativos “filhotes”. 

Em inglês, o fenômeno já tem até nome: “Mobile App Unbundling” (algo como “Dissociação dos Aplicativos Móveis”). O termo “unbundling” no mundo dos negócios é usado para definir a ação de separar os preços agregados a um produto ou serviço. Por exemplo, em vez de comprar um eletrônico com garantia de 3 anos (mais caro), o produto é vendido com garantia de 1 ano (mais barato). O consumidor decide se pagará a mais (e à parte) para estendê-la.

Porém, no caso do mundo dos aplicativos, o objetivo das gigantes de tecnologia com essa dissociação não é torná-los “mais baratos”, mas sim descomplicá-los para melhorar a experiência do usuário.

“Os aplicativos têm de ser simples, com funções bem diretas, sem encher muita linguiça. Imagine que a pessoa está na rua, com banda [de internet] limitada. Isso só reforça a necessidade dos apps serem rápidos”, avalia Lucas Longo, diretor-executivo do iai? (Instituto de Artes Interativas).

Além disso, a segmentação permite que um aplicativo ganhe mais recursos, sem se tornar complexo demais. Assim, no lugar de um app que “fala, anda, masca chiclete e canta o Hino Nacional”, você tem um só para falar (várias línguas), um só para andar (em vários ritmos)... e assim por diante. “Às vezes, os apps são tão complexos e têm tantas funcionalidade que dá até preguiça de usar”, brinca Longo.

Na prática

Seguindo essa teoria, o Facebook teria criado o seu “Messenger” para poder oferecer um aplicativo de mensagens instantâneas mais completo do que o recurso existente dentro da rede social. Desde julho, quem quer acessar o chat deve baixar o aplicativo específico.

“O Facebook já é extremamente complexo e o Messenger era apenas uma parte disso. Essa divisão foi polêmica, mas do lado da empresa ela simplifica muito o desenvolvimento do aplicativo. E dois aplicativos se tornam muito mais poderosos separados”, explica Nuno Bernardo, gerente de projetos da Mobi.life, especializada na criação de aplicativos móveis.

4.set.2014 - Lucas Longo, diretor-executivo do iai? (Instituto de Artes Interativas) - Divulgação - Divulgação
"Às vezes, os apps são tão complexos que dá até preguiça de usar", brinca Lucas Longo, do instituto iai?
Imagem: Divulgação

No caso do Foursquare e Swarm, a separação é uma estratégia de negócio. “Eles acabaram separando em dois aplicativos os nichos diferentes de usuários que tinham: quem queria dicas de locais legais e quem queria dar check-in. Isso ajuda a ‘vender’ essas bases de usuários a investidores e empresas que buscam parcerias mais específicas”, considera Bernardo.

O Instagram, por sua vez, apresentou o Hyperlapse logo após ter lançado uma versão com mais recursos de edição de fotos no seu aplicativo principal (e são tantas ferramentas de saturação, brilho, nitidez, destaques, sombras, vinhetas que o usuário fica até tonto). O app permite fazer vídeos em “timelapse”, ou seja, você grava um trecho longo e depois acelera a exibição, criando um efeito bem bacana. 

Se tivesse embutido essa função no aplicativo principal, provavelmente a rede social teria de criar o tutorial “Como usar o Instagram em 50 passos”. Sem mencionar que esse é um recurso de vídeo, algo acrescentado apenas recentemente no aplicativo "mãe". (Inclusive, para concorrer com os vídeos de 6 segundos do Vine, o “filhote” do Twitter que já sustenta marmanjos mundo afora.)

O Google talvez seja o mais antigo exemplo do “unbundling”, com aplicativos separados para mapas, rede social, tradução, buscas etc. Recentemente a empresa desmembrou o app do Google Drive em três “filhotinhos”.

O Documentos, para edição de textos, e o Planilhas, para edição de tabelas e gráficos, já estão disponíveis desde o fim de abril. Falta a empresa liberar o Apresentação, aplicativo semelhante ao Power Point. Quando você tenta imaginar um único aplicativo tentando cumprir todas essas tarefas em um só lugar, a estratégia da dissociação faz todo o sentido.

Filhotes ou gremlins?

Apesar de a tendência da dissociação de apps parecer ótima para as grandes empresas de tecnologia, para o usuário fica a sensação de que jogaram água no seu mogwai – e os aplicativos se multiplicaram como gremlins no smartphone. Ou seja, é como se mais uma dezena de apps fossem ocupar o (escasso) armazenamento do smartphone e bagunçassem (ainda mais) nossas telas.

Nuno Bernardo, gerente de projetos da Mobi.life, especializada na criação de aplicativos móveis - Divulgação - Divulgação
Nuno Bernardo, da Mobi.life, diz que um ponto negativo da tendência é maior consumo de memória e processamento em smartphones mais antigos
Imagem: Divulgação

Ainda assim, os especialistas consultados pelo UOL veem mais vantagens do que desvantagens para os usuários. “No caso de quem usa Android, o Facebook Messenger melhorou a experiência que as pessoas tinham com os chat heads, que ficaram muito mais dinâmicos”, comenta Bernardo sobre os círculos que mostram foto de um contato da rede social e dão acesso direto às suas mensagens.

Sobre a questão do armazenamento, explicam os entrevistados, o espaço “comido” na instalação depende do tipo de cada app. Há programas que gastam pouco espaço em disco, mas consomem muito cache (memória temporária para realizar tarefas e salvar históricos).

O problema real, diz Bernardo, é que o dispositivo precisará alternar entre aplicativos -- no Facebook, por exemplo, você toca no ícone de mensagens e abre o Messenger. Isso acaba deixando mais apps abertos em segundo plano. “Essa característica consome memória e processamento. Smartphones mais antigos podem ficar lentos.”

Apesar das mudanças, as pessoas vão ter de se acostumar em ficar alternando entre aplicativos de uma forma ou outra. “É como qualquer mudança. Lembra quando o Facebook mudou seu design e criou a linha do tempo? Houve reclamação porque as pessoas são resistentes, mas acabam se adaptando”, diz Longo.